Topo

Ostapenko e Guga: as coincidências de dois contos de fadas

Guga levanta o título em 1997, e Ostapenko repete o conto de fadas em 2017 - Remy de la Mauviniere - 1997/AP e Francois Xavier - 2017/AFP
Guga levanta o título em 1997, e Ostapenko repete o conto de fadas em 2017 Imagem: Remy de la Mauviniere - 1997/AP e Francois Xavier - 2017/AFP

Beatriz Cesarini e Fernando Narazaki

Do UOL, em São Paulo

10/06/2017 20h45

É inevitável ver a trajetória da da letã Jelena Ostapenko e não lembrar de Gustavo Kuerten. Os dois foram campeões de Roland Garros sendo meros desconhecidos no torneio, coroando uma caminhada digna de conto de fadas.

Porém a campanha dos dois tem muito mais coincidências do que o fato de a tenista ter nascido em 8 de junho de 1997, exatamente o dia em que o brasileiro levantou o seu primeiro título de Roland Garros.

Dois dias após completar 20 anos, Ostapenko levantou a taça ao vencer a favorita Simona Halep por 2 sets a 1, com parciais de 4-6, 6-4 e 6-3, na decisão deste sábado. Foi o primeiro título da história de uma tenista da Letônia no evento, assim como Guga fizera em 1997 ao vencer o espanhol Sergi Bruguera por 3 sets a 0, com parciais de 6-3, 6-4 e 6-2, dando uma conquista inédita ao país na era aberta, iniciada em 1968.

A dupla campeã veio de países com pouca tradição na modalidade. No Brasil, Maria Esther Bueno ganhou sete títulos de simples em torneios de Grand Slam, mas todos antes da era aberta. No masculino, os maiores destaques foram Thomaz Koch e Luiz Mattar nas simples, e Carlos Alberto Kirmayr e Cassio Motta nas duplas, mas todos sem títulos nos principais torneios. Já na Letônia, o grande nome da modalidade foi Ernests Gulbis, que chegou a ser décimo do mundo em 2014.

Assim como Guga em 97, Ostapenko nunca tinha vencido um título de WTA na carreira. Antes de vencer em Paris, o brasileiro jamais tinha levantado taças de ATP. Além disso, ambos os atletas foram campeões sem estarem entre os cabeças de chave do torneio. Guga era o 66º colocado no ranking no início de Roland Garros, enquanto a letã é a atual 47ª do ranking. Com o título inédito, Guga subiu para o 15º lugar e Ostapenko assumirá a 12ª posição na segunda-feira.

Outra coincidência é o fato de o título vir justamente na segunda participação no torneio parisiense e ambos haviam caído na primeira rodada no ano anterior à conquista. Em 1996, Guga perdeu para o sul-africano Wayne Ferreira por 3 sets a 0 (6-4, 7-5 e 7-6), enquanto Ostapenko caiu diante da japonesa Naomi Osaka por 2 sets a 0 (6-4 e 7-5) em 2016.

No ano seguinte, porém, o conto de fadas se realizou para a dupla com um roteiro bem parecido. Os dois mostraram capacidade para reagir a um placar adverso, exibiram um tênis agressivo, impondo seu jogo sobre os oponentes e repetiram seguidamente a frase: "Eu jamais esperava alcançar isso".

Guga ganhou três partidas de virada (o austríaco Thomas Muster, o ucraniano Andrei Medvedev e o russo Yevgeny Kafelnikov) e a letã eliminou quatro adversárias após estar atrás no placar. Além de Halep na final, ela superou a norte-americana Louisa Chirico (4-6, 6-3 e 6-2), a australiana Samantha Stosur (2-6, 6-2 e 6-4) e a dinamarquesa Caroline Wozniacki (4-6, 6-2 e 6-2), depois de perder o primeiro set.

Os dois campeões apostaram em um jogo agressivo para ganhar. Guga surpreendeu os rivais com uma inesquecível paralela de esquerda. A letã também apostou nos winners com a esquerda para vencer Halep. Foram 26 pontos vencedores com o backhand, enquanto o forehand deu 24 winners.

Por fim, outra coincidência é o laço familiar dos campeões com o tênis. O pai de Guga era árbitro de tênis e morreu enquanto arbitrava um jogo em Curitiba. Na época, Guga tinha oito anos de idade. Já a mãe de Ostapenko, Jelena Jakovlev, é sua técnica. Após tantas coincidências, resta saber se Jelena Ostapenko conseguirá manter o sucesso como fez o brasileiro, que posteriormente ainda ganhou mais duas vezes em Roland Garros e foi número um do mundo.