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O que o Botafogo espera com os irmãos Moreira Salles no controle do futebol

Irmãos Walter (esq.) e João Moreira Salles posam para ensaio fotográfico no RJ - Leonardo Aversa/Agência O Globo
Irmãos Walter (esq.) e João Moreira Salles posam para ensaio fotográfico no RJ Imagem: Leonardo Aversa/Agência O Globo

14/12/2018 06h35

Não é novidade para ninguém que o Botafogo passa por uma grave crise financeira. E não é de hoje. A possibilidade dos irmãos Moreira Salles injetarem mais dinheiro e apostarem no departamento de futebol, isso após um estudo que está sendo desenvolvido pela empresa de auditoria Ernst & Young, causou um frisson na torcida. Mas é preciso de calma, até porque "não será de um dia para o outro" que a atual dívida estipulada em cerca de R$ 700 milhões diminuirá bruscamente ou deixará de ser uma dor de cabeça para o clube.

A frase destacada acima foi dita pelo ex-presidente do Botafogo e atual vice-presidente geral, Carlos Eduardo Pereira, em entrevista à Rádio Globo. O dirigente não escondeu a realidade aos botafoguenses: os caminhos são mais sinuosos do que o que se popularizou, sobretudo nas redes sociais.

- Não colocaria como salvação, mas como expectativa. Pessoas do potencial financeiro do João e do Walter contratarem empresa de grande porte significa que estão analisando com seriedade e responsabilidade, um ótimo sinalizador. Não tenha dúvida que é uma possibilidade. Eles não querem aparecer, têm perfil reservado. Acho que não deve ser coisa imediata, alguns na internet estão tratando como algo muito imediato, mas todos devem entender que é negociação, apresentação de modelos, vai envolver toda uma parte profissional, não vai acontecer de um dia para o outro. É fundamental a torcida continuar apoiando, adquirir planos de sócios, que acabaram de ser lançados e não tiveram boa receptividade, apesar de os preços serem altamente convidativos. É a torcida seguir apoiando o clube, todos nós apoiaremos medidas favoráveis ao Botafogo e que representem recuperação financeira e esportiva - disse CEP.

Outro ex-presidente e influente nos bastidores do Glorioso, Carlos Augusto Montenegro se mostrou mais otimista em relação a como o Botafogo pode ser dirigido nas próximas temporadas. Montenegro se animou com a possibilidade do clube tornar-se uma empresa, com João Moreira Salles e Walter Salles como acionistas. E explicou o rascunho da "Companhia Botafogo".

- Vou mostrar como seria a salvação. O Botafogo tem uma dívida entre R$550 a R$700 milhões. Não dá para saber o valor certo porque todo dia paga-se dívida. Uma parte trabalhista está no Ato. Uma parte de tributos está no PROFUT. Outra envolve a parte cível como PJ de jogadores, fornecedores. Com dinheiro em mãos tem como negociar e baixar a dívida pela metade talvez. Essa é a primeira parte. A segunda seria colocar um capital de giro na empresa. Para poder sobreviver, certas receitas foram adiantadas como Carioca de 2019, parte do Brasileiro de 2020. Tem que limpar isso para a receita voltar a entrar. Nesse caso, entraria na Companhia Botafogo o sócio-torcedor, Nilton Santos (com aluguel de placas, Naming Rights, lanchonete, camarotes), jogadores da base e profissional, material esportivo e TV, em troca os irmãos assumiriam a dívida. Teriam que dar X% ao Botafogo também para o custeio do clube social e talvez o remo, que é o único esporte que o Botafogo tem que se preocupar por causa do estatuto. O resto não tem obrigação. Basquete, Vôlei, Pólo Aquático faz se fabricar verba. O Botafogo já fez "220 auditorias" e todo mundo está careca de saber das dívidas e problemas. Contrataram uma empresa grande para estudarem um modelo de governança na Companhia Botafogo, modelo de convivência do clube com direitos e deveres de cada lado - disse Montenegro, em entrevista à Rádio Tupi, também nesta semana.

- O receio deles (Moreira Salles) é fazer o investimento, aportarem o dinheiro, limpar a vida do Botafogo e amanhã aparecer um maluco dizendo que não queria isso e voltar ao que era antes. Não pode fazer isso! Tem que respeitar o contrato. Esse estudo está previsto para acabar no fim de março. Quando estiver pronto vão apresentar aos irmãos Moreira Salles. Eles topando o próximo passo é se reunir com a diretoria e mostrar como vai ser. Acho q nem precisa de negociação. Tem coisas que não podem mudar como uniforme, bandeira, hino e cores. Nem acredito que eles queiram mudar também. O formato está sendo visto independentemente de nomes. O modelo precisar se perpetuar e o clube crescer a partir daí. É um espelho de clubes de fora como Chelsea, Manchester City, Juventus. Não precisa inventar a roda - completou.

PROJEÇÕES PARA 2019

Uma venda como a de Matheus Fernandes, por 3,5 milhões de euros (cerca de R$ 15 milhões) para o Palmeiras, por 75% dos direitos econômicos do volante, era necessária para aliviar os cofres do Botafogo. E é possível que haja outra saída, como a do valorizado Igor Rabello, nesta janela. Já em relação a compras, não dá para imaginar investimentos consideráveis; empréstimos, como em 2018, são os rumos mais prováveis quanto a reforços.

Dá para afirmar que o próximo ano deve ser menos sufocante financeiramente. Também à Rádio Globo, Luis Felipe Novais, vice-presidente financeiro do Botafogo, teceu a respeito da proposta de orçamento para a temporada 2019, encaminhada para a ciência do conselho fiscal - para, em seguida, ser votada no conselho deliberativo.

- O que posso dizer para tranquilizar a torcida é que o orçamento foi feito, foi reduzido em relação ao ano passado, temos uma previsão menor de receitas e de despesas, mas estamos fazendo de forma totalmente transparente. Há risco de não cumprir? Obviamente que há. Mas fomos os mais rigorosos possíveis, conservadores. Gostaria de deixar a torcida confiante, é um trabalho bastante sério da equipe financeira, que trabalhou bastante - salientou Novis.

A tendência é que o Botafogo tenha uma receita de até R$ 230 milhões em 2019, dependendo de variáveis, como vendas de atletas, captação de recursos, premiações de campeonatos.

SOBRE O CT

Ainda sem data para ser finalizado, o novo CT do Botafogo, situado em Vargem Pequena, mais precisamente no Espaço Lonier, não será o local da pré-temporada do time de Zé Ricardo, mas, sim, no Estádio Nilton Santos - onde habitualmente já realiza os treinos. A expectativa interna é que a base faça a sua mudança definitiva na metade do próximo ano. Os profissionais, de maneira gradual, passariam a treinar por lá em seguida.

Como a crise financeira afetou no cronograma de utilizar o CT já em janeiro, as obras seguirão a passos lentos. Há seis etapas definidas quanto ao projeto, que contará com sete campos. Os gramados devem estar aptos em abril.

O CT, cabe destacar, contou com uma doação inicial dos irmãos Moreira Salles, na casa dos R$ 5 milhões, mas que pode ultrapassar os R$ 25 milhões a partir de 2019 - este número final era oriundo de um empréstimo, aprovado em julho de 2017 pelo conselho deliberativo e que seria quitado em 30 anos. Ou seja, este é outro respiro para um clube sufocado.