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Jucão lembra luta antiga com amigo Spider: "Vi que teria de treinar mais"

Fernando Notari

Do UOL, em São Paulo

10/02/2017 06h00

Roan Carneiro “Jucão” tinha apenas um duelo profissional de MMA no currículo quando passou pelo seu primeiro grande teste no esporte: há 15 anos, foi colocado frente a frente com Anderson Silva. “Jucão” foi nocauteado em cinco minutos. Em entrevista ao UOL Esporte, o atleta relembra o combate contra o agora amigo “Spider”, com quem dividirá o card do UFC 208, a ser realizado no Brooklyn, em Nova York, no próximo sábado (11).

Anderson Silva, em 31 de janeiro de 2002, também estava em começo de carreira e não tinha o status que tem hoje – o de um dos melhores da história do esporte. Já era, no entanto, o campeão peso médio do Shooto, evento nacional, e impressionava a quem fazia parte do mundo das lutas. “Queria me provar como atleta, mas a cancha de ringue que ele já tinha, as distâncias que encontrava, a forma como me golpeava e defendia as minhas quedas... Saí de lá com a certeza de que teria de treinar muito mais”, afirma. “Isso me motivou muito”.

O confronto entre os dois foi realizado em Curitiba, pelo Meca World Vale Tudo, organização já extinta. À época, a academia Brazilian Top Team, a qual pertencia “Jucão”, e a Chute Boxe, de Anderson Silva, travavam rivalidade forte no esporte. Eles, naturalmente, levaram a rixa à arena no dia do duelo, traduzida na comemoração efusiva de "Spider". Atualmente, são bons amigos: além de fazerem juntos o treino de perda de peso nos EUA, um dá força ao outro para esticarem a carreira mais um pouquinho. Roan e Spider, afinal, já são veteranos do MMA: o primeiro tem 38 anos e o segundo, 41.

“Foi mesmo uma experiência ótima. Eu tinha acabado de ser campeão brasileiro de jiu-jitsu, ele era campeão do Shooto. Foi um divisor de águas para mim. Desde então percebi que teria de evoluir e evoluí muito: treinei muay thai, boxe... E ele, sem dúvida, tornou-se um dos melhores do mundo. O esporte cresceu muito, atraiu fãs, e Anderson cresceu junto”, diz.

Roan “Jucão” praticamente descarta a hipótese de uma revanche com Spider. “Pelos nossos filhos, lutamos com qualquer um”, pondera, mas afirma que não é esse seu desejo. “Estamos até em categorias diferentes”, acrescenta. No UFC 208, ele enfrentará o nova-iorquino Ryan LaFlare pela divisão dos meio-médios, no card preliminar do evento. Anderson pegará Derek Brunson nos médios, no co-main-event da noite – a luta principal é de Holly Holm.

“Não traço mais metas na carreira”, avisa “Jucão”, que está em sua segunda passagem pelo UFC. “Agora estou que nem o Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar”, prosseguiu, rindo, o lutador nascido no Rio de Janeiro. Roan Carneiro, entre 2007 e 2008, fez cinco lutas pela organização e perdeu três. Saiu e voltou em 2015: desde então venceu Mark Muñoz, perdeu para Derek Brunson e bateu Kenny Robertson em sua última apresentação.

“Sou testemunha de que o UFC mudou muito, mas acho que agora chegou a um limiar que não vejo como possa subir mais. Chegou a um topo e ficará ali por um tempo. Se mudar, mudará para proteger os atletas”. diz “Jucão”, que cobra maior repasse de dinheiro para as estrelas do evento. “Atualmente, mais ou menos 10% dos lucros de um evento vai para os atletas”, conta. Nos EUA, discute-se a possibilidade de a lei Muhammad Ali Boxing Reform Act ser estendida também ao MMA, o que asseguraria maior pagamento aos lutadores.

“Jucão” é prova de que o MMA profissional só confere dinheiro a uma “elite” reduzida do esporte: no ramo há 17 anos e atleta da maior franquia existente, não consegue viver só da grana que recebe para lutar. “Eu trabalho, tenho a minha academia, dou quatro aulas por dia. Sou treinador também, ajudo o Cigano, o Pezão... esse ainda é o meu 'ganha-pão'”, afirma.