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Surfista acusa CBSurf de culpar atletas e dispara: "destruíram o meu sonho"

Larissa dos Santos representaria o Brasil no ISA Games 2018 - Arquivo Pessoal
Larissa dos Santos representaria o Brasil no ISA Games 2018 Imagem: Arquivo Pessoal

Gustavo Setti

Do UOL, em São Paulo

14/09/2018 04h00

Larissa dos Santos era uma das integrantes da equipe de seis surfistas (três no masculino e três no feminino) que iria representar o Brasil no ISA World Surfing Games 2018, que ocorre de 15 a 22 de setembro no Japão. Porém, a atleta cearense foi pega de surpresa, junto com o restante do time, com a decisão da Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) de não enviar o time brasileiro para a competição, que dará duas vagas por gênero nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019, por dificuldades com logística e organização.

Além de Larissa, os representantes brasileiros seriam Ian Gouveia, que integra o Circuito Mundial de Surfe, Geovane Ferreira, Marcos Corrêa, Gil Ferreira e Anne dos Santos.

Na noite da última quarta-feira (12), eles foram informados pela CBSurf do cancelamento da viagem em um grupo de WhatsApp. “Pessoal, é com imensa frustração que a CBSurf vem comunicar a vocês que nossa delegação não mais irá para o Japão. Nos últimos 45 dias, Adalvo (Argolo, presidente da CBSurf) e eu estamos trabalhando neste projeto dia e noite. Creio que vocês têm acompanhado o nosso esforço. O fato é que a demora na obtenção dos vistos tornou ainda mais difícil a nossa missão. No final das contas, foi impossível a compra das passagens, a viabilização do hotel, da alimentação e também do transporte no Japão”, disse a entidade.

“O fato é que, hoje, o sistema de compras de passagens do COB não encontrou voos que não fossem pelos Estados Unidos, mas, como nenhuma das três meninas tem visto americano, nós não podemos ir para o Japão apenas com os homens. Estamos frustrados com esta situação, principalmente depois de todo o esforço que nos empreendemos, mas a situação se tornou impossível de resolver”, finalizou.

A cearense acredita que a CBSurf usou a falta de vistos das atletas como “desculpa” para não ter viabilizado a viagem. “Antes de cancelar, eles deram todas as esperanças, falaram que a gente viajaria na quinta (13), e eu peguei o visto na terça-feira (11). Depois, colocaram a culpa nas três meninas, porque a gente não tinha o visto americano. A partir do momento que recebi essa mensagem, foi frustrante. Era um dos meus maiores sonhos, e eles destruíram esse sonho. Chorei muito. Abalou o meu psicológico, minhas malas estavam prontas e estão aqui do meu lado. O que eles estão falando sobre o visto não tem nada a ver. É bem difícil lidar com tudo isso”, disse ao UOL Esporte.

“Quando vi a mensagem, soltei o celular e comecei a chorar. Não acreditei que não iria. Fiz de tudo para poder me destacar, não estou com patrocínio, peguei o visto na terça-feira, depois disseram que não íamos mais”, afirmou.

Ao UOL Esporte, a CBSurf explicou que teve problemas para conseguir os vistos japoneses, e, como só poderia comprar as passagens com a documentação em dia, a decisão ficou para última hora. Além disso, a entidade também teve dificuldade para cumprir normas do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) em relação à cotação de preços de passagem, hospedagem, alimentação e transporte. Por se tratar de recurso público, a confederação deve apresentar diferentes propostas e valores para viabilizar a viagem.

Ainda de acordo com a CBSurf, o ultimato de não mandar a equipe brasileira ao Japão foi tomado para evitar o risco de ter a prestação de contas rejeitada. Neste caso, a entidade pararia de receber recursos do COB e teria que devolver o dinheiro gasto no Japão, que seria em torno de R$ 200 mil. A confederação diz que não tem patrocinadores e apenas recebe a verba da Lei Agnelo/Piva.

Sonho olímpico

Larissa dos Santos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Larissa dos Santos se destacou no CBSurf Tour 2018
Imagem: Arquivo Pessoal

Larissa conseguiu a vaga no torneio do Japão após se destacar no CBSurf Tour. A jovem de 20 anos foi campeã da primeira etapa e terminou com o vice no segundo evento do campeonato brasileiro. Fora do ISA Games 2018, a cearense e os demais atletas ainda terão outras chances de conseguirem a vaga no Pan de 2019, que é justamente o plano da surfista. Ela ainda almeja até um lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

“Esse era um dos meus sonhos, participar do ISA e conseguir minha vaga para os Jogos Pan-Americanos e, no Pan, conseguir minha vaga para a Olimpíada. Queira ou não queira, esse sonho foi destruído. Estou bem triste, é bem frustrante, mas acredito que Deus está preparando algo grande para mim. Estou sendo bem forte, porque sei que não abalou só comigo”, declarou.

Com a viagem cancelada, agora ela foca em se recuperar para alcançar outros objetivos na carreira profissional. “Tudo isso serve de aprendizado, de força, determinação e bola pra frente. Creio que coisas grandes virão. Temos que batalhar pelos nossos sonhos pra que eu possa chegar onde quero, que é no WCT. Sei que uma hora vai chegar. Se não foi dessa vez, coisas grandes virão pela frente”, finalizou.