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Acusações de doping e vestiário neutro: a luta de um tenista transexual

Zach Brookes se assumiu como transexual aos 18 anos - Reprodução/Birmingham Mail
Zach Brookes se assumiu como transexual aos 18 anos Imagem: Reprodução/Birmingham Mail

Do UOL, em São Paulo

11/06/2017 04h00

Dos 7 aos 18 anos, Melissa Brookes jogou tênis entre as mulheres. E nunca se sentiu confortável com isso. Dentro e fora das quadras, ela não se identificava com outras meninas. Só depois que ela se assumiu como homem as coisas começaram a fazer mais sentido. Hoje, Zach Brookes joga de igual para igual na chave masculina.

Esse britânico de 22 anos usa sua pouca e intensa experiência para levantar a bandeira dos transexuais no esporte. O tênis, segundo ele, foi e é um de seus principais aliados no processo de transição para o sexo masculino.

"Sei o que quero conquistar no tênis, mas só de estar envolvido com o esporte já é algo que muda a  vida profundamente se você é trans. O esporte é fundamental na confiança para seguir adiante na carreira e na vida", disse ele à emissora de televisão "Sky Sports".

Dos 19 aos 21 anos, inclusive, Zach não só se adaptou ao mundo masculino do tênis como ostentou longa série de invencibilidade. Mas ainda assim havia algo estranho: ele não contava aos adversários que havia nascido menina.

"Era uma situação difícil", resumiu. Federação local e seu treinador não só sabiam de sua mudança de sexo como o apoiaram desde o começo.

No entanto, ele não se viu livre de problemas. Preconceito e falta de informação exigiram bastante de Zach. O tratamento que faz com hormônios, por exemplo, lhe rendeu até uma polêmica sobre doping.

"Quando estava disputando um torneio regional, alguns pais me acusaram de doping. Eles não sabiam nada sobre a transexualidade. Achavam que eu era trapaceiro porque injetava hormônios, mas os hormônios são para a minha vida. Eles precisam entender que não é algo para me dopar", argumentou.

Outro desconforto aconteceu quando ele foi vetado de usar o vestiário masculino. "Uma professora me pediu para usar o feminino, mas recusei. Acabei indo para o banheiro para pessoas com deficiência".

A presença de vestiários neutros em estruturas esportivas é uma de suas reivindicações, assim como a redução da burocracia que, segundo ele, um atleta trans enfrenta quando quer jogar em outro país. De acordo com Zach, a força para enfrentar tudo isso vem do tênis.

"O tênis é parte de mim. Ele me fez mais independente e me deu um foco, uma maneira de expressar quem realmente sou. Sinto que o tênis salvou minha vida".

A transexual pioneira

Renee Richards tornou-se a primeira transexual a jogar um torneio profissional - AP/Dave Pickoff - AP/Dave Pickoff
Renee Richards tornou-se a primeira transexual a jogar um torneio profissional
Imagem: AP/Dave Pickoff

O caso não é inédito no tênis. Em 1977, Renee Richards tornou-se a primeira transexual a jogar um torneio profissional ao disputar o Aberto dos EUA.

Renee foi batizada como Richard Raskind, integrou a equipe masculina de tênis da Universidade de Yale, mas abandonou o esporte e tornou-se oftalmologista.

Em 1975, aos 40 anos, ela realizou a operação para mudança de sexo e voltou a disputar torneios de tênis, mas agora entre as mulheres. A sua participação foi proibida no Aberto dos EUA e seus críticos alegavam que era injusto incuí-la em torneios femininos, pois ela teria "vantagem" sobre as rivais.

"Nunca tive a intenção de jogar o Aberto dos EUA, mas quando eles me proibiram, tudo mudou. Você não pode dizer o que posso ou não fazer. Eu sou mulher e se quiser jogar o Aberto dos EUA como mulher, eu vou jogar", disse.

Após muita polêmica e até um boicote de 20 tenistas ao torneio em solidariedade a Renee, a sua participação foi liberada e ela jogou o Aberto dos EUA.