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Após homenagem a Bolsonaro, Robson Gracie demite irmão que votou no PT

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

05/11/2018 15h40

A Federação de Jiu-jitsu do Rio de Janeiro tem vivido dias turbulentos desde que o vice-presidente técnico Reyson Gracie pediu a renúncia do presidente Robson Gracie por causa de uma homenagem feita ao então candidato Jair Bolsonaro. Dias depois, Robson, o mais velho dos Gracies vivos, anunciou a demissão do irmão.

“Ótimo, Reyzinho, vá meu amor. Ninguém aprecia esse teu tesão pelo pessoal que está todo preso pela Lava-jato”, disse Robson em um áudio pelo WhatsApp ao irmão.  “Siga seu caminho em paz, seja o que Deus quiser, mas você não está mais na Federação de Jiu-jitsu do Estado do Rio de Janeiro. Você não é mais [vice] presidente técnico, nem presidente de coisa nenhuma. Beijos e abraços.”

O racha na família aconteceu depois que Robson concedeu uma faixa preta honorária ao candidato do PSL, o que gerou indignação em uma parte da família que repudia o político. Reyson Gracie, o segundo mais velho dos filhos de Carlos Gracie, fundador do jiu-jitsu brasileiro, foi o que vocalizou as críticas mais duras.

“Fui demitido e não quero fazer parte [da federação] enquanto ele estiver lá”, afirmou Reyson, que votou e fez campanha para o candidato derrotado Fernando Haddad, do PT. “Não é nada pessoal, mas ele está ‘p’ da vida.” Reyson disse que vinha evitando contrariar o irmão mais velho, que tem 83 anos, temendo até que ele pudesse ter um problema de saúde em caso de briga. “Me vi numa encruzilhada e tive que escolher um caminho. A gente está contemporizando há um tempão, empurrando com a barriga, mas esse episódio foi a gota d’água”, afirmou o professor de jiu-jitsu.

O cargo que ele deixa não é remunerado. Sua função era ser uma espécie de conselheiro técnico da entidade, que organiza os principais torneios no estado do Rio e foi fundada pelos patriarcas dos Gracie ainda nos anos 70.

O UOL Esporte apurou que a decisão de afastar Reyson foi apoiada pela diretoria da entidade, que conta com Kenya e Hanna Gracie, filhas de Robson. Na visão de boa parte da família, o protesto de Reyson é um “protesto de petistas que inconformados com a derrota.” Essa parte da família questiona por que não houve indignação quando Robson fez a mesma homenagem à então presidente Dilma Rousseff, do PT.

As eleições dividiram a família fundadora do jiu-jitsu brasileiro e do UFC. Enquanto nomes como Robson, Rorion e Renzo apoiaram o presidente eleito, outros Gracie como Reila, Renzo e Roger se mostraram contra.

Reila, que escreveu a biografia de seu pai Carlos, e Reyson já propõe abertamente a saída do irmão Robson, que está no comando da federação desde os anos 80.

“Já deu, ele não tem condição de ficar à frente da federação”, disse Reila. “Ele é uma pessoa que não está colocando o esporte como prioridade e sim seus interesses políticos. A federação não pode ser instrumento eleitoreiro, não pode ficar à mercê das eleições.”

“Se ele for chamar novas eleições, eu proponho que assumam as filhas Kenya e Hanna, que estão fazendo um trabalho excelente, uma organização impecável”, afirmou Reyson.

Procurada, a Federação de Jiu-jitsu do Rio de Janeiro preferiu não se pronunciar.

Veja a mensagem de Robson Gracie ao irmão Reyson

“Meu nome é Carlos Robson Gracie, presidente da Federação de Jiu-jitsu do Estado do Rio de Janeiro, e fundador dela, a primeira federação de jiu-jitsu do mundo. Acabei de ler uma notícia aqui na Extra Online sobre uma entrevista que meu irmão Reyson Gracie deu, criticando uma atitude política que eu tive e fiz com muita honra e vontade.

O nosso presidente é uma figura fantástica e eu numa questão de fazer um pleito à coragem desse homem... nós sempre fomos corajosos, sempre lutamos, embora o seu Reyson nunca tenho posto um quimono para lutar com ninguém, talvez ele não saiba isso. Mas cada um pode ter sua opinião, estamos numa democracia.

Ele pode falar, pode reclamar é um direito dele, mas não quero que se metam na minha opinião política ao outorgar uma faixa preta por coragem, uma faixa honorária, ao nosso presidente Bolsonaro. E o Reyson diz ou eu renuncio ou ele sai. Ele nunca foi eleito nada lá, eu apenas o chamei por uma questão de querer prestigiá-lo. Botei de vice-presidente técnico, ele não foi eleito. Se ele sai, ótimo Reyzinho, vá meu amor. Você já não está mais lá e não vai ficar em lugar nenhum porque ninguém aprecia esse teu tesão pelo pessoal que está todo preso pela lava-jato. E, pra melhorar mais, quem prendeu teus ídolos na lava-jato hoje é nosso ministro da justiça do nosso governo. Não sei como vai ficar tua cabeça agora. Cabeça é de quem tem e usa no que quer.

Siga seu caminho em paz, seja o que Deus quiser, mas você não está mais na Federação de Jiu-jitsu do Estado do Rio de Janeiro. Você não é mais [vice] presidente técnico, nem presidente de coisa nenhuma. Beijos e abraços.”