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Cartola sem índice do badminton consegue bolsa-atleta no lugar de jogador de seleção

O badminton é um esporte olímpico, mas pouco conhecido no Brasil - Liu Jin/AFP
O badminton é um esporte olímpico, mas pouco conhecido no Brasil Imagem: Liu Jin/AFP

Aiuri Rebello

Do UOL, em Brasília

05/08/2013 07h33

A CBBd (Confederação Brasileira de Badminton) recomendou o presidente da Federação Paulista de Badminton para receber o bolsa-atleta, do governo federal, mesmo sem ele estar qualificado para o benefício, enquanto um jovem com passagem recente pela seleção brasileira reclama que teve negado pela entidade o direito de tentar obter a bolsa. O presidente da Febasp (Federação de Badminton do Estado de São Paulo), Manoel Gori, 45 anos, está na lista de contemplados divulgada pelo Ministério do Esporte no dia 19 de julho, mesmo sem ter obtido a colocação mínima no ranking brasileiro ou internacional do esporte para tanto.

No site do Ministério do Esporte diz que Gori ficou em terceiro lugar no ranking nacional masculino da modalidade, o que o qualificou para receber o auxílio. Apesar disso, CBBd informou ao UOL Esporte que na verdade o cartola ficou na quarta colocação, o que o impede de receber o benefício. Gori também é ex-presidente da confederação de badminton, esporte que é jogado em quadra com rede similar à de tênis, raquete e peteca.

Na contramão, apesar de ter participado da seleção brasileira que conquistou o bronze no Campeonato Panamericano de badminton em outubro do ano passado, no Peru, uma das competições que também "classificava" os jogadores para pedir o bolsa-atleta, Lucas Alves, 19 anos, afirma que não conseguiu a recomendação da CBBd para dar entrada no benefício, pré-requisito para ter o pedido de bolsa aprovado pelo governo.

Alves diz que a confederação se recusou a fornecer para ele o documento. "No fim do ano passado, quando fui pedir a carta para anexar ao pedido de bolsa atleta, me disseram que eu não tinha direito a tentar porque eu tinha sido reserva na equipe", afirma o atleta. Dessa forma, sem a documentação necessária, Alves diz que desistiu de dar entrada no pedido junto ao governo.

Engano

Procurada pela reportagem, a CBBd diz que o caso todo não passa de um engano. Apesar de confirmar que emitiu a declaração para o cartola, a CBBd afirma que foi um erro do Ministério do Esporte conceder a bolsa-atleta para ele, pois quando recebeu a lista dos contemplados para validação pediu para o governo tirar o dirigente da lista antes da publicação. Questionada sobre de quem seria o erro que coloca Gori em terceiro no ranking nacional, conforme mostra a lista de aprovados do bolsa-atleta, a confederação não respondeu. 

Sobre o caso de Alves, a confederação diz que "não recebeu oficialmente nenhuma solicitação de declaração por parte do atleta". A CBBd afirma também que mesmo que tivesse feito a solicitação, esta "seria infrutífera", por que os reservas não tem direito ao bolsa atleta. Apesar disso, o Ministério do Esporte não confirma a informação, e o edital que abriu as inscrições para o bolsa-atleta, de março deste ano, também não fala em proibição de inscrição para atletas do banco de reservas de todas as modalidades.

O Ministério do Esporte confirma que a CBBd solicitou a retirada do dirigente da federação paulista da lista de contemplados, mas não responde de quem foi o erro por ter colocado em terceiro lugar no ranking e conseguir a bolsa. A pasta do Esporte afirma que não houve tempo hábil de tirar o nome antes da publicação no Diário Oficial da União, mas que o cartola não receberá a bolsa-atleta. Até sexta-feira (2), não havia sido publicada uma correção no Diário Oficial e o nome de Gori continuava na lista de contemplados com o apoio publicada no site do Ministério do Esporte.

Procurado pela reportagem ao longo de toda a semana, por e-mail e telefone, Gori não respondeu o motivo de ter pedido a bolsa mesmo sem ter índice para tanto. A Febasp, da qual Gori é presidente, diz que "os procedimentos foram todos legais e dentro da lei para pleitear a bolsa-atleta". A federação afirma que recebeu da CBBd a informação de que a inscrição de Gori poderia ser feita, e que foi tudo feito regularmente. Sobre o dirigente aparecer em terceiro lugar no ranking na lista de contemplados ou o cancelamento da bolsa-atleta dele, a Febasp não se pronuncia.

'FIQUEI MUITO CHATEADO', DIZ ATLETA SOBRE CONFEDERAÇÃO DE BADMINTON

  • Acervo pessoal

     

    O jogador de badminton Lucas Alves, de 19 anos, conta que ficou "muito chateado" quando procurou a CBBd (Confederação Brasileira de Badminton) para pedir o documento que o permitiria pedir a bolsa-atleta do Ministério do Esporte. Alves fez parte da seleção brasileira de badminton que conquistou o bronze no panamericano do Peru, em outubro do ano passado. O resultado credenciava os jogadores da seleção a pedir o benefício, mas a confederação teria se negado a fornecer para o jovem o documento, sob a alegação de que ele era reserva e assim não tinha direito.

    "Eu viajei, treinei, apoiei muito o tempo todo, não é justo dizer que não faço parte do time. Se alguém se machucasse eu estava ali pronto para jogar, por que sou o único que não teria direito?", diz. "Acho uma falta de respeito enorme. Se eu tivesse entrado em quadra poderia pedir o benefício?", questiona o atleta.

    Apesar deste ano não ter sido convocado para a seleção brasileira, Alves diz que não desanima no sonho de disputar a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. "Se eu estiver bem no ranking mundial até os jogos, posso participar, não depende da seleção", diz ele.

    Sem o bolsa-atleta, o jogador conta que conseguiu um patrocínio do governo de seu estado, o Piauí. Na sexta-feira (2) ele embarcava para a Indonésia, um dos países que são referência no badminton mundial, para uma temporada de três meses de treino.

  • Alves conta que conheceu o badminton em um projeto social em Teresina aos 12 anos, se apaixonou pelo esporte e nunca mais parou de jogar. Em 2009 e 2010, defendeu a seleção brasileira júnior, e em 2011 e 2012 a seleção brasileira principal. 

     

Até R$ 3.100 por mês

A bolsa-atleta é uma ajuda financeira mensal do governo para atletas que varia de R$ 370 a R$ 3.100, dependendo da categoria. Recentemente, foi lançada a bolsa-pódio, com subsídio de até R$ 15 mil por mês.

Em 2013, 5.691 atletas já foram contemplados com a bolsa-atleta. No badminton fora o presidente da federação paulista, 77 atletas de diversas categorias foram contemplados. A CBBd afirma que emitiu 81 declarações para jogadores da modalidade entrarem com o pedido.