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Filho de Hortência prefere futebol e quer disputar Olimpíada no hipismo

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

27/03/2014 12h00

A trajetória esportiva de João Victor Marcari Oliva, 18, foi moldada por referências. O garoto tornou-se palmeirense, por exemplo, porque gostava de jogar futebol como goleiro e admirava o pentacampeão mundial Marcos. No hipismo, escolheu o adestramento por influência de Rogério Clementino, 30, com quem treina até hoje. Entre tantas participações externas, ele só ignorou uma presença muito mais próxima. Filho de Hortência, campeã mundial e medalhista olímpica com a seleção brasileira de basquete, o paulistano não gosta de jogar com a bola laranja. O sonho dele é outro: disputa os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, com a equipe brasileira de hipismo.

João Victor disputa competições de adestramento desde 2008, quando conquistou o Campeonato Paulista e o Brasileiro amador montando Trunfo. Em fevereiro deste ano, estreou em competições internacionais e esteve nos Jogos Sul-Americanos do Chile. O filho de Hortência obteve a segunda melhor nota da equipe brasileira, que ficou com o título coletivo. No individual, obteve uma prata (intermediário) e um ouro (freestyle).

“Foi bem gratificante. Depois que você vê o resultado, dá uma alegria muito grande. É claro que não são coisas que se devem só a mim e ao meu cavalo, mas a todas as pessoas que estão por trás, desde o veterinário até o tratador que limpa as cocheiras. Tem muita gente. Até meu pai, que é quem patrocina. Eu me mudei para Sorocaba neste ano para poder treinar mais. Treinava quatro vezes por semana, e agora são seis. Escolhi isso e foquei bastante para ter um bom resultado”, contou João Victor em entrevista ao UOL Esporte.

O primeiro contato de João Victor com os cavalos deu-se por outra influência: ele é filho do empresário José Victor Oliva, que é amante de cavalos, tem um haras em Araçoiaba (SP) e sempre participou de exposições.

Rogério Clementino, um dos tratadores de Oliva, começou a montar um cavalo menos importante e rapidamente cresceu no cenário nacional. Dez dias antes dos Jogos Pan-Americanos de 2007, após a desistência da amazona Pia Aragão, ele herdou uma vaga na equipe brasileira. Foi o 12º colocado no individual, com 63.600 pontos.

Um ano depois, teve a chance de ser o primeiro cavaleiro negro na história a representar o Brasil em Jogos Olímpicos. Ele conseguiu índice para Pequim-2008, mas juízes responsáveis pelos exames veterinários vetaram o cavalo Nilo e alijaram o conjunto da competição.

Foi Rogério Clementino o responsável por João Victor começar a praticar o adestramento. “Ele virou meu professor e me ajudou desde que eu era moleque. Foi uma pessoa que me inspirou muito”, contou o aluno.

Em Sorocaba, João Victor divide um apartamento com um primo mais velho. Ele estuda em dois períodos (de manhã e à tarde) e treina à noite. Além disso, tenta tirar habilitação para dirigir e gosta de jogar futebol.

“Gosto bastante de futebol. Jogo bastante. Agora, como não tenho nenhuma competição próxima, jogo sempre que possível”, disse o cavaleiro. O pai de João Victor é são-paulino. A mãe, corintiana. No entanto, o coração do garoto escolheu o Palmeiras. E um dos responsáveis por isso é o goleiro Marcos: “Quase ninguém com quem eu convivo é palmeirense. Vejo mais pela televisão. Já fui a estádios, mas agora vou pouco”.

Outro esporte que João Victor acompanha pela TV é o basquete. Mas só pela TV: “Vejo NBA e essas competições mais importantes, mas não me vejo jogando. Não gosto”.

A despeito de não gostar de jogar basquete, João Victor tem bom relacionamento com a mãe. Ela deu muito apoio quando ele decidiu morar em Sorocaba, por exemplo. “Não tomo muita bronca”, disse o cavaleiro, que é disciplinado com horários e até conseguiu melhorar na escola após ter repetido o nono ano.

“Eu venho tendo boas notas. Neste ano está um pouco difícil porque eu faço 18 anos, vou tirar carta e treino três ou quatro cavalos por dia. É difícil ter tempo para estudar fora da escola”, afirmou João Victor.

O programa de treinos do cavaleiro é voltado, no curto prazo, aos Jogos Equestres Mundiais (na Normandia, em 2014) e aos Jogos Pan-Americanos (em Toronto, em 2015). Mas o principal sonho do filho de Hortência é disputar os Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro.

“A Europa é muito forte no adestramento. Acho que uma medalha agora em 2016 é muito difícil, quase impossível. Mas entrar para ganhar experiência e estar entre os 20 melhores eu acho que dá para buscar”, finalizou João Victor. Referências para isso ele tem.