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Melo, rei de Wimbledon: apostas com Federer e banheiro antes do match point

Marcelo Melo venceu Wimbledon pela primeira vez, voltou a ser nº 1 do mundo e viveu emoções para não esquecer - Getty Images e Reprodução/Instagram
Marcelo Melo venceu Wimbledon pela primeira vez, voltou a ser nº 1 do mundo e viveu emoções para não esquecer Imagem: Getty Images e Reprodução/Instagram

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

21/07/2017 04h00

Quem sofreu com Marcelo Melo na dramática final de duplas de Wimbledon, no último sábado, provavelmente não conhece toda a intensidade das semanas de competição do brasileiro na cultuada grama de Londres. Antes de se tornar campeão do Grand Slam, o tenista de 33 anos viveu emoções distintas, dentro de quadra, ou nos bastidores do All England Lawn Tennis and Croquet Club, onde o torneio é disputado.

Melo venceu Wimbledon ao lado do polonês Lukasz Kubot, graças à vitória na decisão por 3 sets a 2 sobre o austríaco Oliver Marach e o croata Mate Pavic (parciais de 5/7, 7/5, 7/6(7-2), 3/6 e 13/11). Foram 4h40 de jogo antes de erguer o troféu, o segundo Grand Slam do brasileiro, que venceu Roland Garros em 2015, com outro parceiro.

Abaixo o UOL conta algumas das histórias vividas por Melo na histórica conquista. 

"Parceiragem" com Federer: pebolim e apostas

Dentro do circuito, Roger Federer não se comporta como a lenda do esporte, mas sim como um tenista a mais. Na semana antes de Wimbledon, durante o ATP 500 de Halle (na Alemanha), o suíço estreitou a amizade com Marcelo Melo em partidas de pebolim.

Marcelo Melo posa para foto com Roger Federer no jantar dos campeões de Wimbledon - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Imagem: Instagram/Reprodução

"O cara grita igual criança. Fiquei pensando: não é possível que esse seja o Federer", relatou o brasileiro. "O cara é um extraterrestre, parece que veio numa nave espacial de outro planeta, e eu conversando com ele como se fosse um amigo", acrescentou Melo.

Em Wimbledon, a relação continuou próxima, já que Federer e Melo eram vizinhos no vestiário. Assim, todo dia mantinham a rotina de comentar as chaves de disputa e, de vez em quando, brincavam com apostas. "Na final feminina ele apostou na (Garbiñe) Muguruza, eu na Venus (Williams)", contou Melo [a espanhola venceu a americana].

Depois, na festa de gala oferecida aos campeões, Federer voltou a demonstrar consideração por Melo ao ir à mesa em que o brasileiro estava para cumprimentar todo seu estafe. "É uma felicidade ter ganho Wimbledon ao mesmo tempo que ele, que é um cara querido por todo mundo. Não há melhor figura possível para representar o tênis do que ele", comentou o duplista.

Treinando separado do parceiro Kubot

A parceria de Melo com o polonês Kubot nasceu em outubro do ano passado. No entanto, foi nesta temporada que a dupla oficializou o projeto conjunto. A temporada não começou bem, com eliminações nas oitavas de final do Aberto da Austrália e na segunda rodada em Roland Garros. No Rio Open, o brasileiro chegou a externar preocupação e dúvida sobre a compatibilidade em quadra, mas semanas os ajustes aconteceram.

Marcelo Melo conversa com o polonês Lukasz Kubot durante a final de duplas de Wimbledon - AFP PHOTO / Glyn KIRK - AFP PHOTO / Glyn KIRK
Imagem: AFP PHOTO / Glyn KIRK

"É normal para duplas novas. Se a parceria não funcionar até Miami (março), mais ou menos, é normal que se reconsidere. Mas depois de Indian Wells (também em março) as coisas começaram a dar muito certo para a gente”, relembrou Melo. “Tivemos uma conversa boa após a eliminação em Acapulco (fevereiro) para acertar as coisas e encontrar o equilíbrio", acrescentou.

Antes da final de Wimbledon, Kubot preferiu treinar numa quadra coberta, enquanto que Marcelo e seu treinador, o irmão Daniel Melo, foram se aquecer numa quadra aberta. Segundo o brasileiro, o respeito pelo espaço próprio é um dos segredos do sucesso.

Juntos desde o começo do ano, Melo e Kubot costumam jantar juntos apenas duas vezes em semanas de torneios. Os dois mantêm rotinas bem diferentes, com horários distintos de sono e refeições. Cada um tem seu próprio técnico e algumas sessões de práticas separadas – nas preleções antes de partidas, Daniel Melo orienta sobre questões táticas, enquanto o treinador do polonês se encarrega mais da parte motivacional. "O Daniel fala 90% das coisas", disse Marcelo.

Com Kubot, Melo diz que se sente hoje confortável, "como nos primeiros anos da parceria com o (Ivan) Dodig". "O Lukasz me deu mais abertura de jogar da minha maneira, com o Ivan eu jogava mais preocupado com as minhas reações. O Lukasz me respeita demais, sempre me escuta muito. Hoje eu jogo da maneira que eu tenho que jogar", explicou.

Meditação no banheiro antes do match point

A final masculina de duplas durou tanto que a luz natural acabou em Londres. Então, com placar igual em 11-11 no 5º set, a organização parou o jogo por 12 minutos, para que o teto retrátil fosse fechado, e as luzes artificiais ligadas. Marcelo Melo aproveitou o recesso para se abrigar rapidamente no banheiro, sozinho.

Teto da quadra central de Wimbledon é fechado durante final masculina de duplas - AFP PHOTO / Glyn KIRK - AFP PHOTO / Glyn KIRK
Imagem: AFP PHOTO / Glyn KIRK

"Fiz como se fosse uma parada entre um set e outro, quando a gente vai no banheiro. Mentalmente fiz como se fosse esse tipo de parada, para tentar não sair do jogo, não ter essa quebra", descreveu.

Em seguida, Melo foi para o saque no primeiro game com o teto fechado e confirmou o serviço. Depois, sentiu que deveria mexer com o parceiro antes do game seguinte, que acabou sendo o definitivo.

"O Lukasz é um cara muito pilhado em quadra. Eu senti que aquele era o momento de mexer com ele, mexer com a motivação dele. Eu saí pulando e gritando, e ele acendeu", contou Melo sobre os instantes que antecederam os pontos decisivos da partida.

"A final mais intensa que eu já vi"

Melo e Kubot se jogam na grama após ganhar o título de duplas de Wimbledon - REUTERS/Andrew Couldridge - REUTERS/Andrew Couldridge
Imagem: REUTERS/Andrew Couldridge

Após a vitória em 4h40, Marcelo Melo se atirou na grama, emocionado. Em seguida, quebrou o protocolo rígido de Wimbledon ao se dirigir até o setor em que seu estafe e amigos acompanharam a final de sábado. Mesmo assim, o brasileiro diz que não foi repreendido pela organização do evento.

"Um dos diretores do torneio me disse que aquela tinha sido a final de duplas mais intensa que ele já viu em Wimbledon", relatou. 

Número 1 do mundo brinca com o número 2

Marcelo Melo brinca com o finlandês Henri Kontinen na festa dos campeões de Wimbledon - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Durante a festa de gala oferecida aos campeões de Wimbledon, no domingo passado, Marcelo Melo brincou com o finlandês Henri Kontinen, então número 1 do ranking da ATP em duplas – ultrapassado pelo brasileiro na lista atualizada desta semana.

"Ele me disse que eu ainda era o número 2, mas que ele viraria o número 2 no dia seguinte”, afirmou Melo, novo líder da ATP.

Outra cena da noite que marcou o brasileiro foi o diálogo entre Federer, campeão da chave de simples masculina, e Muguruza, a vencedora da disputa feminina. "Ele ficou falando para a Muguruza: 'você é campeã de Wimbledon, você é campeã de Wimbledon'. Como se estivesse dizendo que aquilo era algo especial, ele sabe o que significa", descreveu.

Assédio dentro do avião e na imigração

Na chegada ao Brasil, Marcelo Melo sentiu como deverá ser seu novo momento no esporte. Apesar de já ter sido número 1 do mundo e de ter um título Roland Garros no currículo, o tenista entende que uma conquista em Wimbledon parece mudar a repercussão – mesmo num país não tão apaixonado por tênis.

Marcelo Melo exibe o troféu de campeão de Wimbledon - Marcelo Pereira / Divulgação - Marcelo Pereira / Divulgação
Imagem: Marcelo Pereira / Divulgação

"A ficha está caindo aos poucos. As pessoas ficam me dizendo: 'você ganhou Wimbledon, você ganhou Wimbledon'. Mesmo pessoas que não acompanham muito o tênis. Um casal me reconheceu no avião, quando aterrissou aqui, e começou a bater palmas. Eu até fiquei com vergonha, uma vergonha nova para mim", relatou o campeão de duplas.

"Na imigração, uma pessoa pediu para tirar foto comigo. Aí ela falou para um amigo que estava comigo: 'agora ele tem que se preparar, ele vai ficar famoso'. Então por isso eu digo que a ficha vai caindo aos poucos, por isso que a conquista em Wimbledon torna as coisas muito especiais", acrescentou.