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Fã de MMA, Dado Dolabella foi pupilo Gracie e trocou jiu-jitsu por gatinhas

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/12/2013 06h00

Dado Dolabella fez fama com sua carreira de ator, músico e vencedor do reality show A Fazenda. Mas sua juventude não teve apenas incursões pelo mundos das artes. Ele sempre teve um lado esportista ativo: primeiro jogando bola nas bases do Flamengo, e depois como lutador. O carioca treinou jiu-jítsu com Royler Gracie por cerca de cinco anos, fruto da paixão pelo vale-tudo que conserva até hoje, apesar das críticas que tem em relação à atual fase do UFC.

Em entrevista ao UOL Esporte, Dado relembrou esse passado no tatame, quando em certa época ficava de duas a três horas treinando, “viciado” na arte suave. Tudo fruto do que acompanhou aos 13 anos, quando assistiu aos duelos de Royce Gracie no UFC 1, quando o franzino brasileiro finalizou três adversários na mesma noite e se tornou campeão do evento.

“Eu tinha meus 15 anos quando comecei a treinar jiu-jítsu. Tinha feito judô quando era moleque, no colégio, por muitos anos. E depois fui para o jiu-jítsu, em que treinei até a faixa azul”, conta Dado. “Foi quando surgiu o Ultimate. Fiquei encantado com aquilo, era um negócio que deixou todo mundo tipo: ‘q p... é essa que tá acontecendo?’. Os caras sem luva, sem proteção, despertou o interesse de todo mundo.”

Um dos mestres de Dado foi Royler Gracie, filho de Helio. O ator conta que entrar na academia da família que fez famoso o jiu-jítsu brasileiro era como invadir um templo, quase uma experiência religiosa. E, para ele, a arte marcial teve importância fora do âmbito esportivo.

“O jiu-jítsu me deu consciência, base de vida mesmo, algo até espiritual. Me deu segurança. Eu era muito magro, então quando era moleque morria de medo das pessoas maiores, de outras séries. Entrei pro jiu-jítsu e aprendi a me defender”, conta ele.

Dado acabou envolvido em muitas polêmicas no passar dos anos. Foi condenado por agressão à atriz Luana Piovanni, sua ex-namorada, e também sofreu acusações de Viviane Sarahyba, com quem foi casado. No mesmo ano, foi detido em uma blitz por portar maconha. Hoje ele comemora estar afastado das confusões e só lamenta não ter usado mais os ensinamentos das artes marciais.

“Na minha vida inteira, sempre alguém vinha se engraçar comigo. Tenho aquela cara de zona sul do Rio de Janeiro, então sempre tinha alguém para me tirar de playboy. Foi o caso do João Gordo, ele achou que ia tratar com um playboy, mas ele encontrou um maluco igual a ele, ou pior. A vida inteira carrego isso, que é por causa dessa carinha. Mas, graças a Deus, desde que meus filhos nasceram estou livre de confusão, minha vida deu uma sossegada. Se eu conseguisse usar na vida todas as experiências que aprendi ali (no jiu-jítsu)... É que a vida muitas vezes te leva para lugares que você não espera, mas se em todas usasse o que aprendi com os Gracie, minha história seria diferente”, reflete o ator, citando a confusão em programa da MTV com João Gordo, quando apareceu com uma machadinha no estúdio.

Dado sonhou jogar pelo Fla

  • Flamenguista fanático, Dado Dolabella quase foi fundo no sonho de jogar futebol. Ele conta que treinou na Gávea até os 18 anos, com o time juvenil. O ator e músico sempre acompanhou a carreira de Zico e chegou a atuar no CFZ, que era o clube do Galinho. Mas desistiu dos gramados.

    “Parei porque o treinamento de músico e ator é muito mais gostoso e prazeroso que o de futebol. É uma vida de muitos sacrifícios. Aí hoje vemos um bando de jogadores que gostam de farra e o resultado no gramado é instantâneo. Vide Ronaldinho, Carlos Eduardo... Eles tinham tudo para serem até titulares da seleção. Mas a vida que eles escolheram não combina com bebedeira e farra”, afirma o ator, que continua seguindo o Flamengo e não enterra o sonho de ver um Dolabella no Macaranã. “Quem sabe algum filho meu não vai à forra e realiza esse sonho por mim...”

Dado, hoje com 33 anos não partiu para a ação como lutador e acabou nunca competindo no jiu-jítsu. O interesse foi morrendo aos poucos, quando ele percebeu que os shopping centers tinham alguns atrativos especiais.

“A minha luta é diferente, é espiritual. Eu prefiro acompanhar pela TV a galera, não é a minha praia, não. Mas com 18 anos eu era viciado nessa parada de jiu-jítsu. Ficava duas ou três horas no tatame, mas comecei a perceber que enquanto estava ali, a gatinha que eu queria estava no shopping com as amigas. Vou ficar aqui me agarrando com homem? Então, troquei o tatame pelas meninas”, ri ele.

Assim como fez em relação ao futebol, Dado preferiu as carreiras de músico e ator, mais leves em sua rotina.

“Eu larguei o futebol porque não ia conseguir tomar uma cerveja e trabalhar. Na minha (carreira) é até recomendado: antes de show, antes de uma cena importante, tomar um gole é bom para dar uma acalmada. No futebol, se beber você desidrata. E precisa correr 90 minutos como maluco”, explica Dado.

‘Marmelada’ no UFC?

O fanatismo pelo UFC dos primórdios, quando Royce Gracie reinava, deu lugar ao ceticismo com a versão atual, presidida por Dana White. Para o ator e músico, o Ultimate foi invadido pelo dinheiro e, como o futebol, perdeu parte da graça. Ele inclusive postou em redes sociais sua indignação com a vitória por pontos de Georges St-Pierre contra Johnny Hendricks, em novembro, quando o canadense ficou desfigurado, mas manteve o cinturão dos meio-médios.

“Quando entrou a grana, perdeu um pouco a graça. Mudou o rumo. Hoje tem um monte de luta que só o Dana White acredita”, critica ele. “A luta do Anderson teve muitas coincidências, ser na semana da Independência (dos EUA)... Pode ter sido mole do Anderson, mas foi muito esquisito. E a última, pelo amor de Deus, o que foi aquilo. O Hendricks deixou estampado na cara dele quem ganhou. Qualquer pessoa em sã consciência sabe que o cara ganhou.”

“Prefiro o Flamengo de 80, o Ultimate de 90, tinha mais verdade em tudo”, opina Dado. Mais que só cornetar, ele pediu ao antigo mestre, Royler, para tentar retomar eventos com a aura do vale-tudo. “Isso é um sonho meu, estou conversando para os Gracie aparecerem com um novo evento. Meu sonho era poder ter um evento de novo que eu curta de verdade. Porque, pô, não dá com essas marmeladas.”

“Vou ver o que acontece agora com a segunda luta do Anderson (contra Chris Weidman, em 28 de dezembro), mas dependendo de como for posso até cancelar meu pay-per-view”, concluiu Dado Dolabella.