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Irmãos Marajó superam brigas da infância e sonham com dobradinha inédita no UFC SP

Irmãos Ildemar (e) e Yuri Marajó podem fazer história no UFC São Paulo - Reprodução/Facebook
Irmãos Ildemar (e) e Yuri Marajó podem fazer história no UFC São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Rafael Krieger

Do UOL, em São Paulo

18/01/2013 12h00

Brigas entre irmãos pequenos são comuns em todas as famílias, e não era diferente na casa dos Alcântara na Ilha de Marajó. Dois anos mais velho, o jovem Yuri não perdoava o pequeno Ildemar. Mas foram aqueles duelos informais de luta marajoara, somados às transmissões de boxe em preto e branco na TV, que inspiraram os dois a seguir carreira no MMA. Agora, eles estão prestes a fazer história no UFC São Paulo, na noite de sábado.

Desta vez, eles não vão lutar um contra o outro, como na infância. Yuri Marajó terá pela frente o compatriota Pedro Nobre em sua quarta luta no UFC – a quarta no Brasil. Ildemar vai estrear lutando uma categoria acima da sua, entre os meio-pesados, diante de Wagner Caldeirão. Caso ambos vençam, será a primeira vez que dois irmãos brasileiros triunfam em um mesmo evento na história da organização.

VOCÊ SABIA?

- Yuri e Ildemar Marajó são a décima dupla de irmãos a competir no UFC, junto com: Raphael e Junior Assunção, Minotauro e Minotouro Nogueira, Dan e Jim Miller, Mark e Matt Hughes, Matt e Nick Serra, Dan e Joe Lauzon, Nate e Nick Diaz, Frank e Ken Shamrock, além dos meio–irmãos Matt Andersen e Jeremy Horn.

- O mais velho Yuri, de 32 anos, tem três lutas no UFC, todas no Brasil. Ele lutou duas vezes no Rio e uma em Belo Horizonte. Venceu as duas primeiras, mas vem de derrota para Hacran Dias na capital mineira.

- Ildemar Marajó vem do título dos médios do Jungle Fight, e aceitou subir de categoria para estrear no Ultimate contra Wagner Caldeirão. Ele entrou como substituto de Roger Hollett, que se lesionou.

Tudo começou em um vilarejo nos arredores de Soure, principal centro urbano da Ilha de Marajó, com cerca de 20 mil habitantes. A família Alcântara morava longe da cidade, e os dois jovens lutadores precisavam percorrer um trajeto de seis horas para chegar à academia. A primeira parte era de barco. A segunda podia ser de carro, carroça, cavalo ou até búfalo, o animal símbolo da região.

A motivação para entrar na academia veio da prática de uma tradição local: a luta marajoara, que usa técnicas parecidas com a do wrestling norte-americano. “Desde garotinho, os pais incentivam os filhos a fazer luta marajoara”, relembrou Yuri.

Sua primeira vítima, naturalmente, foi o irmão mais novo: “Eu batia muito nele porque ele era chato mesmo, eu tinha que bater nele para ver se ele parava um pouco”, contou Yuri. Hoje, Ildemar agradece: “Foi muito importante ele ter me batido quando eu era moleque foi isso que me incentivou a lutar”.

“Eu pensava: ‘um dia vou ter que bater no Yuri’. Ele só me humilhava, falava que eu nunca ia ganhar dele. Fiquei com isso na cabeça, e quando cheguei na cidade, procurei lutar para ser melhor do que ele. Se ele treinava um horário, eu treinava três. Hoje, fico feliz por ele ter me batido, porque foquei no meu objetivo. Graças a Deus, nunca mais a gente brigou, depois foi só treino mesmo”, completou Ildemar.

Na cidade, eles entraram em uma academia de kung fu. Yuri começou antes, mas não era bem isso o que ele tinha em mente. “Na época, onde a gente morava a TV era em preto e branco e passava boxe, as lutas do Tododuro, do Dinamite... A gente assistia e aí falei uma vez que queria lutar isso”.

O começo no kung fu serviu como base para os treinos de muay-thai e jiu-jitsu durante a passagem pelos dois pelas Forças Armadas, como recordou Yuri: “Lá, um professor falou que a gente tinha talento, e disse que a gente tinha que estrear no MMA. Então a gente estreou e estamos até hoje aí”.

As dificuldades do começo ficaram para trás. Mas o passado é um orgulho para os irmãos Marajó, que continuam treinando em Belém, com equipe própria. “Foi uma ralação muito grande, mas isso que fez a gente chegar onde chegamos, pois sempre tivemos um exemplo, que era nossa mãe. Ela ralou demais para poder  estudar, fazer faculdade e ainda conseguir criar a gente”, comentou Yuri.

A maior recompensa por toda essa “ralação” poderá vir no sábado, com a possível dobradinha inédita. Para o estreante Ildemar, será ainda mais especial: “É uma emoção muito grande lutar na Copa do Mundo do MMA, e estou muito feliz principalmente por estrear do lado do meu irmão”.

”Tem muito tempo que a gente não luta no mesmo evento. Espero quebrar essa coisa que nunca dois irmãos lutaram no mesmo UFC e ganharam. Vamos quebrar isso no sábado, se Deus quiser”, completou Ildemar. Em caso de dobradinha, ele poderá dizer com o peito aberto que tem orgulho das surras que tomou na infância.