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Custo da Rio-2016 sobe e matriz de responsabilidades chega a R$ 7,3 bilhões

Vista da Arena Carioca, local onde acontecerá a disputa do taekwondo dos Jogos Olímpicos do Rio - Roberto Castro/ ME
Vista da Arena Carioca, local onde acontecerá a disputa do taekwondo dos Jogos Olímpicos do Rio
Imagem: Roberto Castro/ ME

Demétrio Vecchioli e Marcel Rizzo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/06/2017 13h19

O que deve ser a última atualização da matriz de responsabilidades da Rio-2016 vai apresentar um valor quase 4% superior ao último número que estava disponível, de agosto de 2016. O valor das arenas esportivas da Olimpíada do Brasil e as obras relacionadas a elas, dados que constam na matriz, ficou em R$ 7,359 bilhões. É um aumento de cerca de 13% na comparação com o valor da primeira atualização, apresentado em julho de 2014: R$ 6,5 bilhões.

O UOL Esporte teve acesso aos números que serão apresentados nesta quarta-feira, em evento no Rio, quando a Aglo (Autoridade de Governança do Legado Olímpico), órgão recém-criado pelo governo federal para tratar do legado olímpico, mostrará à imprensa seu projeto para o pós-Jogos e os custos relacionados.

A Matriz de Responsabilidades engloba projetos associados exclusivamente à organização e realização dos Jogos Rio-2016, considerando so compromissos assumidos pelo país perante o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Os valores que serão divulgados agora haviam sido compilados ainda em fevereiro pela APO (Autoridade Pública Olímpica), órgão já extinto que tinha como uma das funções compilar os dados da matriz com informações dos entes públicos (federal, estadual e municipal).

Na comparação com a matriz apresentada durante os Jogos Olímpicos, houve aumento nos custos finais dos principais equipamentos usados na Rio-2016, como o Centro de Tênis, o Complexo Aquático e a Arena do Futuro, que recebeu as partidas de handebol.

Na conta que será apresentada pela Aglo, não entram os custos de desmontagem do Complexo Aquático e da Arena do Futuro, inicialmente previstas nos contratos e depois retirados.

No caso da estrutura que recebeu o fenômeno das piscinas Michael Phelps, o contrato assinado em 5 de abril de 2013 entre o Ministério do Esporte e a prefeitura do Rio previa um custo total de R$ 219,5 milhões. Mesmo com a retirada do item “remontagem”, de R$ 23,4 milhões, o valor total do complexo fechou em R$ 227,5 milhões.

No caso da Arena do Futuro, outra obra bancada pelo governo federal e executada pela prefeitura do Rio, o contrato de 28 de novembro de 2013 previa um custo total de R$ 178,0 milhões, dos quais R$ 50,8 milhões eram relativos à desmontagem e a remontagem, transformando a arena em quatro escolas. Ainda que esses custos tenham sido retirados do contrato – e do valor final da matriz – a obra custou R$ 140,6 milhões.

Já o Centro Olímpico de Tênis teve valor final de R$ 224,7 milhões. Em agosto do ano passado, seu custo era estimado em R$ 191,1 milhões e em janeiro de 2014, na primeira versão da matriz de responsabilidades, era orçado em R$ 164,8 milhões.

Veja os custos destas e de outras arenas (entre parênteses quanto havia sido gasto em agosto de 2016 e ao lado quem pagou pela obra)

Centro Olímpico de Tênis – R$ 224,7 milhões (R$ 191,1 milhões) – Gov. Federal e prefeitura do Rio

Velódromo – R$ 149,9 milhões (R$ 137,7 milhões) – Gov. Federal e prefeitura do Rio

Arena do Futuro – R$ 140,6 milhões (R$ 133,4 milhões) – Governo Federal

Esportes Aquáticos – R$ 227,5 milhões (R$ 217,1 milhões) – Governo Federal

Instalações esportivas Deodoro – R$ 719,7 milhões (R$ 626,5 milhões) – Governo Federal

Adequação do Engenhão – R$ 45,5 milhões (R$ 37 milhões) – Prefeitura do Rio

No custo final que será apresentado, porém, a iniciativa privada terá sido responsável 57,6% dos gastos, principalmente em setores como de infraestrutura como a vila dos atletas e de mídia, IBC (centro de transmissão dos Jogos), redes de água, luz e esgoto, pavimentação e paisagismo do Parque Olímpico. O governo federal foi responsável por 31,9%, o municipal por 10,4% e o estadual por 0,1%.

Os valores gastos pelos entes públicos, principalmente a prefeitura, podem estar com alguma defasagem, porque houve paralisação na entrega dos dados para a APO.

O atraso na divulgação dos números

A matriz traz “apenas” dados de gastos com arenas e obras relacionadas aos equipamentos. O gasto total, que provavelmente supera os R$ 40 bilhões, foi divulgado nas duas primeiras atualizações da matriz, e depois sumiu do documento. Informalmente membros da APO dizem que não tinham acesso aos dados, por exemplo, do Comitê Organizador da Rio-2016 e outras informações importantes como gastos com segurança.

A matriz foi divulgada pela primeira vez em janeiro de 2014, e previa gastos e R$ 5,64 bilhões, mas um número admitidamente defasado porque não continha com valores de obras no complexo de Deodoro (que recebeu eventos como basquete e hóquei na grama) e em Copacabana.

A quinta atualização da matriz, divulgada em agosto em meio à Rio-2016, só saiu por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União). Ao término da Olimpíada, o prazo para que se conhecesse de fato o valor gasto nas arenas esportivas era janeiro de 2017. Não saiu, e nos bastidores o principal motivo do atraso foi que a prefeitura do Rio decidiu deixar a APO, que teve desde 2011 função de coordenar as ações dos entes púbicos (federal, estadual e municipal) com relação aos Jogos Olímpicos.

A decisão da prefeitura foi unilateral, da gestão Eduardo Paes, anterior a atual de Marcelo Crivella. Ao UOL, em dezembro, o ex-presidente interino da APO Marcelo Pedroso disse que a autoridade pública tentaria levantar os dados não fornecidos pela prefeitura de outras maneiras, com base em informações colhidas com diferentes órgãos. Esses valores estão expressos na proposta de sexta atualização enviada por Pedroso para a Aglo.

O prazo de atualização da matriz, então, foi estendido para o fim de março, data em que a APO seria extinta, por decisão do governo federal. No dia 30 de março, na véspera da desmobilização da APO, foi criada a Aglo, com a missão de gerir o legado olímpico, e que utilizaria a estrutura da APO (inclusive uma verba de sobra de atividades de cerca de R$ 45 milhões). Desmobilizada, e repassada a outros fins, a APO não divulgou a matriz no fim de março.

Havia também outro empecilho: o Conselho Público Olímpico, instância máxima da APO e que era formada por representantes dos governos federal, estadual e municipal, não aprovou a sexta atualização da matriz. Motivo: os representantes da prefeitura, em dezembro, e do governo estadual, em março, deixaram a APO, que ficou apenas com os representantes federal – a empresária Luiza Trajano, indicada ainda na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.

Questionada na época de sua criação pelo UOL, a Aglo, via Ministério do Esporte, a quem está vinculado, informou que não era sua responsabilidade divulgar a matriz. Passados alguns dias, em um evento, o presidente da Aglo, Paulo Márcio Dias Mello, disse que os dados deveriam ser trazidos a público em junho, quando a antiga APO ajudaria na disponibilização do documento.