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Como Tite virou parte de plano para "salvar" a seleção brasileira de futsal

Tite conseguiu seis vitórias em seis jogos com a seleção brasileira de futebol de campo. Agora, é aposta em reestruturação do futsal - Reprodução/UOL
Tite conseguiu seis vitórias em seis jogos com a seleção brasileira de futebol de campo. Agora, é aposta em reestruturação do futsal Imagem: Reprodução/UOL

Guilherme Costa e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

12/01/2017 04h00

Tite mudou a seleção brasileira. Em apenas seis partidas, o treinador de 55 anos acumulou seis vitórias, encaminhou a classificação para a Copa do Mundo de 2018 e resgatou grande parte do que a equipe nacional havia perdido no relacionamento com os torcedores. Agora, o “toque de Midas” do técnico virou aposta em outra equipe nacional. É ele uma das esperanças de um projeto de renovação do futsal canarinho, agora comandado por Paulo Cesar de Oliveira, o PC, 56.

Apresentado na última semana, PC foi reconduzido ao comando da seleção brasileira para tentar resgatar o orgulho do futsal nacional. Tem como principais argumentos para isso o passado vencedor (trabalhou com a equipe de 2005 a 2009, com 149 vitórias, cinco empates e somente um revés em 155 partidas, além do Mundial de 2008) e o relacionamento com Tite.

Os dois treinadores foram contemporâneos de Corinthians – PC no futsal e Tite no campo. Mantinham relação cordial desde essa época e se reencontraram recentemente na sede da CBF (Confederação Brasileira de Futsal). Conversaram rapidamente, e o novo comandante da equipe das quadras pediu ajuda. Recebeu uma resposta positiva.

Na ocasião em que o encontro aconteceu, Tite estava com Edu Gaspar, ex-gerente de futebol do Corinthians, que atualmente é coordenador-técnico da seleção brasileira. Os dois ofereceram a PC a estrutura da Granja Comary, a expertise da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em uma série de departamentos e itens como os softwares de análise de desempenho usados pela equipe de campo.

“O PC teve uma conversa com o Tite e com o Edu Gaspar. A CBF tem uma pujança financeira que dá capacidade de investir em software e tecnologia que a gente não tem. Além disso, há um know-how de futebol”, comentou Bernardo Caixeta, responsável pelo marketing da CBFS (Confederação Brasileira de Futsal).

Segundo o UOL Esporte apurou com pessoas ligadas à CBFS, a colaboração de Tite e Edu Gaspar com o futsal ainda está em estágio preliminar. Existe uma boa vontade e há ideias na mesa, mas nenhum plano foi elaborado e não existem ações concretas nessa linha.

Até por esse estágio incipiente, profissionais ligados à seleção brasileira de futebol de campo têm evitado fazer declarações sobre o assunto. Procurado pela reportagem, Edu Gaspar disse apenas que “está entendendo melhor as necessidades do futsal” e que “o auxílio será dado, independentemente dos departamentos”.

A aproximação entre PC e a dupla Edu/Tite é, na verdade, parte de um plano maior. A CBFS tem tentado de diversas formas estabelecer um canal de comunicação com a CBF. “É uma parceria de duas mãos, sem perda de autoridade, com cada um fazendo sua parte. Havia uma distância muito grande, e a ideia é que isso não aconteça mais”, disse Marcos Madeira, presidente da entidade responsável pelo futsal, em entrevista coletiva.

CBFS enfrenta dívida, problemas estruturais e boicote de atletas

Eleito em 2015, depois de Aécio Borba Vasconcellos ter renunciado ao cargo, Madeira tem bom trânsito com Marco Polo del Nero, presidente da CBF. Estreitar a relação com a entidade ligada ao campo é uma das maiores apostas da CBFS, cuja dívida estava em torno de R$ 6 milhões no ano passado. A confederação está sem patrocinador máster desde 2013, e atualmente tem apenas Travel Ace, Futura Sports e Penalty (fornecedora de material esportivo) como apoiadores.

A crise também permeia o trabalho na quadra. O ciclo que culminou no Mundial de 2016 foi marcado por sucessivas trocas de técnicos, boicote de jogadores e participação da seleção em raras competições de alto nível. O resultado: derrota para o Irã nas oitavas de final e a pior campanha do time sul-americano na história do torneio.

Falcão, melhor do mundo em 2004 e 2008 e homenageado pela Fifa na última segunda-feira (08), era o principal nome da seleção no Mundial do ano passado. No entanto, a participação dele no futuro é uma incógnita: o ídolo é crítico da administração de Madeira e já falou em recusar convocações.

É por esse cenário que PC falou de forma dura no evento em que foi apresentado como novo técnico da seleção brasileira. “Precisamos criar um modelo no Brasil. O futsal brasileiro foi estuprado nos últimos anos. Temos de buscar conhecimentos porque estamos com um processo atrasado”, disse o técnico.

A reformulação proposta pelo treinador passa pela montagem de uma comissão técnica multidisciplinar. Além disso, a seleção será dividida em dois grupos (um formado por jogadores que atuam no país e um composto por atletas que estão na Europa). A ideia é fazer convocações separadas e reunir os atletas apenas em situações específicas. Assim, a CBFS poderá trabalhar com um leque maior de jogadores e reduzir os custos de viagem.

“A situação é precária. Estamos precisando de ajuda logística e administrativa. Vamos reconstruir tudo isso, mas precisaremos buscar recursos”, disse PC.

O Brasil é o único país do mundo em que a seleção de futsal não é vinculada à mesma entidade que cuida do time de campo. A CBFS surgiu em 1979, egressa da CBD (Confederação Brasileira de Desporto), e tem um elemento extra para sofrer na captação de recursos: como a modalidade não é olímpica, não há acesso a recursos federais como Lei Agnelo/Piva.