A verdade sobre Orlando Lelé

Há quase 20 anos, um ex-jogador da seleção morreu e ninguém sabia muito bem o que tinha acontecido com ele

Bruno Doro e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo

Orlando Lelé era um lateral direito forte, dono de um chute potente, exemplar típico do futebol brasileiro dos anos 70. Naquele tempo, o jogador de futebol era dividido em dois tipos: os habilidosos, que driblavam, e os brucutus, que batiam. Orlando diferenciava, era os dois.

Chegou a defender a seleção brasileira, fez sucesso no Vasco. Quando parou de jogar, virou treinador. Mas a história que vamos contar aqui não é a do campo, mas a que aconteceu fora dele. Mais precisamente nos últimos anos de vida do jogador, que morreu em 4 de setembro de 1999.

Em 1998, Orlando tinha 49 anos quando sofreu um acidente doméstico e ficou tetraplégico. Em seu último ano de vida, só mexia a cabeça e não falava. Ninguém sabe, exatamente, o que aconteceu para colocar Orlando em uma cama. A ideia dessa matéria surgiu de um jornalista que nasceu em Santos e lembrou de uma lenda urbana: “Por que não falamos do Orlando Lelé? Todo mundo diz que ele morreu depois de levar uma surra de capangas de um político em Brasília”.

Foi aí que começou a investigação.

A lenda urbana: um deputado mandou dar uma surra

Orlando nasceu em Santos em 1949 e morreu em São Vicente, 50 anos depois. Apesar de ser a maior cidade do litoral paulista e contar com um dos times mais vitoriosos do futebol brasileiro, Santos mantém o ar de cidade pequena. Boatos circulam por grupos de amigos. Um deles era sobre Orlando Lelé.

O ex-jogador do Santos (e um dos poucos a treinar os três times da Baixada, Santos, Jabaquara e Portuguesa Santista) teria se envolvido com a amante de um deputado poderoso de Brasília. O relacionamento teria desagradado tanto o político que ele resolveu dar uma surra no rival.

Algumas versões falavam em dois capangas levando Orlando para um sítio, onde ele foi espancado até perder a consciência. Outras, que ele tinha sido atropelado de propósito. Tem gente, ainda, que acredita em uma surra no banheiro de um restaurante.

Qual era a verdade?

Como achar a família de Orlando Lelé?

Depois que Orlando morreu, a família saiu do radar da imprensa local. Foi por isso que a largada da investigação foi complicada: não tínhamos nenhum número de telefone para falar com Sueli, a viúva. Nesse contexto, a dica que recebemos de um jornalista das antigas de Santos foi preciosa. Ele disse para ligar para uma padaria em São Vicente que Orlando e a família costumavam frequentar. Lá, chegamos ao primeiro personagem de nossa história.

Sueli, com quem Orlando fora casado desde a década de 1970, era freguesa frequente da padaria. Mas quem nos atendeu não tinha o seu telefone. Mas foi essa pessoa que deu a dica para procurar Osmar Alves Filho, o Marinho, ex-jogador de futebol e cunhado de Sueli. Mas esse conselho veio sem número: “Ele é dono de restaurante. Coloca o nome no Google que um número deve aparecer”. Fomos ao buscador, o número do estabelecimento estava publicado e ligamos para o negócio de Marinho. Foi nossa primeira entrevista.

Ao explicar sobre o que queríamos conversar, Marinho foi sincero. “Esse negócio está muito mal explicado. O que se conta aqui é que ele caiu no banheiro, mas a história não está bem esclarecida, não. O papo é que ele caiu no banheiro, bateu com a coluna e ficou tetraplégico. Mas sempre teve uma conversa que ele se envolveu com uma mulher em Brasília. Mas como a gente estava em Santos e aconteceu em Brasília, não sabemos a verdade”.

Marinho tem, hoje, 71 anos. Era amigo de Orlando desde a infância. Conheceu o ex-lateral aos 10 anos e se casou com a irmã de Sueli. Foi ele que intermediou o contato com a mulher de Orlando.

Eu não sei se bateram nele, se jogaram ele de algum lugar, se atropelaram. Isso ficou muito no ar. Muito mesmo. Nós nunca tivemos nomes ou local do que aconteceu

Marinho, concunhado de Orlando Lelé, sobre o acidente

Sueli, a viúva

Com o telefone de Sueli em mãos, surgiu uma questão: como abordar o acidente com ela? Afinal, teríamos de falar sobre infidelidade, amantes e a surra. E foi ela quem cuidou de Orlando entre o acidente e sua morte, um período de cerca de um ano doloroso para a família.

O papo começou com lembranças boas. Orlando e Sueli se conheceram em uma festa que Marinho, o mesmo que passou o seu telefone para a reportagem, se casaram. O ex-jogador tinha 19 anos quando a conheceu. Os dois foram casados por quase 30 anos e tiveram três filhos. Renata e Roberta, gêmeas, têm hoje 42 anos. Júnior tem 39.

“No ano que vem, faríamos 50 anos de casados”, conta Sueli. “Como marido e pai ele era maravilhoso. Gostava muito de passar tempo com a família. Nesse ponto ele era tranquilo”.

Mas em que ponto, então, ele não era tranquilo, Sueli?

“Ah, o ponto em que não é tranquilo é aquele... Você sabe como é jogador de futebol, principalmente na época dele. As maria-chuteiras ficavam em cima. Quer dizer: tinha que estar sempre atenta. Mesmo assim, às vezes ele escapava”, admite.

Foi aí que começamos a discutir a lenda urbana envolvendo seu marido. Sueli, você sabe o que aconteceu? “A gente está como você. Já ouvimos muitas coisas, só que a gente não estava com ele”.

As versões do que aconteceu

O número de possibilidades para o acidente é alto. Cada um dos amigos de Orlando com quem falamos tinha uma versão um pouquinho diferente do que aconteceu.

Abel Braga, o treinador que deixou o Fluminense no primeiro semestre, foi um dos procurados. Ao lado de Orlando, formou uma defesa no Vasco chamada de “Barreira do Inferno” – pela violência com que evitavam os atacantes. “Quando alguém parava com a bola na frente dele e balançava, ele ficava louco. Derrubava mesmo. E, se o árbitro estava longe, botava a mão no pescoço do cara, como se estivesse pedindo desculpas, mas metia os dois dedos, o dedão e o indicador, e apertava a garganta. ‘Na próxima que você balançar, eu te arrebento’. Era impossível brincar na frente dele. Se brincasse, era delegacia”, lembra Abel.

Mas o que aconteceu com ele, Abel? “Chegaram muitas versões. A que eu mais ouvi é que ele estava jantando e uns caras o pegaram e levaram para o banheiro”, conta. “Não tem como saber o que aconteceu, mas eu não acredito que tenha sido por ter saído com mulher casada. Bateram nele e teve a queda, mas não acredito na versão de ser por que estava com mulher casada”.

Marinho, o cunhado, também tem a sua versão. “Parece que teve um deputado federal envolvido. O Orlando foi ameaçado lá em Brasília e veio para a Portuguesa Santista. Passou cinco ou seis meses, e ele voltou para Brasília. Estava interessado no Rodrigo Beckham, aquele que jogou no Botafogo e no Corinthians. E o Orlando era meio garanhão. Parece que estava na rua conversando com a tal mulher e alguém passou e viu. Depois, pegaram ele para levar para uma chácara e deram uma surra”.

“A informação que chegou é que bateram nele a mando de um político grande de Brasília. Mas, pra gente, é superficial. Não temos absolutamente certeza de nada, é só uma história que ventila. Não sei se bateram ou se jogaram ele de algum lugar, se atropelaram. Ficou tudo no ar. Nunca tivemos nomes ou local, nada”, completa Raphael Vinicius Alves, sobrinho de Orlando e filho de Marinho.

O que Sueli sabe?

Quando falamos com Sueli, tínhamos várias perguntas, mas a principal ainda era: o marido falou o que aconteceu para ele acabar no hospital?

“Não tinha ninguém com ele que confirmasse o que foi. Na época, nós fomos para o hospital pensando na recuperação. Não apareceu nada, ninguém para falar”, conta.

“A gente não ficou procurando o que aconteceu, também. Queria que ele ficasse bom, que as cirurgias fossem um sucesso, que desse tudo certo, entendeu? É uma coisa que passa na vida da gente. Você acaba não querendo procurar o que aconteceu, quer ver as coisas resolvidas. Tanto que ele morreu de depressão, não falava. Estava com aquele tubo introduzido na traqueia porque não respirava bem. Então, não falava. E também não podia escrever, não mexia os braços”.

O que resume o sentimento de Sueli sobre o assunto é uma pergunta: pra que? “Eu não ligo mais. Quando ele morreu, acabou tudo isso. Se vinha alguém querendo saber, eu não comentava e hoje eu não quero saber sobre isso. Eu não tenho uma opinião formada e eu não quero nem ir atrás. Eu nunca quis saber se foi ou não a verdade. Pra quê eu vou saber? Pra sofrer? Um fala uma coisa, outro fala outra coisa. Pra quê eu vou querer saber de uma coisa que já passou?”

As mulheres e o futebol

Sueli admite que o ambiente do futebol não era muito dado à fidelidade. Ela lembra que, no Vasco, existia até uma força-tarefa para impedir as puladas de cerca. “As mulheres dos jogadores estavam sempre juntas e tomavam conta dos maridos das outras. Às vezes, a gente aparecia de surpresa nos treinos. Agora, não dava pra ficar 24 horas em cima, né? Senão a gente ficava louca”.

Foi no Vasco, aliás, que ele ganhou o apelido Lelé. Em Santos, ele sempre foi conhecido como Orlando Amarelo, apelido que recebeu por ser “pequeno e amarelinho” quando garoto. Ao chegar ao Rio de Janeiro, o nome mudou. Muita gente acha que o Lelé é uma referência ao seu pavio curto. Afinal, ele era “maluco” a ponto de, em um jogo da seleção brasileira no Maracanã, em 1975, dar uma gravata em um uruguaio no meio de uma briga generalizada.

"O Vasco da Gama tinha um jogador chamado Djalma Lelé na década de 40. Esse Lelé chutava muito. Como o Orlando chutava muito forte também, o pessoal começou a chamá-lo de Orlando Lelé. E aí pegou. O primeiro Lelé foi o do expresso do Vasco, o expresso da vitória. O segundo foi ele”. A história é contada por Washington Rodrigues, o Apolinho, radialista do Rio de Janeiro que chegou a ser técnico do Flamengo.

Apolinho era um dos melhores amigos de Orlando no Rio de Janeiro. Foi ele, inclusive, que conseguiu uma vaga para o ex-lateral fazer faculdade de educação física. Depois do curso superior, Orlando decidiu ser técnico. A carreira o obrigou a rodar pelo país, três meses em um clube, três meses em outro. Mudando tanto, não levava a família. E a queda por mulheres começou a pesar.

O Orlando era mulherengo?

Essa foi a pergunta que fizemos aos amigos que entrevistamos. A maioria preferiu não comentar. Alguns, porém, falaram sobre o assunto.

Foi o caso de Marola, ex-goleiro do Santos que conquistou o título do Campeonato Goiano com o Goiatuba em 1992. Orlando Lelé era o técnico daquela equipe. É verdade que ele era mulherengo, Marola?

“Um pouquinho, sim. Um pouquinho bastante”, respondeu, rindo. “Saíamos em algumas baladas com a mulherada, mas ele era gente fina pra caramba. Eu fiquei pouco no Goiatuba, acho que três meses só. Foram seis jogos, nos classificamos e teve o quadrangular final, mais seis jogos. Ele era muito gente boa como treinador. Gostava também de beber uma cervejinha, tinha lá um conjuntinho e o Orlando gostava de um barzinho, de uma lanchonete. Ele chegava pra acompanhar e foi isso que uniu, na época, o Goiatuba”.

Quem também falou sobre esse lado de Orlando foi José Benjamim Barbosa, vice-presidente de futebol do Goiatuba na época. “O Orlando era um cara muito largadão. Aqui, ele pegava todas. É uma linguagem grosseira, mas você me entendeu, né? E a Sueli descobriu. Quando ele estava no Vila Nova, foi preso em Goiânia por pensão alimentícia e toda a imprensa caiu em cima”.

O outro filho de Orlando Lelé

Quando o vice-presidente do Goiatuba falou em pensão-alimentícia, é claro que uma luz acendeu na cabeça deste que vos escreve. Se ele pagava pensão alimentícia, ele tinha um filho fora do casamento com Sueli. Será que os dois casos tinham ligação? Como a vida real não é novela, não existia uma ligação.

A prisão, porém, aconteceu. Foi em 1997, quando ele era técnico do Vila Nova, também de Goiás. O time o contratou depois do sucesso no Goiatuba. Em uma sexta-feira, o treino da equipe principal estava marcado para as 16 horas. Quando os jogadores entravam em campo, uma viatura de polícia parou no estacionamento.

“Eu estava lá quando a polícia baixou no treino. Parou o coletivo para levar para cadeia. Mas o delegado era vilanovense, amigo nosso. E eu falei: ‘Deixa que ele vai no meu carro’. Levamos, a polícia foi atrás. O delegado deixou ele na enfermaria da delegacia e a gente resolveu o problema”, conta Iron Gonçalves, hoje supervisor do Vila Nova – em 1997, ele era o preparador físico da comissão de Orlando Lelé.

O “resolveu o problema” foi o pagamento do atrasado. “Assustou todo mundo. Assustou os jogadores. Já imaginou você fazendo o apronto na sexta-feira para jogar no domingo? Mas no sábado de manhã, o Orlando já deu treino normalmente. Às 11 horas da noite de sexta-feira o presidente pagou os R$ 11 mil”, completa Iron.

Mona, ex-São Paulo, volante daquele time do Vila Nova, lembra do episódio: “Quando ele voltou, deu um sermão: ‘O problema que eu tive foi com esse negócio de pensão-alimentícia. Eu quero que vocês fiquem espertos: eu me envolvi com uma mulher e agora estourou isso aí. Vocês têm de tomar cuidado’”.

O que realmente deve ter acontecido

Nesse ponto da investigação, tínhamos duas certezas:

  1. O acidente aconteceu em Brasília;
  2. Foi grave.

E uma suspeita sem comprovação: o acidente poderia envolver uma mulher.

O próximo passo foi buscar pessoas ligadas ao Gama, clube que Orlando treinou, que, talvez, tenham se encontrado com ele naquela última viagem. Pensando nisso, chegamos em Antônio Alves do Nascimento Neto, presidente do Gama entre 1998 e 1999.

O relato que ele fez tem um nível de detalhes muito mais alto do que o de outras pessoas. Envolve horários, locais, pontos da lesão que não tinham sido ainda levantados. O Centro de Educação Jurídica da Universidade do Novo México, nos EUA, ensina que a credibilidade das testemunhas pode ser determinada pela “robustez do depoimento, quantidade de detalhes e a precisão sobre acontecimentos do passado”.

Tudo isso levou a reportagem a acreditar que a versão de Antônio Alves é a mais próxima do que realmente aconteceu entre todas as que ouvimos. É ela que você vai ler a seguir:

“É o seguinte: a mídia não publicou nada e a história toda ficou obscura. O que aconteceu foi isso aqui:

O Orlando Lelé estava sendo homenageado nos 100 anos de Vasco da Gama, em 1998. Ele foi receber a homenagem no Rio de Janeiro. Mas ele tinha uma amante aqui. E ele pegou essa mulher e foi receber a homenagem no Rio. Era para ela voltar sozinha do Rio, depois de ficar com ele por dois ou três dias. Mas o Orlando resolveu vir entregar ela aqui.

Eles chegaram às 7 horas da noite e começaram a tomar uma cervejinha. Tomaram a cervejinha, adormeceram e coisa e tal... Foram dormir. Certo momento da noite ele resolveu ir ao banheiro. Só que o Orlando tinha um vício muito sério: trancar a porta do banheiro. Mesmo em casa, sozinho, ele virava a chave. Era uma mania.

Nessa noite, ele devia estar sonolento ou bêbado. E caiu. Quando caiu, bateu a parte de trás da cabeça no bidê e desmaiou. Ficou sem voz, não conseguia gritar pelo socorro. Por volta das 5 horas da manhã, a mulher viu a porta trancada, bateu, bateu e só ouviu o sussurro. Chamou o corpo de bombeiro, que veio e abriu a porta. Aí começou a grande tragédia dele”.

E a história do deputado?

O nível de detalhes indica que a história tinha tudo para ser verdade. Só faltava uma coisa: e o político importante que teria ordenado a surra? Esse era um ponto de intersecção de todas as versões da lenda urbana que circulava por Santos. E o simples fato de o acidente ter acontecido em Brasília, a terra da política, parecia ser um argumento frágil demais para a repercussão que o detalhe ganhou.

Foi novamente Antônio Alves quem veio com a resposta. “Essa mulher já tinha sido secretária de um político. Mas eu acho que era solteira na época. Então, não houve nada de agressão, bofetada, tiro, nem esse tipo de coisa, não. Só o acidente”.

E ele ainda completa: “Eu não lembro o nome dela. Mas o Orlando teve um filho com uma outra mulher aqui em Brasília. Com a do acidente ele não teve, mas teve um filho com uma outra mulher. Várias vezes criaram situações aqui”, conta, antes de lembrar de mais uma prisão por pensão-alimentícia durante um treino, agora no Gama.

“A Sueli não sabia. Ou de repente sabe. Até porque o menino já é maior de idade. Então a história verdadeira é essa aí. Eu sei porque ele trabalhava comigo”.

Parece a mesma história do Vila Nova, certo? Deve ser, afinal Orlando treinou os dois times em 1997. Nenhuma das fontes que conversamos, porém, lembrou do nome da mulher e do filho para confirmarmos. E as autoridades policiais afirmaram não poder falar sobre o caso com a imprensa.

O último ano de Orlando Lelé

O trauma no banheiro e a demora no atendimento foram cruciais: com lesões no crânio e na coluna cervical, ele chegou ao hospital sem movimentos. Orlando ficou alguns dias em Brasília, até que a Unicor, então patrocinadora do Santos, mandou um avião para buscá-lo.

Em São Vicente, a casa que comprou com o dinheiro do futebol teve de ser adaptada. O dinheiro para a reforma veio de uma fonte que não queria que seu nome aparecesse. “Como você soube disso?”, perguntou o ex-goleiro Leão. Após explicar que foi Sueli, a viúva, quem contou a história, o tricampeão do mundo com a seleção baixou a guarda. “Nós jogamos no Vasco e na seleção brasileira, mas este episódio é silencioso. Quando a gente ajuda as pessoas, não precisa fazer propaganda. Pelo menos eu sou assim”.

O curioso é que foi justamente com uma propaganda que Leão, então técnico do Santos, ajudou. “Eu estava fazendo propaganda para uma faculdade de educação física em Santos e cobrei um cachê. Eram alguns outdoors pela cidade. Quando soube que a família precisava fazer algumas adaptações na casa para o Orlando viver melhor, doei o cachê todinho”.

O dinheiro para mantê-lo veio de uma ajuda do Vasco: a pensão por invalidez foi conquistada após esforço de Eurico Miranda, então presidente do clube carioca, e do dirigente Isaias Tinoco.

A morte

Orlando morreu no dia 4 de setembro de 1999, em São Vicente (SP). A causa oficial foi embolia pulmonar. Sueli, a viúva, diz que foi depressão. “Imagina uma pessoa como o Orlando, que nunca parava, consciente, mas sem conseguir se mexer, mover os braços, falar direito. Falaram em embolia, mas talvez tenha sido muito mais pela depressão”.

O que fica?

“Eu conheci o Orlando no Chico de Paula, um bairro em Santos. Ele morava em Santos e eu, em São Vicente e existiam aqueles bailinhos de fundo de garagem. Eu tinha 17 anos e o Orlando, 19. Namoramos por três anos, eu me casei com 20. Temos três filhos. São duas meninas gêmeas, Renata e Roberta, e um menino. Elas têm 42 anos e o menino tem o nome do pai, Orlando Júnior. Ele tem 39. Meu filho nunca gostou de futebol. No ano que vem, faria 50 anos de casada. Então, eu fui casada quase 30 anos com o Orlando”.

Quem conheceu Orlando Lelé lembra:

Nós jogamos no Vasco e na seleção brasileira. Era um jogador bem-dotado fisicamente e sabia usar isso aí em prol da carreira dele. Por isso que ele foi titular em grandes equipes. E ele nunca foi relapso com horários ou em relação à dedicação. Era do ramo mesmo, não tinha conversinha mole

Emerson Leão, goleiro que jogou com Orlando no Vasco da Gama

Eu tinha 22 anos e ele tinha sido meu treinador na Portuguesa Santista. Quando assumiu o Gama, fez esse convite pra ir pra lá. Tinha uma personalidade muito intensa. Era um líder, gostava muito de competir, de vencer. Os times em que ele trabalhou tinham muito dessa personalidade dele

Rodrigo Beckham, ex-Botafogo e Corinthians, um dos jogadores que trabalhou com o técnico Orlando Lelé

À noite, depois de um dia de trabalho, ele sentava comigo e começava a dizer o que pretendia fazer. Tinha lá o plano tático dele. Pedia muita opinião. Um belo dia, me disse: "Ó, eu vou falar pra você, mas você não pode publicar: Eu vou barrar o Roberto Dinamite"

Washington Rodrigues, o Apolinho, radialista e um dos melhores amigos de Orlando

Eu falei: "Xiiiii, então amanhã nós vamos comprar o Jornal do Brasil". Ele perguntou se era para ver a notícia. E eu disse que não: "Pra procurar emprego pra você. Você vai barrar o Roberto Dinamite e vai ser demitido, né..." E ele barrou o Roberto Dinamite e foi demitido

Apolinho, lembrando que foi em sua casa que Orlando ficou enquanto era técnico do Vasco nos anos 80

Num treino no Vasco, eu e o Orlando combinamos de dar umas porradas em um atacante. No meio do treino, um cara na arquibancada gritou: "quem é o cavalo?" Pulei o alambrado para tirar satisfação. O Orlando veio junto. Eram dois ou três. Perguntei quem tinha gritado. Quando um disse "eu não fui", foi nele mesmo que eu dei

Abel Braga, ex-companheiro de Orlando no Vasco

Depois, o presidente chamou no escritório dele. Eu e o Orlando. Chegamos e o presidente falou assim: "Eu chamei vocês para dar os parabéns. Eu até pensei em repreender, mas não vou fazer isso, não, porque vocês estão trabalhando e os caras não podem ficar fuxicando. Só pode xingar em dia de jogo"

Abel Braga

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