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Vício, assassinato e 100% de nocautes: o boxeador que virou filme censurado

Valero tinha tatuagem com imagem de Hugo Chávez e a bandeira da Venezuela - Omar Torres/AFP
Valero tinha tatuagem com imagem de Hugo Chávez e a bandeira da Venezuela Imagem: Omar Torres/AFP

Do UOL, em São Paulo

09/12/2017 04h00

Edwin “El Inca” Valero já foi sinônimo de orgulho na Venezuela. Boxeador agressivo, nunca perdeu uma luta. Mais que isso, venceu todos seus combates por nocaute. Os vícios em álcool e cocaína, no entanto, o derrubaram com força. Valero foi preso em 2010, aos 28 anos, após confessar ter assassinado sua esposa. Logo depois, foi encontrado morto em sua cela, enforcado. Sua história virou filme, mas o governo que já o usou como arma política censurou a produção.

Pré-indicado ao Oscar para disputar a categoria de melhor filme estrangeiro, “El Inca” desagradou a família de Valero e o governo venezuelano. O filme chegou a estrear nos cinemas locais, mas em poucas semanas foi retirado das salas. A família do boxeador alegou que a obra fere a imagem do lutador, algo contestado pelo diretor da produção, Ignacio Cottin.

“A mãe e os dois irmãos viram o filme em uma sessão especial e não conseguiram apontar uma cena em que a história de Valero era manchada”, argumentou Cottin em programa de televisão da “CNN”.

O fato se tornou só mais uma polêmica em torno de Valero, uma figura intensa assim como seu estilo nos ringues. Confusões foram quase tão numerosas quanto suas vitórias.

No boxe, ele era avassalador. Valero engrenou indiscutíveis 18 vitórias por nocaute no primeiro assalto, um recorde. Foi tricampeão amador na Venezuela e manteve a sequência de triunfos ao se profissionalizar.

Ele, no entanto, demorou a lutar nos Estados Unidos. Seu primeiro visto foi negado porque uma comissão médica argumentou que ele tinha uma lesão cerebral causada anos antes em acidente de moto. Na oportunidade, Valero estava sem capacete quando caiu, o que o afastou das lutas por mais de um ano.

O boxeador, no entanto, dizia que motivações políticas o impediam de lutar nos Estados Unidos. Valero era fã do ex-presidente Hugo Chávez e tinha até uma tatuagem do líder venezuelano no peito, juntamente com uma bandeira do país. Considerava-se um revolucionário.

A saída foi lutar em outros países. Valero foi aumentando seu número de vitórias e se tornou campeão mundial. Em 2009, uma empresa promotora de lutas aproveitou o grande interesse no venezuelano e conseguiu o visto para sua estreia nos Estados Unidos. Ele venceu, como previsto, mas foi impedido de fazer o segundo combate no país meses depois.

As autoridades norte-americanas justificaram que ele havia sido flagrado dirigindo embriagado e não tinha se apresentado à Justiça. Valero argumentava que era um perseguido político por sua proximidade com Chávez e o governo venezuelano. De volta a seu país, apareceu algumas vezes ao lado de Chávez e recebeu o apoio do presidente.

Edwin Valero preso - REUTERS/Notitarde/Edsau Olivares - REUTERS/Notitarde/Edsau Olivares
Edwin Valero é levado preso após assumir culpa em assassinato da mulher
Imagem: REUTERS/Notitarde/Edsau Olivares

Mas a mesma intensidade dos ringues lhe prejudicava na vida pessoal. Valero foi acusado de agredir sua mãe e sua esposa. As duas, pouco depois, retiraram as acusações. O álcool e a cocaína faziam parte de sua vida e, segundo relatos da época, eram seus adversários mais fortes.

Em 2010, depois de sua última luta, no México, Valero foi mais uma vez acusado de agredir sua mulher. A mesma, porém, retirou novamente a acusação. O combinado era o boxeador viajar para Cuba para tratar seus vícios, mas ele e a esposa mudaram os planos e embarcaram para Valencia, na Venezuela.

Dias depois, Valero, aos 28 anos, desceu à recepção do hotel em que o casal estava para dizer que havia assassinado sua mulher. O suicídio por enforcamento na prisão foi o próximo e derradeiro capítulo da história de Valero, a mesma que é contada no filme El Inca.