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"Se maltratarem meu filho gay eu desconto na porrada", diz Popó

Popó durante show da funkeira Ludmilla na boate H.a.i.r - Fred Pontes/Divulgação
Popó durante show da funkeira Ludmilla na boate H.a.i.r Imagem: Fred Pontes/Divulgação

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

15/08/2017 04h00

Na noite da última segunda-feira (14), Acelino Popó Freitas encontrou um de seus seis filhos jogando futevôlei na frente de casa em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. Um dia antes, em entrevista exibida na RedeTV!, um dos maiores boxeadores do país havia contado sobre o momento em que o adolescente revelou que era homossexual.

Em contato por telefone com o UOL Esporte, Popó disse que nunca viu problema na orientação sexual do filho e que continua o amando do mesmo jeito. Mais do que isso, prometeu defender com os próprios braços a segurança do garoto, cujo nome ele preferiu não revelar.

“A sociedade discrimina muito. Tenho certeza que ele vai receber muita rejeição em alguns lugares, mas meu carinho por ele aumentou mais ainda”, disse o ex-pugilista, que fez sua última luta há dois anos. “A gente vê o pessoal na rua batendo, maltratando as pessoas porque elas têm as suas opções. Espero que isso nunca aconteça com ele. E se acontecer, eu vou com a mesma ira pra cima, pra descontar na porrada".

Vindo de um esporte dominado por "machos alfa", Popó afirma que sempre teve a cabeça aberta em relação à sexualidade. Ele teve seis filhos homens, e quando o rapaz de 17 anos o chamou para revelar sua orientação sexual, ouviu como conselho paterno que tivesse cuidado com a exposição na escola e com possíveis represálias.

No meio da entrevista, Popó passou o telefone para o próprio filho. O garoto relatou suas lembranças sobre o dia em que revelou ser gay para o pai: "Eu tinha 15 anos. Ele ficou questionando, não conseguia acreditar. Estava na cara dele, todo mundo falava pra ele e ele não acreditava. Mas depois caiu a ficha".

"Ele aceita o meu namorado", continuou o garoto. "Meu namorado ficou com medo e não queria conhecer meu pai. O boxe é muito machista. Eu também tive um receio. Achei que eu ia apanhar, achei que meu namorado ia apanhar, mas meu pai deu só uma chave de braço nele, de brincadeira".

Aos 41 anos, Popó, que hoje vive da renda do que ganhou no boxe e de dar palestras pelo Brasil, recebe frequentemente o namorado do filho em casa, e permite que o casal passe juntos os fins de semana.

Ele acredita que a imprensa tem contribuído para fomentar e amadurecer o debate sobre sexualidade. “[Essa discussão] está mais madura, mais aberta. A própria mídia, a Globo, está ajudando muito nessa nova descoberta, quebrando um pouco os preconceitos, ajudando as pessoas a saírem de uma situação que pode ser traumática e ajudando famílias a lidarem melhor com o assunto".

O ex-pugilista, que teve 40 vitórias em 42 lutas de boxe, ainda soltou um último elogio ao filho: "Eu acho ele mais macho que os outros cinco. Ele tem mais atitude. Tem que ser muito macho para aguentar outro homem com bafo na nuca dele. Eu mesmo não teria essa coragem toda".

Popó tem uma luta de despedida marcada para o dia 28 de outubro em Belém.