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Mutante admite erro na carreira e mira retomada para salvar irmão do crack

Julio Cesar Guimarães/UOL
Imagem: Julio Cesar Guimarães/UOL

Fernando Notari

Do UOL, em São Paulo

05/07/2016 06h00

Recuperado de lesão, de volta aos pesos médios e depois de afastar a má fase no UFC, o brasileiro Cézar Mutante lutará na próxima sexta-feira (08), no TUF 23 Finale, em Las Vegas, sem se preocupar com demissão ou com uma aposentadoria precoce. Seu objetivo agora é mais nobre: ele quer deslanchar na carreira para “salvar” o irmão das drogas.

“Saí de casa aos 17 anos. Perdi minha mãe muito jovem, e nessa época meu pai e meu irmão começaram a mexer com droga”, contou ao UOL Esporte

Mutante seguiu por outro caminho. Deixou São Paulo rumo ao interior de Minas Gerais motivado pelo sonho de se tornar um grande mestre de capoeira - e, não por menos, considera que o esporte lhe salvou a vida.

“Falo de consumo de drogas, não de tráfico”, explicou. “Meu irmão é viciado em crack. É por ele que continuamos a lutar contra esse mal". O pai, segundo ele, já está recuperado. "É um trabalho social que tenho em mente, poder apoiar ou ter uma clínica de recuperação. São pessoas doentes, que precisam de ajuda”.

É também do desejo de ver o irmão livre das drogas que Mutante tira forças para lutar. Para tanto, precisa ser no UFC o que dele se esperava, mas nunca foi: o paulista é uma daquelas promessas que ainda não vingou. Recentemente, aliás, esteve à beira da demissão.

Cézar largou bem na organização, com três vitórias consecutivas. Logo perdeu a primeira e, no triunfo seguinte, agravou lesão na coluna que o acompanha desde o nascimento. “Fiz tanta força contra Andrew Craig que tudo piorou. Não sentia minhas pernas naqueles dias”.

Assustado com a perspectiva de não recuperar os movimentos, de uma aposentadoria precoce, de ver o dinheiro acabar e não ter como sustentar esposa e filha, tomou uma série de decisões erradas. Primeiro, voltou à ativa contra recomendação médica, apenas cinco meses após passar por uma cirurgia de sete horas. Perdeu para Sam Alvey. Depois, avaliou que descendo para os meio-médios ficaria mais leve e se apresentaria melhor. Perdeu para Jorge Masvidal na nova categoria e ficou perto do corte de Dana White.

“É um sentimento, a gente sabe que, no UFC, o cara que perde três vezes é demitido”, confessa. “Deveria ter esperado mais, ter ficado um ano parado, mas precisava lutar. De fato, a tentativa de baixar o peso foi um erro, porque perdi força e explosão”.

Mutante, que agora se diz na sua melhor forma física de sempre, fez rápida reavaliação, admitiu o erro na carreira e voltou aos médios já para o seu último combate, o que poderia ter sido decisivo na sua trajetória no UFC e que, se não vencesse, o afastaria do sonho de ajudar o irmão viciado em crack. Ele bateu o nigeriano Oluwale Bamgbose, em abril de 2016.

Menos de três meses depois, retornará ao octógono para enfrentar o norte-americano Antonhy Smith, no TUF Finale 23, na sexta-feira – e ele comemora as lutas com pouco tempo de distância uma da outra como prova de que está bem condicionado.

“Estou feliz por ter essa oportunidade. Queria fazer isso há muito tempo e nunca tive chance, sempre com problemas com lesões. Eu lutava e na sequência fazia cirurgia... Mas agora estamos desenvolvendo um bom trabalho. O forte do Smith é o muay thai, mas vejo muitas brechas no jogo dele, mesmo em pé, que posso aproveitar para ganhar”, disse, confiante.