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Joanna Maranhão cutuca estrelas da natação nacional:"se calam por egoísmo"

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

09/02/2014 06h00

Joanna Maranhão sempre foi ferrenha crítica dos gestores do esporte nacional e da CBDA (Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos). Mas poucos esperavam que fosse  anunciar sua aposentadoria precocemente aos 26 anos.

Fez isso na última semana via um desabafo nas redes sociais. Em entrevista ao UOL Esporte, disse que se cansou de ser uma bandeira solitária para criticar a ineficácia da federação e fez uma crítica, sem citar nomes, às principais “estrelas” da natação nacional por se contentarem com as vitórias e não serem críticos.

“O que aconteceu (para se aposentar) foi que o tempo e os acontecimentos me fizeram criar uma consciência de que não vale a pena se sacrificar por um esporte mais justo e limpo nesse país”, explicou.

“(As estrelas) se calam por egoísmo, por só pensarem em si é por terem medo. Não existe um Troféu Maria Lenk se ninguém subir no bloco, mas a classe é desunida. Já viu as redes sociais das estrelas dos esportes aquáticos? Quem entra ali imagina mil maravilhas, cada post são mil agradecimentos a patrocinadores.  Agora vai ver os companheiros desses atletas, às vezes são pessoas que treinam na raia do lado passando pelo maior aperto e as estrelas nada fazem, afinal, está bom pra elas, né?”, questionou.

Joanna disputou três edições de Jogos Olímpicos (Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012), outras quatro de Jogos Pan-Americanos (Winnipeg-99, Santo Domingo-2003, Rio de Janeiro-2007 e Guadalajara-2011). Obteve cinco medalhas em Pans (duas de prata e três de bronze).

Por ter aparecido muito nova (disputou o primeiro Pan com 12 anos), se criou muita expectativa sobre Joanna, ainda mais em se tratando da natação feminina brasileira, que sempre teve resultados pífios. Conseguiu um quinto lugar nos 400 m medley em Atenas, com 17 anos. Só que depois disso teve uma queda de desempenho e não mais trouxe bons resultados. Ficou mais marcada pelos protestos e briga contra dirigentes. Mas ainda assim diz não ligar para a fama de “reclamona”.

“As pessoas têm direito de pensar e falar o que bem entendem. Agora me aponte um nadador que foi a três Olimpíadas, nunca perdeu suas principais provas dentro de casa e nunca se vendeu a ditadura da confederação? Me mostre um”, rebateu.

Seu quinto lugar é o melhor resultado da história da natação feminina individual nas piscinas em Jogos Olímpicos. Em Olimpíadas, nos últimos anos, só Cesar Cielo (2008 e 2012) e Thiago Pereira (2012), as supostas “estrelas” que ela não cita nome, obtiveram medalhas. Em Mundiais, além da dupla renomada, só Felipe França (Roma-2009 e Xangai-2011) e Felipe Lima (Barcelona-2013) foram ao pódio.

Agora, Joanna diz que vai se dedicar à ONG Infância Livre, que visa cuidar de crianças exploradas sexualmente, já que foi símbolo de um caso de abuso sexual. Em fevereiro de 2008, ela reuniu coragem para revelar numa entrevista que havia sido abusada por um ex-treinador. Depois disso, foi aprovada uma lei federal que leva seu nome, trazendo como novidades a alteração nas regras sobre a prescrição do crime de pedofilia e estupro praticados contra crianças e adolescentes.

“A ONG vai dar todo suporte necessário a uma criança sexualmente abusada. Tratamento psicológico, médico, fisioterapia, prática esportiva e suporte jurídico. Também temos nos planos realizar ações de prevenção, passando informações as pessoas, famílias e pessoas responsáveis por contratação de professores de escolinhas”, falou.