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Chuck Norris pode tudo. Até ajudar brasileiro a virar guru do jiu-jítsu

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

04/03/2014 06h00

Chuck Norris. O cara que contou até o infinito duas vezes, que espirra com os olhos abertos, que causa medo no próprio diabo. E que “permitiu” que um brasileiro virasse queridinho das celebridades em Hollywood dando aulas de jiu-jítsu. Rigan Machado, um carioca de 47 anos, é uma das crias da família Gracie e fez fama por sua invencibilidade no tatame. Mas foi recentemente, como professor da arte suave, que ele criou sua fama, com uma mãozinha principalmente de Norris e também de Ashton Kutscher.

O grande “pulo do gato” de Rigan foi apostar pesado e tentar criar uma clientela exclusivamente de celebridades. E não qualquer tipo de celebridade: astros de Hollywood, músicos, filhos de famosos e até alguns nomes que ele sequer pode revelar. O brasileiro assinou contrato de confidencialidade com alguns dos pupilos para poder ensiná-los os movimentos desenvolvidos por Carlos Gracie – o patriarca da arte suave, inclusive, foi casado com a tia de Rigan.

Mas o que Chuck Norris tem com isso? Tudo, já que se não fosse pelo ator, o mestre brasileiro teria voltado ao Brasil e nunca teria aberto sua academia em Beverly Hills.

“Foi ele quem me legalizou aqui nos Estados Unidos. Eu queria voltar ao Brasil e ele falou: ‘não, vamos abrir a academia, te ajudo a conseguir a legalização’”, conta Rigan, que deu a faixa-preta em jiu-jítsu ao ator ligado à família Gracie desde os anos 1980.

A amizade deixa Rigan ter liberdades que seres humanos normais não costumam ter. “Eu sacaneio ele direto, sempre brincamos. Até porque ele é amarradão nisso tudo que falam dele. Já até me deu um livro com essas piadas. Ele adora, claro, porque enche a bola dele”, conta o carioca, antes de acrescentar. “Mas a gente tem um respeito muito grande por ele. É um senhor já.”

Legalizado, Rigan resolveu então montar uma nova academia de jiu-jítsu. O ponto principal era o “point”: Beverly Hills, morada de muitas celebridades de Hollywood. O problema é que a cidade próxima a Los Angeles é das mais caras e tem grandes burocracias para que se abra um estabelecimento comercial.

Rigan e o jiu-jítsu nas telonas

  • O trabalho com celebridades de Rigan é complementado com uma entrada no meio em que parte destes alunos trabalha. Ele tem participado de filmes de Hollywood, como um consultor nas coreografias de lutas. O brasileiro explica que o crescimento do jiu-jítsu e do MMA influenciaram o cinema e que movimentos das modalidades passaram a fazer parte das cenas de ação.

    "Várias pessoas já vieram e usaram o que aprenderam em filmes. E eu também tenho entrado nisso, participo direto de filmagens. Tudo que tem luta eles têm adicionado jiu-jítsu e geralmente eles consultam mestres para orientar e mostrar o que acontece na realidade, para que eles passem para o cinema. Por exemplo, no 'O Último Desafio', com o Schwarzenegger (na foto deste box), o cara botou ele na guarda e tentou dar um triângulo", disse Rigan.

Com trabalho e um pouco de sorte, ele conseguiu. Mas não a salvo das preocupações. Conhecido por seu trabalho com esporte de alto nível, ele agora precisava mudar o foco para as celebridades e, principalmente, arranjar logo alunos para pagar as despesas. Foi quando apareceu ninguém menos que Ashton Kutscher.

“No começo fiquei com medo, a academia é muito cara. Estar dentro de Beverly Hills é o atrativo, mas é três vezes mais caro. Quando montei falei: ‘como vou pagar, como vou ter aluno para isso? Aí veio uma celebridade, assinou, e pegou. Foi o Ashton”, afirma Rigan. O boca a boca entre as celebridades começou, e atraiu diversos nomes.

Vin Diesel e Paul Walker, conhecidos pelos filmes “Velozes e Furiosos” (o último morreu recentemente em acidente de carro), o seu “amigão” Mel Gibson, Mickey Rourke, Mykelti Williamson (o Bubba, de “Forrest Gump”), Ziggy Marley e outros já passaram pelo seu tatame. A vantagem, brinca ele, é que nunca houve alguém que se recusasse a pagar os US$ 500 por hora de aula ou chorasse por um desconto – o valor baixa a US$ 350 para quem combina um período longo de aulas.

Hoje Rigan tem 25 alunos, todos do campo das celebridades. E ele afirma que quatro não podem sequer ter seu nome falado em público pelo mestre.

“Com quatro celebridades eu que tive de assinar contrato de confidencialidade, porque são grandes, gente de US$ 20 milhões. Me pagando, tá na boa”, diz Rigan. “As celebridades querem privacidade. Então, com dois ou três eu tenho de ir dar aula na casa deles. Eles montam tatame e dou aula lá. Porque senão os paparazzi seguem até a academia e junto vem os curiosos. Não dá para eu chamar a polícia no meio da aula para afastar esse pessoal.”

Se por um lado ele é quem tem de respeitar contratos, por outro quando a aula começa não tem para ninguém.

“Tem celebridades mais difíceis de tratar, sim. Teve um músico que vinha treinar e trazia 20 pessoas com ele. Aí tive que falar: ‘brother, não quero essa gente, precisamos de privacidade’. Tem que saber lidar com a pessoa. ‘E eu falo: isso não é Hollywood, isso é uma academia. Você é aluno e eu sou professor. Para dar certo, você precisa ser aluno’. A maioria gosta, quer ser tratada como ser humano. No começo tem umas que levam tempo, mas depois se soltam e conversa de igual para igual. Isso é legal”, conta o ex-lutador.

“Ashton iria longe no jiu-jítsu”

Ashton Kutscher é um dos principais “garotos propaganda” de Rigan. E, se dependesse do mestre, ele poderia colecionar algumas medalhas entrando no tatame para competir. O ator foi graduado com a faixa azul e logo deverá pegar a roxa.

“O Ashton ia longe se pudesse lutar. Já falei isso para ele, mas o que acontece é que ele tem um contrato muito grande com a Warner Brothers, ganha US$ 1 milhão por semana. Então, a Warner não deixa que ele compita, para evitar que lesões. O risco é grande, ele só treina comigo e com 90% das celebridades é assim, não posso deixar que se machuquem”, explica ele.

Sobre como é conviver de perto com o ator – hoje no papel de Walden Schmidt em Two and a Half Men (Dois Homens e Meio) -, Rigan é só elogios.
“O Ashton é um cara humilde pra caramba, ele é do interior, da fazenda, um cara caseiro. E ele adora o Brasil. É amigo do Luciano Huck há uns três ou quatro anos e adora visitar o país”, conclui o faixa preta.