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Lesão de quadril é alarmante, mas Murray tem perspectiva que Guga não teve

Murray decidiu passar por cirurgia no quadril nesta semana e foi apoiado por fãs - Kamran Jebreili/AP
Murray decidiu passar por cirurgia no quadril nesta semana e foi apoiado por fãs Imagem: Kamran Jebreili/AP

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

11/01/2018 04h00

O tenista britânico Andy Murray, de 30 anos, comoveu os amantes do esporte nesta semana. Sem atuar profissionalmente desde Wimbledon, em julho de 2017, quando foi derrotado nas quartas de final por Sam Querrey, o ex-número 1 do mundo passou por uma intervenção cirúrgica para corrigir uma lesão no lado direito do quadril. O tenista buscava uma recuperação conservadora para um problema alarmante em atletas deste esporte, mas apostou no procedimento mesmo admitindo, por meio de uma publicação nas redes sociais, que "as chances de um resultado bem-sucedido não são tão altas quanto gostaria".

A chance de Murray deixar de competir em alto nível após a recuperação da cirurgia trouxe à tona uma lembrança indigesta para quem acompanha o tênis: em 2001, o brasileiro Gustavo Kuerten teve diagnosticado um problema também no lado direito do quadril, suportou dores para se manter em alto nível, mas cedeu à primeira cirurgia em fevereiro do ano seguinte. Em quadra, Guga não demonstrou ter recuperado a antiga forma, ainda passou por outras duas intervenções cirúrgicas e encerrou a carreira precocemente. 

As lesões de Gustavo Kuerten e Andy Murray, separadas em 16 anos no tempo, são semelhantes em suas complexidades e riscos. É o que explica o médico ortopedista Adriano Leonardi, que trabalha como traumatologista do esporte e esteve à frente da Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esporte de Aventura (ABMAR).

"Cirurgia de quadril não teve uma evolução muito grande nos últimos 20 anos comparada à de joelho, por exemplo. A diferença básica é que na época do Guga não se tinha muito conhecimento da anatomia e da biomecânica do quadril como se tem hoje. No caso do brasileiro, em vez de costurar o labrum (uma cartilagem que recobre a articulação do quadril), foi retirado um pedaço da cartilagem desgastada. Hoje há um consenso entre os médicos do esporte e cirurgiões, e acredito que é o que tenha havido com o Murray, que é preferível a sutura, a costura desse labrum que estava rompido", relata o especialista.

Em resumo, não houve mudanças significativas no modo de operar os pacientes esportistas com lesão no quadril. Por outro lado, o que aumenta as esperanças de Murray para voltar a atuar em alto nível são o diagnóstico e a realização precoces da intervenção cirúrgica. É por isso que o tenista britânico, em suas postagens na internet, declarou otimismo em jogar até 95% de seu melhor. Ele espera voltar a bater bola em oito semanas e retornar ao circuito em três meses.

"Quando pegamos a pessoa com lesão na fase inicial conseguimos salvar o quadril, costurar e prevenir a evolução da doença. É comum haver dor por sobrecarga muscular em esportes que têm o giro de quadril, a flexão, a rotação do próprio eixo, mas é preciso procurar logo um médico e investigar, fazer exames, ver se existe artrose ou se é por impacto e solucionar o mais rápido possível. A palavra-chave hoje é prevenção. Em caso de lesão, a sequência é diagnóstico, artroscopia, medida paliativa e em último caso a cirurgia, que às vezes pode ser de prótese. Muitas vezes a prática esportiva da pessoa é limitada ", explica Leonardi.

Guga vê Murray com "melhor chance" que ele

Guga, ex-tenista brasileiro - Vinicius Andrade - Vinicius Andrade
Guga está aposentado há dez anos
Imagem: Vinicius Andrade

Mesmo após o diagnóstico do problema no quadril, em março de 2001, Guga se manteve como melhor do mundo quase até o fim do ano, sendo tricampeão de Roland Garros, levando o título do Masters Series de Cincinnati e chegando ao Aberto dos Estados Unidos como favorito. Nas quartas de final em Flushing Meadows, porém, fraquejou diante do russo Yevgeny Kafelnikov em três sets e, depois disso, poucas vezes demonstrou o talento reconhecido. Após seguidas derrotas, foi operado três vezes entre fevereiro de 2002 e março de 2006 e se aposentou em 2008, sem repetir os melhores momentos da carreira.

A pedido do UOL Esporte, o maior tenista da história do Brasil admitiu as semelhanças de seus problemas físicos do passado com os que atualmente são enfrentados por Andy Murray. De acordo com Guga, no entanto, o britânico tem perspectivas melhores.

"Se for comparar com meu histórico, obviamente o Murray corre o risco de perder performance. Mas acredito que com os procedimentos atuais ele tem melhor chance de recuperação", manifestou-se o ex-tenista de 41 anos.