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Sem tecnologia, tenistas dão chilique em briga com árbitros no saibro

Victoria Azarenka é uma das atletas que protagonizaram brigas com árbitros no saibro - AFP PHOTO / Filippo MONTEFORTE
Victoria Azarenka é uma das atletas que protagonizaram brigas com árbitros no saibro Imagem: AFP PHOTO / Filippo MONTEFORTE

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

18/05/2013 06h02

O tênis é um esporte de 'lordes'. Atletas pedem desculpa ao adversário quando fazem uma jogada bonita, cumprimentam árbitros, fazem reverência à nobreza e nunca perdem a linha. Quase nunca. Sem o recurso tecnológico, os jogadores têm protagonizado verdadeiros chiliques em brigas com os juízes de cadeira nos principais torneios de saibro do mundo.

Nos Masters 1000 de Madri e Roma, eles não se intimidaram com a torcida ou com as câmeras na hora de discordar de uma marcação. Quebraram raquetes, esbravejaram, ironizaram juízes e até arrastaram uma câmera para focar a marca na quadra.

Este problema costuma ser evitado nos torneios que usam outro tipo de piso porque existe o desafio – recurso tecnológico em que o tenista tem direito ao tira-teima caso se sinta prejudicado. Mas no saibro, como a marca da bola fica na terra batida, o sistema não foi adotado.

O maior exemplo de chilique foi o do sérvio Viktor Troicki no duelo contra o letão Ernests Gulbis, pela segunda rodada. Em um lance da partida após ter o saque quebrado, ele reclamou, o árbitro conferiu a marca, mas manteve sua decisão.

Depois de gritar, esbravejar e insistir em tentar convencê-lo, o sérvio ameaçou abandonar o jogo. Em seguida, ironizou olhando para o céu: "Até do espaço dá para ver que foi dentro!" para risos do público. Troicki tomou uma atitude ainda mais inusitada: arrastou um cinegrafista de uma emissora de televisão até o local para filmar a marca.

Na partida entre o polonês Jerzy Janowicz e Richard Gasquet, pelas oitavas de final, o problema também se repetiu. O francês se exaltou após o árbitro voltar atrás em uma marcação a pedido do rival.  Em outro confronto da mesma fase, Gulbis também brigou com o juiz e chegou a ser vaiado pela torcida. Até o adversário Rafael Nadal se irritou e fez suas críticas.

“Gulbis é um jogador fantástico, mas ele precisa se segurar um pouco. Ele pediu muitas vezes para o árbitro olhar a marca. Não faço isso e não gosto dessa atitude, mas todos são livres. Ele precisa se acalmar um pouco”, afirmou.

Na opinião do blogueiro do UOL Esporte e editor do site Tenisbrasil, José Nilton Dalcim, o número de reclamações tem sido acima do normal. Como agravante, os árbitros têm, de fato, cometido muitos erros. Em sua visão, os torneios de saibro também vão ter que se adequar e implementar o sistema de desafio.

“É uma situação anormal. Tradicionalmente as quadras de saibro têm a marcação na quadra. Não há recursos eletrônicos porque se entende que a marca da bola é suficiente. Tem havido muitas queixas e, de acordo com o que a TV está mostrando, os árbitros estão errando. Não no julgamento da bola, mas em acertar qual marca é a real daquele lance. Acho que devem passar a considerar o uso eletrônico também no saibro. Não é tão impossível assim”, disse.

Segundo ele, a resistência para o uso do recurso é o alto custo de instalação e a manutenção dos equipamentos. Para cada quadra, são necessários cerca de 150 mil dólares de investimento.

Outro problema que gerou discussão entre jogadores e árbitros nos Masters 1000 é a contagem do tempo que o tenista tem para executar o saque. Segundo a regra, não é permitido ultrapassar 25 segundos.

Também no duelo entre Jerzy Janowicz e Richard Gasquet, o polonês reclamou muito após levar advertência por demorar mais de 25 segundos para executar seu serviço. Janowicz ficou tão irritado que se recusou a olhar para o árbitro ao cumprimentá-lo no fim do jogo.

Para Dalcim, este problema também poderia ser evitado com uma medida simples: o uso de um relógio para cronometrar o tempo. “É uma questão que nunca fica bem resolvida. Djokovic e Nadal, por exemplo, costumam extrapolar muito o tempo. Os árbitros agora estão pegando no pé. Poderia ser adotado um reloginho igual no basquete. Poderia haver um cronômetro que marca 25 segundos e a discussão terá acabado”.

Mas a tecnologia não é capaz de resolver todos os problemas observados nos últimos torneios. Em mais um lance da polêmica partida de Janowicz, o juiz novamente virou foco ao não ver um erro de Gasquet. O francês deixou a bola bater no chão duas vezes antes que ela voltasse para o outro lado da quadra e, ainda assim, acabou levando o ponto.

E as mulheres também perderam a cabeça. Foi o caso de Victoria Azarenka na derrota para a russa Ekaterina Makarova no Masters 1000 de Madri. Após a bielorrussa quebrar a raquete no chão, a árbitra portuguesa Mariana Alves anunciou que seria a segunda advertência da atleta – a primeira teria sido por falar um palavrão.

Azarenka ficou inconformada. "Você está brincando comigo? Eu não disse nada. O que você está falando?”, disse. “Você tem que estar brincando comigo! Como você ainda está no banco? Depois de tudo que você fez, como você ainda está no jogo?", esbravejou.