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Como nadador que teve vírus raro há 3 semanas brilhou no Troféu Maria Lenk

Léo de Deus foi ouro nos 200m borboleta e costas e bronze no revezamento 4x100m livre - Divulgação
Léo de Deus foi ouro nos 200m borboleta e costas e bronze no revezamento 4x100m livre Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

21/04/2018 15h39

Dores, febre alta e formigamento na pele levaram o nadador Leonardo de Deus ao Hospital 9 de Julho, em São Paulo, há três semanas. O medo de um infarto aos 27 anos não foi confirmado, mas desde então ele lida com um problema pouco conhecido: é uma doença chamada "mão-pé-boca", causada pelo vírus Coxsackie. A doença não é incomum na infância, até os cinco anos, mas acomete muito raramente aos adultos. Ela é contraída por contágio e gera estomatites (aftas na boca) e bolhas nas palmas das mãos e plantas dos pés. 

Diagnosticado com esta doença, Leonardo colocou em dúvida sua participação no Troféu Brasil-Maria Lenk, disputado no Rio de Janeiro e que vale como seletiva para campeonatos internacionais. Mas apesar das aftas e bolhas, o nadador da equipe da Universidade Santa Cecília decidiu competir e brilhou: foi ouro nos 200 metros borboleta, com tempo de 1m55s5, apenas 14 centésimos acima de sua melhor marca na carreira, também ouro nos 200 metros costas e bronze no revezamento 4x100 livre.

"Às vezes não acreditamos no que somos capazes de realizar. Eu consegui me superar. No início da virose, pensei em não competir. Eu tremia de dor no hospital. É um vírus relativamente novo, os médicos ficaram sem saber o que fazer, e faltavam duas semanas para a competição. Mas eu me preparei e não deixei me abater. Não poderia jogar fora tudo que trabalhei. Está sendo uma prova de superação", desabafou o nadador reconhecido pelo ouro nos 200m borboleta nos Jogos Pan-americanos de 2011, em Guadalajara, e 2015, em Toronto.

Bolhas de Léo de Deus - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Doença causou bolhas e lesões em mãos e pés do nadador
Imagem: Acervo pessoal

Leonardo de Deus considera duas possibilidades para o contágio da doença: participação em um torneio na cidade de Limeira onde interagiu com mais de 500 jovens ou por meio de seu sobrinho, que frequenta um colégio onde houve surto da doença. Para evitar contaminar outras pessoas durante o Troféu Maria Lenk, o nadador teve cuidados no contato com pessoas e objetos pessoais, pois o que espalha o vírus é saliva, secreção e comida contaminada, geralmente. O tratamento ocorre por meio de remédio e pomada para dor. Era comum, antes e depois das competições, que Leonardo retirasse pedaços de pele das mãos e pés para amenizar a sensação de desconforto. 

"Me emocionei bastante por estar no balizamento e, enquanto estavam todos concentrados, eu tirava pedaços da mão e pé. E todos me olhando. E aí tirei forças para conseguir. Não sabia se conseguiria me apoiar no grip ou bater bem na parede, mas consegui", conta Leonardo de Deus. 

Além das três medalhas, o brasileiro conseguiu pré-convocação para o Pan-Pacífico que será realizado no Japão. Ele se vê no auge da carreira aos 27 anos.