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Como a égua Fofoca e o hipismo mudaram a vida da família de Diego Souza

Amazona Luciana Iunes e a égua Fofoca posam após treinamento - Luiza Oliveira/UOL
Amazona Luciana Iunes e a égua Fofoca posam após treinamento Imagem: Luiza Oliveira/UOL

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

19/04/2018 04h00

Fofoca surgiu na família de Diego Souza há dois anos e já chegou ocupando seu espaço. A dócil égua de 6 anos nasceu em Recife, mas encarou uma viagem de três dias e uma adaptação difícil para não sair de perto e viver com a família em São Paulo. Hoje, ela representa bem mais que o presente do jogador para a sua mulher Luciana Iunes. Virou xodó dos filhos e fiel companheira de Luciana nas competições de salto que ela disputa pelo país.

A amazona descobriu o amor pelos cavalos ainda pequena e logo cedo percebeu que montar e saltar era o seu propósito de vida. Mas entrou na faculdade, casou, teve filhos e o destino tomou outro caminho. Só 12 anos depois, quando voltou da Ucrânia para o Rio, se reencontrou no hipismo. E foi em Recife que ela virou atleta e conheceu Fofoca porque o seu antigo companheiro Astro já não a acompanhava mais nos saltos de 1m. A parceria virou casamento. "Gosto dessa identificação que tenho com ela. É um casamento. Eu e ela a gente combina. Você pode montar um cavalo que não bate, e não adianta. É melhor trocar".

Mas nada é rotineiro na família de um atleta de futebol. Nova mudança à vista. Em janeiro deste ano, Diego foi contratado pelo São Paulo e logo lançou a primeira pergunta: ‘E a Fofoca?’ ‘Vamos levar’. Luciana não desanimou com as dificuldades para transportar um animal daquele tamanho. Correu para ver documentação, vacinas, contratar um caminhão e um cuidador. E lá foi Fofoca rumo a uma viagem cansativa de três dias para percorrer os 2700 quilômetros que separam a capital pernambucana da paulista.

“Quando ela chegou, fiquei esperando. No caminho, falaram: ‘estamos chegando, vem para cá’. Eu achava que ela tinha que saber que não estava chegando sozinha, desamparada. Falei: ‘vou para lá porque ela vai escutar a minha voz e vai saber que eu estou esperando por ela’. E foi o que aconteceu”, disse.

A adaptação não foi fácil. A égua pernambucana estranhou um pouco o clima de São Paulo, os treinos mais puxados e sentiu saudades da antiga casa. Sofreu e pediu cuidados especiais. “O tratador ficou uma semana aqui passando tudo. Não veio de paraquedas não. Veio, trouxe a ração que ela comia para misturar com a daqui, para trocar a comida. Aí o veterinário de lá entra em contato com o daqui e fala: ‘olha, esse é o histórico’. Igual pediatra. Ela estranhou muito. Ficou bem sentida, perdeu peso, veterinário de olho tendo que olhar todos os dias, fazendo exame de sangue porque caiu a imunidade, igual a gente, impressionante. Fiquei preocupada, vinha todo dia ver”, conta.

Mas Fofoca mostrou que é forte e se recuperou. Hoje tem vida de atleta e tratamento especial como banho e massagens. Participa de competições importantes nos campeonatos amadores da categoria A com Luciana por todo o estado de São Paulo. Elas já até mudaram de classe e passaram da altura 1 m para 1’10 m. O próximo passo é saltar a 1’20 m. Não à toa, a conexão entre as duas é fundamental.

Luciana está sempre presente e tem o mesmo compromisso que tem com os filhos e o marido. “Eu sou o tipo que gosta de dar banho, gosto de estar perto, fazer as coisas”, conta. “Ela não fala, mas eu sei que nem todo dia ela está bem. Só de eu montar eu sei se ela está bem, o jeito dela, a gente começa a observar, ela sabe se hoje eu estou cansada, se hoje é só para passear, se hoje eu estou afim, se não estou afim. É um casamento. Ela estava ferrando hoje e eu passei. Ela escutou a minha voz e já relinchou, levantou a orelha, sabia que eu estava passando. Eu converso, quando estou montando, até em prova fazendo percurso eu canto, brigo com ela, falo: ‘presta atenção, Fofoca’. Então vou batendo papo”.

Amazona Luciana Iunes e a égua Fofoca posam após treinamento em hípica - Luiza Oliveira/UOL - Luiza Oliveira/UOL
Imagem: Luiza Oliveira/UOL

O amor pela égua foi passado também aos filhos e Davi e Manuela, que amam o esporte. O pequeno está um pouco afastado porque sofreu um acidente, mas Manu adora. Ajuda a dar banho, cuida e tem carinho especial pela Fofoca que será sua no futuro.

“Minha filha fala: ‘daqui a uns anos quando você estiver saltando mais alto eu que vou pegar a Fofoca’. Ela não segura a Fofoca ainda porque é muito forte. Eu falo: ‘então treina bastante, que daqui a dois anos ela vai ser sua’. A partir de hoje ela já está contando. É uma expectativa”.

Vida de atleta e mudança de rotina na casa

Assim como sua fiel escudeira, Luciana também leva vida de atleta. Tem treinos regulares diariamente e leva muito a sério o esporte para melhorar a cada dia. Sua grande inspiração é a técnica Andrea que uma atleta muito competitiva, chega a saltar 1’60 m de altura e é bastante exigente. Luciana ainda se divide em mil para continuar se dedicando à família. Hoje, ela flexibiliza a sua rotina de acordo com a agenda de treinos, jogos e viagens do marido. E conta muito com o apoio dele.

“O apoio dele é muito importante para mim. Ele vem sempre que pode. Quando não está, liga, quer saber como foi, se já treinou. Ele é muito competitivo no trabalho e me cobra muito. Eu falo: ‘ah... to nervosa’. Ele: ‘Não tem tempo para ficar nervosa. Vai dar tudo certo. Você treinou, a Fofoca é boa, então vai fundo’”, conta.

O hipismo transformou um pouco a vida da família. Luciana hoje entende melhor os momentos de pressão de Diego e até se livrou do rótulo de ser esposa de um jogador de futebol ou de ser taxada como a "mulher do Diego Souza". “Engraçado que as pessoas me perguntam: ‘o que você faz? Vai ao shopping?’. ‘Eu não, sou atleta de hipismo’. ‘Oi? Como assim?’. As pessoas criam rótulos, mas não imaginam como é o dia a dia da pessoa. Eu acho que sou a única esposa de jogador que é atleta de hipismo, então gera curiosidade das pessoas”.

O reencontro com a paixão

Mas demorou para esse momento chegar. Luciana se apaixonou por cavalos aos 5 anos porque a família tem fazenda no interior de Minas Gerais. Aos 13, ela começou a treinar no exército em Realengo, no Rio de Janeiro, e a competir. Mas quando chegou à idade adulta, começou a cursar faculdade de zootecnia e precisou trabalhar. Pouco depois, aos 23 anos, se casou com Diego, teve filhos e mudou 20 vezes de cidade acompanhando o marido. O hipismo saiu de cena. Considerou até natural abdicar do sonho e achou que nunca mais competiria. Mas o coração voltou a palpitar quando morava na Ucrânia porque Diego jogava no Metalist. Logo que voltou para o Rio de Janeiro, não aguentou e procurou uma hípica.

“Engraçado que em qualquer lugar em que eu estivesse eu via um cavalo e pensava: ‘Nossa, é isso que eu sei fazer’. Mas ficava morto dentro de mim. Até um dia que eu falei: ‘não, vou montar’. Aí fui montar no Rio e fui vendo que dava para conciliar, que era isso que eu gostava, que era isso que eu sabia fazer, pensei: ‘ah não quero parar mais’. Foi maravilhoso, porque muda tantas coisas. ‘Nossa, eu sei fazer, eu posso fazer’, dá incentivo para a vida, para mudar outras coisas”, celebra.