Libertadores gourmet?

Cada vez mais inspirado no padrão Champions League, torneio inaugura fase de grupos hoje, com seis jogos

Do UOL, em São Paulo Matthias Hangst/Getty Images

Nem tão raiz assim

A Libertadores se tornou nas últimas décadas o torneio mais desejado pelos clubes sul-americanos. Mas, recentemente, as características marcantes da competição têm sido revistas, numa tentativa de aproximação ao padrão Liga dos Campeões.

A partir deste ano, por exemplo, o título será definido em jogo único - a decisão será em Santiago, no Chile. A Conmebol também passou a proibir bandeirões e exigirá que torcedores assistam às partidas sentados a partir de 2021. Outra mudança entrou em vigor em 2017: o campeão sai em novembro, após 11 meses de disputa.

Alheio a isso, os clubes mantêm a veneração pela Libertadores. E têm explicação para isso. Primeiro, pela tradição acumulada em quase seis décadas de existência. Segundo, pela oportunidade de disputar o Mundial de Clubes da Fifa, como fez o Grêmio há dois anos. Por último e não menos importante, vem a premiação, que a cada ano está mais atrativa - o campeão da edição 2019 levará R$ 47 milhões.

Sete times brasileiros disputarão a competição: Atlético-MG, Athletico, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Inter e Palmeiras. O grupo trata a Libertadores como a prioridade da temporada - todos eles estreiam nesta semana, na abertura da fase de grupos.

Matthias Hangst/Getty Images
UOL

Juca: Conmebol muda para pior

"Comecemos pelo fim: a final em jogo único é uma macaquice de quem desrespeita a cultura do continente e ignora não apenas sua extensão como, principalmente, as condições econômicas do torcedor. A Conmebol ignora ser possível ir de trem de Londres a Moscou e impossível de Brasília a Buenos Aires. Ademais, em nome de sei lá o que até mosaicos foram proibidos, uma das marcas registradas da Champions. Quanto aos horários dos jogos e  transmissões envelopadas são mais problemas das emissoras de TV do que do torcedor, prejudicado sim pela qualidade do que se tem visto na RedeTV. Enfim, o que não surpreende, a Conmebol consegue mudar para pior."

Javier Barbancho/Reuters

Final fria?

A Libertadores 2019 terá um quê de Champions League. O título será disputado em novembro em jogo único, no Chile. A medida anunciada em 2018 recebeu críticas por fazer o torneio perder uma das suas marcas registradas: a pressão da torcida.

A edição 2018, que teoricamente seria a última com partidas de ida e volta na final, virou um exemplo da nova era. A decisão entre Boca Juniors e River Plate foi disputada em Madri, no Santiago Bernabéu - em desdobramento do episódio de violência contra o ônibus do Boca na chegada ao estádio do rival em Buenos Aires.

Como a final será em Santiago, existe uma boa possibilidade de a decisão acontecer sem times locais, pois os chilenos não chegam em uma final da Libertadores desde 1993. Além disso, a América do Sul, ao contrário da Europa, tem uma mobilidade mais reduzida entre países, sem uma malha ferroviária abrangente.

A confusão na final do ano passado mostrou o quanto o torneio está distante da Champions. É preciso muito mais do que as medidas anunciadas para esse abismo diminuir. Olhar com carinho o que fazem os europeus em termos de organização é um bom caminho. Porém, algo impossível é fazer com que a Libertadores tenha o mesmo nível técnico

Ricardo Perrone, blogueiro do UOL

EFE/Paulo Fonseca

Conmebol faz vetos

No começo do ano, a Conmebol adotou medidas para evitar situações vistas na final River x Boca de 2018. Assim, a entidade aumentou a lista de vetos para os torneios do continente. O total de itens proibidos passou de 18 para 21. 

O veto às bandeiras aumentou. A partir de agora, todas que ultrapassem 1,5 metro de comprimento por 1 metro de largura estão banidas dos estádios. Haverá, inclusive, equipes para medições. Até mesmo faixas presas a cercas e divisórias das arquibancadas, algo bem tradicional no Brasil e principalmente na Argentina, estão vetadas, assim como fumaças e artefatos.

As mudanças serão mais profundas a partir de 2021, quando o acesso aos estádios se dará por compras realizadas após a identificação do comprador e numeração do ingresso. Essa medida tende a acabar com setores sem cadeiras, onde espectadores veem as partidas em pé.

A Champions League começou um processo de evolução no início dos anos 1990. É famosa a classificação do Milan contra o Estrela Vermelha, em Belgrado, em função da pressão para paralisar o jogo pela neblina. Não é mais assim. É possível ter estádios de primeiro nível no Brasil, na Colômbia, na Argentina, mas é difícil reproduzir isso na Bolívia, Equador e Venezuela

PVC, blogueiro do UOL e comentarista do FOX Sports

REUTERS/Agustin Marcarian REUTERS/Agustin Marcarian

11 longos meses

Esqueça aquele campeonato curto, com jogos e decisões seguidas. A nova Libertadores tem início em janeiro, com os duelos anteriores à fase de grupos, e término no fim de novembro, já na reta final da temporada.

A mudança, também inspirada na Liga dos Campeões, entrou em vigor em 2017, temporada em que o Grêmio conquistou o título. Campeão, o time gaúcho teve pouco tempo de preparação até medir forças com o Real Madrid no Mundial.

A Libertadores longa possibilita aos times um descanso maior entre as partidas, mas também tem dois pontos negativos. O primeiro é o risco de perder jogadores: com a principal janela de contratações do futebol europeu, a do meio do ano, rolando junto com a competição, um time pode começar o torneio com um elenco e terminar com outro. O segundo é que a longa duração pode comprometer o embalo, pelo espaço entre confrontos - a volta das quartas de final, por exemplo, será disputada no começo de agosto, enquanto o início da semifinal se dará só nas últimas semanas de setembro.

A Libertadores sofre com a disparidade econômica e técnica mais do que a Champions. Times do Brasil e Argentina têm melhores estruturas do que equipes de países com menos dinheiro, como Bolívia, Venezuela e Peru. Isso atrapalha a organização. São dois campeonatos dentro de um

Marcel Rizzo, blogueiro do UOL

Reprodução

Globo ganha a concorrência do Facebook

Dominante nas transmissões da Libertadores há mais de 20 anos, a Rede Globo terá menos poder de decisão a partir desta temporada, pela concorrência de Fox Sports e Facebook. A emissora carioca agora terá apenas um jogo para transmitir no horário nobre de quarta-feira.

Até o ano passado, a Globo tinha dois jogos à sua disposição no tradicional horário das 21h45 de quarta. Assim, poderia escolher qual partida transmitir para cada praça entre São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. 

O abalo de poder ocorre porque a Globo tem agora dois concorrentes que investiram pesado na compra de direitos do torneio. O Facebook desembolsou um valor tão alto quanto o pago pela emissora e garantiu jogos exclusivos às quintas-feiras, seguindo os novos moldes do contrato. Já a Fox é detentora exclusiva dos jogos às terças. 

LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA  LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Como chegam os brasileiros?

A Libertadores segue como prioridade dos brasileiros em meio a um calendário doméstico inchado. O planejamento dos classificados foi norteado pela participação no torneio. Não à toa os maiores investimentos da temporada foram feitos clubes como Palmeiras e Flamengo, que juntos desembolsaram mais de R$ 180 milhões.

Como as sete equipes brasileiras chegam para a Libertadores 2019?

Alexandre Vidal / Flamengo

Flamengo: um sonho de 38 anos

Estreia: terça-feira, 19h15, contra o San José na Bolívia (Grupo D)

Campeão de 1981, o Flamengo encara a Libertadores 2019 com o impacto de mais de R$ 100 milhões em investimentos. O objetivo é conquistar o título que virou obsessão nos bastidores do clube - e sinônimo de fracasso nos últimos anos. 

Rodrigo Caio (R$ 22 milhões), Gabigol (sem custo de compra, mas salários acima de R$ 1 milhão), Arrascaeta (R$ 63 milhões) e Bruno Henrique (R$ 23 milhões) empolgaram a torcida. Mas o desempenho do time ainda deixa a desejar no Carioca.

Abel Braga busca a formação ideal e esbarra na irregularidade de Arrascaeta. A dúvida é sobre quem deixa o time titular. Para o técnico, Cuéllar, Willian Arão e Diego formam a base do meio-campo. Assim, o uruguaio ou Everton Ribeiro ficarão no banco de reservas, já que Bruno Henrique e Gabigol completam o ataque.

NELSON ALMEIDA / AFP

Athletico: base campeã da Sul-Americana

Estreia: terça-feira, 21h30, contra o Tolima na Colômbia (Grupo G)

O Athletico chega para sua sexta Libertadores com poucas perdas em relação ao time que venceu a Sul-Americana em 2018. Dos titulares, apenas Pablo e Raphael Veiga deixaram o clube. Chegou o atacante Marco Ruben, ex-Rosario Central. 

O clube não fez grandes investimentos, apostando em jogadores em final de contrato ou empréstimos. O dinheiro das contratações bancou renovações de destaques do time, casos de Renan Lodi, Bruno Guimarães e do técnico Tiago Nunes.

O time não fez nenhum jogo oficial na temporada até aqui (o Furacão disputa o Paranaense com um elenco alternativo), mas venceu os dois amistosos que disputou. O lateral-direito Madson, ex-Grêmio, e o atacante Brian Romero, ex-Independiente, chegaram também com a missão de ajudar o Athletico a ir à final pela segunda vez.
 

Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

Atlético-MG: fé em Cazares e Ricardo Oliveira

Estreia: quarta-feira, 19h15, contra o Cerro no Mineirão (Grupo E)

Juan Cazares e Ricardo Oliveira são os principais nomes do Atlético-MG na temporada. A dupla participou de 52% dos 25 gols da equipe no ano, na etapa prévia da Libertadores e no Mineiro.

O Atlético-MG fez sete contratações para 2019. O clube se reforçou com o lateral direito Guga, os zagueiros Réver e Igor Rabello, o volante Jair, o meia Vinícius e os atacantes Maicon e Papagaio. Foram mais de R$ 20 milhões em reforços. 

Na partida de estreia na fase de grupos, Yimmi Chará deve retomar a condição de titular, com Elias voltando ao meio-campo.

Ricardo Duarte/Inter

Inter: à espera de Guerrero

Estreia: quarta-feira, 19h15, contra o Palestino no Chile (Grupo A)

O Inter volta à Libertadores após quatro anos, mas sem grandes investimentos e ainda à procura de um time ideal. No Gauchão, o rendimento ficou bem abaixo do esperado e também se mostrou diferente do desempenho do Brasileiro 2018.

Guerrero segue suspenso e só deve atuar nas duas partidas finais da fase de grupos. Já D'Alessandro perdeu espaço por questões físicas e o ataque depende bastante de Nico López. 

Os reforços do clube foram: Bruno (lateral direito, ex-Bahia), Lindoso (volante, ex-Botafogo), Matheus Galdezani (volante, ex-Atlético-MG), Neilton (atacante, ex-Vitória), Rafael Sobis (atacante, ex-Cruzeiro), Tréllez (atacante, ex-São Paulo), Parede (atacante, ex-Coritiba).

Lucas Uebel/Grêmio

Grêmio: mais preparado do que em 2018

Estreia: quarta-feira, 21h30, contra o Rosario na Argentina (Grupo H)

Invicto em 2019, o Grêmio entra na Libertadores com um elenco mais encorpado na comparação com o ano passado. Diego Tardelli, principal reforço da temporada, ainda não estreou e com isso o time considerado ideal não foi a campo.

A escalação em si tem poucas mudanças em relação à equipe que parou na semifinal de 2018 - Marcelo Grohe, Cícero e Ramiro saíram. Neste início de temporada, Marinho e Pepê (reserva de Everton) são os principais destaques individuais. Coletivamente, a defesa segue em alta com Geromel e Kannemann e Luan continua com liberdade total à frente da área adversária.

Além de Tardelli, que vem do Shandong Luneng, da China, o Grêmio contratou Rômulo (volante, ex-Flamengo), Julio Cesar (goleiro, ex-Fluminense), Montoya (meia-atacante, ex-Cruz Azul) e Felipe Vizeu (atacante, ex-Udinese).

Ale Cabral/AGIF

Palmeiras: uma obsessão milionária

Estreia: quarta-feira, 21h30, contra o Junior na Colômbia (Grupo F)

O Palmeiras chega à Libertadores com a pressão da torcida, que chama a competição de obsessão. Com investimentos milionários para manter a base do time campeão de 2018 e ainda reforçar o elenco, o time tem a conquista da América como o principal objetivo da temporada.

Para 2019, o clube contratou Arthur Cabral (R$ 5,5 milhões), Zé Rafael (R$ 15 milhões), Matheus Fernandes (R$ 16 milhões), Carlos Eduardo (R$ 23 milhões), Felipe Pires (empréstimo) e Ricardo Goulart (também por empréstimo).

A dúvida atual de Luiz Felipe Scolari: quem será o outro ponta além de Dudu. Carlos Eduardo larga em vantagem. Assim, o time deve ter essa formação na estreia: Weverton, Mayke, Edu Dracena, Antônio Carlos e Diogo Barbosa; Felipe Melo, Bruno Henrique e Ricardo Goulart; Dudu, Carlos Eduardo e Borja.

Vinnicius Silva/Cruzeiro

Cruzeiro: mais forte na meta do tri

Estreia: quinta-feira, 19h, contra o Huracán na Argentina (Grupo B)

O Cruzeiro chega como um dos favoritos ao título. Sua única grande perda foi o uruguaio De Arrascaeta, que partiu para o Flamengo. Mas o time se reforçou com Jadson, Dodô, Orejuela, Marquinhos Gabriel e Rodriguinho. 

O discurso da diretoria é de elenco fechado, mas o clube ainda deseja algum velocista para os lados do campo. Atualmente, somente David faz essa função. 

O técnico Mano Menezes terá como principal desafio tentar arrumar uma maneira de fazer Rodriguinho e Thiago Neves atuarem juntos sem perder a qualidade na marcação do meio-campo. Isso pode mexer também com a dupla de volantes, hoje formada por Henrique e Lucas Silva.

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