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Lenda do jiu-jitsu vibra com Gracie Pro, mas já volta o foco para o MMA

Roger Gracie vence luta no Gracie Pro - Reprodução/Instagram
Roger Gracie vence luta no Gracie Pro Imagem: Reprodução/Instagram

Guilherme Dorini

Do UOL, em São Paulo (SP)

04/08/2017 04h00

A comunidade do jiu-jitsu teve muito o que comemorar no fim do mês passado. Carente de grandes eventos no Brasil, o Gracie Pro, organizado por Kyra Gracie, resgatou o espírito do esporte no Rio de Janeiro, o que foi muito comemorado por Roger Gracie, responsável pela luta principal e um dos melhores atletas da modalidade da história.

Roger, que não lutava no país há 11 anos, encerrou sua brilhante carreira com uma vitória por finalização sobre Marcus Buchecha, dono de dez títulos mundiais e considerado um dos melhores do mundo na atualidade. Para ele, o evento, além de ser um dos melhores em que já lutou, serviu para ajudar na imagem do esporte.

Roger Gracie finalizou Marcus Buchecha no Gracie Pro no Rio de Janeiro - Carlos Arthur Jr./Divulgação - Carlos Arthur Jr./Divulgação
Roger Gracie finalizou Marcus Buchecha no Gracie Pro no Rio de Janeiro
Imagem: Carlos Arthur Jr./Divulgação

“É muito importante para o Brasil [ter um evento assim]. O jiu-jitsu precisa disso. Há alguns anos, o esporte ficou com uma imagem negativa, a mídia não especializada ficava relutante em se envolver em uma coisa que eles não sabem o que está acontecendo. As pessoas têm um pé atrás, todo aquele negócio de violência... A Kyra conseguiu dar a volta por cima, conseguiu mostrar e convencer as pessoas. Melhor impossível”, disse em entrevista ao UOL Esporte.

Kyra e Roger Gracie no pódio do evento - Carlos Arthur Jr./Divulgação - Carlos Arthur Jr./Divulgação
Kyra e Roger Gracie no pódio do evento
Imagem: Carlos Arthur Jr./Divulgação

Agora aposentado da arte suave, Roger já volta suas atenções para o MMA. Campeão dos meio-pesados (até 93 kg) do One FC, evento com sede em Cingapura, ele planeja voltar ao cage neste ano para defender seu cinturão.

"Tinha deixado essa parte do MMA de lado para focar 100% no jiu-jitsu, nesta luta [Gracie Pro]. Mas, agora que passou, quero fazer mais algumas lutas de MMA, tenho que defender meu cinturão. Meus empresário estão vendo isso, quase que 100% de certeza que voltarei ainda neste ano, no máximo até dezembro. Agora é só voltar a treinar, voltar ao ritmo e defender meu título”, contou.

Confira a entrevista completa com Roger Gracie:

REVANCHE CONTRA BUCHECHA

“Fiquei superfeliz com essa luta. Depois de tanto tempo, voltar a lutar no Rio de Janeiro foi muito especial. Aquela luta, só valia finalização, 20 minutos, regras um pouco diferentes. Desta vez, aceitamos lutar por 15 minutos, valia pontuação... Eu já estava visando essa luta há algum tempo, tinha pensado: ‘ou era agora, ou não ia ser nunca mais’, ia acabar minha carreira sem essa luta. Não criei expectativa nenhuma para a luta. Você não tem como prever como será ela. Faço isso justamente para não me frustrar se algo não acontecer. Sabia que ele [Buchecha] era fantástico, a possibilidade dele me derrubar, cair em uma posição boa, era muito grande. Não achava que seria uma luta perfeita minha, mas, graças a Deus, deu certo. A estratégia foi exatamente como aconteceu.”

GRACIE PRO

“O Gracie Pro foi muito legal para o esporte. Acho que o Brasil está muito carente de eventos. Se eu não lutava aqui há 11 anos, não é por acidente. Os grandes eventos foram lá para fora. Teve uma saída do Brasil. [O jiu-jitsu] deixou de chamar um pouco atenção... O Gracie Pro foi um dos mais legais, nunca vi um evento com peso de mídia tão grande. Parecia um evento de MMA... Organização, o antes e depois, o dia do evento, telão, música... Foi muito legal. A repercussão foi gigante, pessoas comentando.”

DÁ PARA VIVER DO JIU-JITSU?

"Dá. Tanto é que, antigamente, todos os campeões de jiu-jitsu faziam uma migração para o MMA justamente por não ter evento com boas remunerações, patrocínio era menor. Hoje em dia, você pode dar seminários no mundo inteiro, existem academias carentes disso no mundo todo. O próprio Buchecha, ele vive só do jiu-jitsu, não dá aula, só treina... Isso é patrocínio, premiação dos campeonatos. O atleta de ponta consegue viver só do esporte, isso é fantástico. As pessoas estão fazendo carreira no jiu-jitsu. Hoje em dia consegue, sim, viver do jiu-jitsu."

ÚNICA LUTA NO UFC

“Minha luta contra o Tim Kennedy (UFC 162, em 2013) foi muito legal, uma experiência muito boa. Acho que a única coisa que pesou muito foi o fator do peso. Eu decidi lutar nos médios (até 84 kg), mas sou uma pessoa que pesa quase 100 kg. Então, perder 16 kg para lutar lá foi complicado... Pensei que conseguiria estar bem. Até fui bem no primeiro round, dominei, derrubei, fui para as costas, mas não consegui finalizar. Depois, não tinha energia nenhuma. Meu corpo não recuperava. Tinha certeza de que seria nocauteado, sequer consegui ficar com o braço no alto para me defender. Era minha última luta do contrato do Strikeforce, organização que o UFC havia comprado. Eles [UFC] têm um pé atrás com os Gracies, não favorecem alguém do chão. Olha o Demian [Maia], quantas lutas precisou para ter uma chance de cinturão?”

CINTURÃO DO ONE FC

Roger Gracie é dono do cinturão do One FC - Reprodução/One FC - Reprodução/One FC
Roger Gracie é dono do cinturão do One FC
Imagem: Reprodução/One FC

"Tinha deixado essa parte do MMA de lado para focar 100% no jiu-jitsu, nesta luta [Gracie Pro]. Mas, agora que passou, quero fazer mais algumas lutas de MMA, tenho que defender meu cinturão. Meus empresário estão vendo isso, quase que 100% de certeza que voltarei ainda neste ano. Agora é só voltar a treinar, voltar ao ritmo e defender meu título".

ATÉ QUANDO NO MMA PROFISSIONAL?

“Meu corpo está bem saudável, nunca me machuquei muito, nunca quebrei nada e nem precisei passar por operação. Acho que fui muito sortudo neste aspecto, sempre treinei com inteligência. Vou fazer 36 anos agora, não sei exatamente até quando vou lutar. O principal não é nem o fato físico, é mais o fator de tempo. Tempo vários outros projetos de negócio, tenho dois filhos, minha família. Estou há tanto tempo me dedicando a minha vida de atleta, não dá para tocar outras coisas com foco de 100% nos treinamentos. Acho devo lutar, no máximo, até uns 38 anos. Quero fazer mais algumas lutas, mas estou chegando perto da aposentadoria final”.

ROGER GRACIE TV

Roger Gracie TV é um dos projetos da lenda do jiu-jitsu - Reprodução - Reprodução
Roger Gracie TV é um dos projetos da lenda do jiu-jitsu
Imagem: Reprodução

"Estou há praticamente 15 anos morando em Londres, tenho uma academia lá. Estou feliz, me adaptei bem. Há dois, três meses inaugurei esse sistema de aulas on-line, a Roger Gracie TV. Treino com vários atletas, muitas posições, situações de treinos, dicas... Isso é para o pessoal que não têm muito acesso a mim, que mora em outro país. Não é todo mundo que consegui ir até Londres para treinar. É um projeto muito legal, dá para abranger um público muito maior. Estamos com força total."