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Campeão do mundo sonha em virar game e celebra convívio com mitos do skate

Paulistano Rony Gomes conquistou o título mundial de skate vertical de 2013  - Divulgação/Jamie Mosberg
Paulistano Rony Gomes conquistou o título mundial de skate vertical de 2013 Imagem: Divulgação/Jamie Mosberg

Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

03/10/2013 06h00

A tradição do Brasil no skate vertical tem tudo para durar longos anos. No início do mês de setembro, Rony Gomes sagrou-se campeão mundial da modalidade e deu continuidade à ótima fama conquistada pelo país no esporte radical nas últimas duas décadas. Com o resultado, o atleta entrou para um seleto grupo de brasileiros que já levaram o título, como Bob Burnquist, Sandro 'Mineirinho' Dias, Rodrigo 'Digo' Menezes e Marcelo Bastos.

Agora, o jovem de 21 anos deixa de ser uma promessa da modalidade e começa a ser encarado no cenário mundial como um dos protagonistas. Mas nada que o assuste. Com personalidade, ele não acredita que a pressão por resultados vá aumentar nas próximas competições. O desempenho tem sido tão favorável que ele já começa a sonhar com a possibilidade de um dia virar personagem de videogame, o que já aconteceu com os maiores nomes da categoria. 

“Eu acho que todo campeonato tem pressão. Com o título eu estou mais motivado para lutar pelo melhor. Sabia que seria difícil, e um titulo como esse me ajuda a saber que eu posso”, analisa Rony Gomes em entrevista ao UOL Esporte.

Apesar de negar a pressão, o novo status ainda é algo que está longe de ser normal para o paulistano. Com um estilo mais “tranquilo” e até mesmo tímido fora das pistas, Rony Gomes parece ainda não ter se acostumado com a ideia de competir contra seus ídolos de infância, como Bob e Sandro Dias.

“Meus ídolos são Lincoln Ueda, o Bob Burnquist e o Sandro Dias. Sempre assistia a campeonatos deles na televisão. É legal (competir contra os ídolos). Eu tento absorver. No começo, conversei muito com o Sandro. Ele me ajudou bastante, vi como ele se comportava. Assim como o Bob, que é mais diferente, mas na hora da competição ele está concentrado. É uma pressão grande, mas tenho treinado bastante”, afirma.

Fato é que o nome do brasileiro começou a figurar entre as estrelas do esporte e atualmente ele possui até mesmo o privilégio de treinar na pista de uma lenda viva do skate: o norte-americano Tony Hawk. No entanto, Rony Gomes admite que até hoje fica meio que “no mundo da lua” quando pensa em tudo o que conquistou até o momento.

“É emocionante. Quando eu comecei, falava: 'eu estou conseguindo'. Nos EUA, eu os encontrava normalmente, ando na pista do Tony Hawk. Ele me trata bem, sabe quem eu sou. Quando eu paro para pensar aonde eu cheguei, eu caio na real”, comenta.

Por falar em Hawk, Rony Gomes já começa a sonhar com a chance de virar um personagem nos jogos de videogame da modalidade, assim como aconteceu com o astro norte-americano, que possui sua própria franquia de games. Mas, apesar do desejo, o paulistano reconhece que ainda precisa conquistar muito para conseguir o feito.

“Eu preciso conquistar mais para entrar no videogame. Meu negócio é continuar andando. Se um dia acontecer vai ser demais. Seria a certeza da consagração”, afirma.

Mas nem sempre a carreira do atleta foi gloriosa, recheada de convívio com os principais nomes da categoria ou com sonhos de virar personagem no mundo eletrônico. Rony Gomes teve seu primeiro contato com a modalidade ainda criança, após ganhar um skate do pai. Depois de diversos “rolês” na Mooca, zona Leste de São Paulo, o garoto passou a ir para pistas em busca de um desenvolvimento maior. O que era hobby virou paixão e ele começou a competir até achar que era a hora certa para se tornar profissional.

No começo de carreira, o jovem encontrou dificuldades para desenvolver seu talento no Brasil e teve que passar um bom período no exterior para ficar em condições de competir em alto nível, além de ter enfrentado certa desconfiança do patrocinador.

“No meu primeiro ano como profissional, tinha que viajar bastante, já tinha patrocinadores. Eu falava para eles que não tinha jeito no Brasil, tinha que viajar para competir de igual para igual. Montei minha rampa no interior, em Atibaia. Falei com o patrocinador, mas ele não quis entrar com a grana. Comprei o terreno com o meu pai e começamos a montar. Eles me queriam mais próximo e eu estava muito tempo lá fora. Quando eu já estava com a estrutura pronta, meu patrocinador viu que ia acontecer e bancou o resto”, conta.

Amor que virou parceria com o Corinthians

Com talento comprovado, Rony Gomes contou com a ajuda do pai para atingir o sonho de defender a camisa do Corinthians. Torcedor fanático do clube paulista desde criança, o skatista foi atrás do time do coração em busca de uma parceria e o resultado foi positivo.

“Eu acompanho o Corinthians desde criança por conta do meu pai. Comecei a ver que eles estavam abrindo para outros esportes, como MMA e surf. Meu pai conheceu um dirigente, apresentou os projetos, eles gostaram e deu uma parceria. No começo foi pressão a mais, mas está sendo normal. Eles me dão apoio, mostrando que o skate está em crescimento”, disse.

Porém, se engana quem acha que Rony Gomes está completamente satisfeito com a situação do esporte no Brasil. Mesmo com um título mundial no currículo e alguns patrocinadores de peso, o atleta acredita que falta apoio para que a modalidade se desenvolva ainda mais e se coloca à disposição para ajudar.

“O skate está crescendo. Tem marcas grandes investindo no skate. Mas, se a prefeitura investir mais, ajuda a formar algo melhor. O que eu puder fazer para ajudar, vou fazer.”