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Sem pressão, Federer reencontra Grand Slam onde mais sofreu com mudanças

Federer, durante sua estreia em Roland Garros - REUTERS/Christian Hartmann
Federer, durante sua estreia em Roland Garros Imagem: REUTERS/Christian Hartmann

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, de São Paulo (SP)

26/05/2019 17h16

"Muita coisa mudou". A frase de Roger Federer ainda antes da estreia em Roland Garros define o que envolveu o seu retorno depois de três anos, 11 meses e 25 dias.

Roland Garros foi o primeiro Grand Slam que ele jogou na carreira há 20 anos e o último que conquistou já faz 10 anos, o único no saibro em seus 20 troféus neste nível de torneio.

A vitória diante do italiano Lorenzo Sonego, número 73 do mundo, com 6/2 6/4 6/4, em 1h41min marcou o retorno do suíço após quatro anos ao saibro de Paris, que o recebeu com um complexo reformado, a quadra central Philippe Chatrier completamente nova, justamente no dia em que foi reinaugurada para a edição deste ano do torneio.

O Grand Slam mais cruel

Federer é um dos tenistas que mais participaram de Roland Garros na Era Aberta, neste ano chega a 18 participações, terceiro lugar entre os recordistas históricos do torneio e este é o torneio onde ele justamente mais teve dificuldades durante a carreira, mesmo no auge.

Foram cinco derrotas para Rafael Nadal quando Federer era o tenista mais dominante do circuito, além de quedas para Alex Corretja, Hicham Arazi, Luis Horna, Gustavo Kuerten, Novak Djokovic, Jo-Wilfried Tsonga e Ernests Gulbis, as duas últimas sendo as mais inesperadas dentre todas.

A antiga Philippe Chatrier o viu ser derrotado em quatro finais contra o espanhol Rafael Nadal e foi palco do título conquistado diante do sueco Robin Soderling em 2009, mas teve Roger Federer em quadra pela última vez no dia 1º de junho, uma segunda-feira, em continuação da partida interrompida pela chuva na vitória pelas oitavas de final diante do anfitrião Gael Monfils.

Desde então, apenas um jogo na Suzanne Lenglen, na derrota para o compatriota Stan Wawrinka, e três anos sem sujar as meias de saibro. A ausência de Federer em 2016 foi por problemas físicos, mas nas edições de 2017 e 2018 o suíço vinha jogando um bom nível de tênis e alegou optar por um calendário mais curto para seguir atuando 100%.

O retorno

A volta de Federer foi marcada pela grande expectativa do público. O que ele poderia aspirar aos 37 anos? Jogando os últimos anos de sua carreira, que ainda não tem uma data definida para acabar, sua presença este ano pode ser a última em Roland Garros.

Ao mesmo tempo, o favoritismo todo é apontado para o espanhol Rafael Nadal, que busca o seu 12º título no saibro francês, e o sérvio Novak Djokovic, que embora tenha apenas uma conquista no torneio, vem de um título e uma final na temporada de saibro e tem sido o mais dominante entre os principais tenistas do mundo em torneios de Grand Slam.

A baixa expectativa por resultados é justamente o que tira qualquer pressão sobre Roger Federer. Sem pontos a defender em Paris e sem participações recentes que pudessem servir de comparativo, ele joga muito mais solto que em suas 17 edições anteriores.

Quando pisou no saibro da Philippe Chatrier neste domingo, ouviu o público de quem sempre foi o tenista favorito gritar seu nome e ganhou o primeiro ponto da partida com uma devolução de segundo saque na fita que caiu para o outro lado. Seu primeiro saque foi um ace e não precisou suar muito para fazer o seu habitual em uma primeira rodada de Grand Slam.

O último da turma

Quando o sorteio apontou seu nome como cabeça de chave 3 em Roland Garros, Federer era justamente o único depois de 20 anos a ainda estar presente no quadro do torneio. Da sua estreia, como convidado da organização, aos 17 anos, em 1999, todos os outros 127 tenistas já se aposentaram do circuito profissional.

Dentre os tenistas que estavam na edição de estreia do suíço, o brasileiro tricampeão Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni - que foi semifinalista daquele ano - , o norueguês Christian Ruud, pai de Casper Ruud, que também estreou neste domingo em Paris, o argentino Agustin Calleri, hoje dirigente da Associação Argentina, além de Carlos Costa e Carlos Moyá, atuais empresário e técnico de Rafael Nadal, o maior algoz de Roger Federer em Roland Garros.

A participação que terminou com uma derrota para Patrick Rafter - depois de ter vencido o primeiro set diante do australiano - na Suzanne Lenglen marcou o início de uma longa jornada em Paris, onde foi o caçula e hoje é um dos mais velhos na chave principal.

Seu primeiro adversário, o italiano Lorenzo Sonego, começou a jogar tênis aos 11 anos, em 2006, quando Roger Federer já era número 1 do mundo. Neste domingo, se tornou vítima da 66ª vitória do suíço no histórico de 82 partidas no saibro francês.