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Prata de Hypolito no Rio saiu em meio a crise e racha com chefe da seleção

Diego Hypolito com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio - Reuters
Diego Hypolito com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio Imagem: Reuters

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

08/01/2017 04h00

Depois de frustrações em Pequim-2008 e Londres-2012, Diego Hypolito conseguiu sua redenção no Rio de Janeiro em agosto do ano passado e ganhou a prata no solo, a primeira medalha olímpica de sua carreira. A conquista, porém, ocorreu em meio a uma crise de relacionamento e um racha com Renato Araújo, chefe da seleção na época e seu treinador pessoal até 2014.

Na visão de Renato, Diego não deveria estar na Olimpíada por não ter alcançado suas metas nas avaliações classificatórias, mas uma reunião com integrantes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e outros membros da comissão técnica selou a ida do veterano. O treinador preferia uma equipe mais forte a um ginasta que poderia render bem apenas no solo e no salto.

A polêmica que vem à tona agora foi abafada durante toda a preparação e a competição para não atrapalhar o desempenho de Diego e da própria seleção masculina, que teve desempenho histórico e saiu da Olimpíada com três medalhas.

"Tive de aceitar uma situação pois não queria briga. Poderia ter chutado o balde, não aceitar e sair fora, mas nunca tive este perfil ditatorial. Chegamos a um acordo com o COB para colocar o Diego na equipe pensando na expectativa que eles tinham de brigar pelo maior número de medalhas. Depois que isso foi decidido, eu só quis abafar a polêmica, para deixar o grupo livre dela. Engoli em benefício do grupo", disse Renato em entrevista ao UOL Esporte.

O racha nos meses anteriores aos Jogos culminou com a ida de Diego para São Caetano do Sul para treinar separadamente com Marcos Goto, técnico de Arthur Zanetti, e pouquíssimo diálogo com Renato antes e durante a Olimpíada.

A crise se deu porque Diego se sentiu injustiçado e "boicotado" durante a definição da equipe que iria para o Rio de Janeiro. O ginasta alega que ninguém da comissão técnica da seleção queria que ele fosse à Olimpíada e que o nível de exigência nas avaliações realizadas a portas fechadas era muito maior com ele do que com os outros atletas.

"Tive de fazer dez avaliações e sentia que estava sendo boicotado. Ele (Renato) não acreditava em mim e obviamente não queria me ver lá. As pessoas não acreditavam que eu poderia ganhar uma medalha olímpica. Sempre tinha uma avaliação a mais. Antes da última avaliação, passei mal, chorei, fiquei desesperado", disse Hypolito em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN.

"Quem me colocou na Olimpíada foram o Marcos Goto e o Jorge Bichara (gerente de performance do Comitê Olímpico)", disse. "Mas eu não julgo o Renato. Ele foi o principal treinador da minha carreira. Me fez campeão mundial e finalista olímpico. Mas na reta final, não tive um perfil tão positivo com ele", completou Hypolito. Na entrevista à ESPN, o ginasta declarou ainda que a comissão técnica da seleção queria que ele atingisse uma nota muito difícil dele alcançar: 15,700. Diego foi medalha de prata com a nota 15,533. Medalhista de ouro, o britânico Max Whitlock tirou 15,633.

Diego Hypolito e Renato Araújo quando trabalhavam juntos em 2013 - Divulgação - Divulgação
Diego Hypolito e Renato Araújo quando trabalhavam juntos em 2013
Imagem: Divulgação

O sentimento é mútuo. Renato revela descontentamento com as atitudes de Diego e diz que em nenhum momento o boicotou no processo seletivo para a seleção olímpica.

"Nossa avaliação foi muito bem feita e com critérios claros. O Diego foi quem mais teve oportunidades e colocamos como meta no solo a nota 15,700. Sem isso, é impossível brigar por uma medalha. Mas em nenhuma avaliação chegou nesta nota, nem em competições oficiais em 2016. E tínhamos a ideia de levar uma equipe forte e por isso ele estaria fora", disse o treinador. 

"Mas depois que teve o acerto com o COB, a única coisa que eu pedi foi que o Diego treinasse com o grupo na reta final. Tivemos um torneio amistoso na Suíça em julho e não sei porque 'cargas d'água' ele não foi e decidiu ir treinar com o Marcos. Fui treinador dele por quase 20 anos e ele me informou isso por uma mensagem de Whatsapp. Poderia ter falado cara a cara. E a relação ficou desagastada", complementou.

"Ficaram dois atletas de um lado (Hypolito e Zanetti em São Caetano) e três (Arthur Nory, Francisco Barreto e Sergio Sasaki) de outro. E isso é ruim, porque sempre gosto de fazer treinos juntos. Mas por estar chateado comigo, o Diego se fechou com o Marcos. Mas ninguém faz atleta em 45 dias. A ginástica é um esporte complexo, não é bolinha de gude", disparou Araújo.

Treinador deixou a seleção após a Olimpíada

Encerrada a Olimpíada, Araújo deixou o cargo de treinador chefe da seleção para cuidar de outros projetos. Hoje, mora em Burlington (CAN) com a namorada canadense e dá treinos em um clube de ginástica local. Não tem planos de voltar ao comando do time nacional.

"Depois que acabou a minha passagem, fiz um relatório para a Confederação com todas as minhas observações e inclusive apontei que o Cristiano Albino tem totais condições de ocupar meu cargo e o Leonardo Finco deve seguir como coordenador", afirmou.