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Rúgbi ainda tenta ser grande no Brasil, mas comemora resultados históricos

Lance da partida entre Brasil e Canadá, no Pacaembu, pelo Americas Rugby Championship - João Neto/Fotojump
Lance da partida entre Brasil e Canadá, no Pacaembu, pelo Americas Rugby Championship Imagem: João Neto/Fotojump

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo

16/02/2018 04h00

"Rúgbi. Isso ainda vai ser grande no Brasil". A frase, na verdade o slogan de uma propaganda, foi o primeiro grande impacto que o rúgbi alcançou no Brasil, em 2010. Mas como atingir a grandeza em um país de monocultura esportiva, em que o futebol recebe quase toda a atenção, sendo uma modalidade ainda com alcance restrito de fãs e praticantes?

Buscar relevância, dentro e fora do país, virou o principal objetivo, ainda mais após a inclusão no programa olímpico dos Jogos do Rio de Janeiro-2016 e Tóquio-2020. Com estrutura "empresarial", metas anuais e resultados históricos, o rúgbi brasileiro tem comemorado avanços no cenário mundial.

O ano de 2018 começou com dois feitos inéditos. No início de fevereiro, a seleção brasileira masculina de rúgbi (os Tupis, apelido do time) venceu o Chile pela primeira vez como visitante (16 a 14, em Santiago) e atingiu a melhor colocação da história no ranking mundial: 25º lugar. Em 2017, os triunfos sobre Portugal (no Pacaembu) e Bélgica (fora de casa) também foram resultados nunca antes obtidos.

Já a seleção brasileira feminina, as Yaras, é top 10 mundial no  sevens (a versão "reduzida" do jogo e que virou modalidade olímpica), 13 vezes campeã sul-americana e em 2018 tentará vaga na divisão de elite mundial durante o Hong Kong Sevens, em abril.

São avanços previstos pela Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), fundada em 2010, mas que passou por reformulação em 2014, quando contratou um CEO, cargo que causa estranheza no esporte nacional, mas comum no ambiente corporativo - é a sigla para Chief Executive Officer, o topo da diretoria executiva de uma empresa. Até então, a evolução havia sido tímida.

Sob o comando do argentino Agustin Danza, a CBRu adotou um modelo administrativo nos moldes empresariais, sendo a primeira entidade esportiva nacional a contratar um CEO e a instalar um Conselho Administrativo. E como toda empresa que visa crescimento, criou metas. Para 2018, o foco é manter os Tupis no top 30 do ranking mundial, ganhar mais partidas fora do país e colocar as Yaras na divisão principal da Série Mundial de Sevens.

Seleção feminina de rúgbi - Matt Roberts/Getty Images - Matt Roberts/Getty Images
Imagem: Matt Roberts/Getty Images

O objetivo maior, no entanto, é obter vaga para a Copa do Mundo de Rúgbi de 2023, na França, o que seria um feito histórico para o país.

"Ser grande para nós não significa ser maior do que vôlei ou basquete, por exemplo. Creio que tenha espaço para todos. Sem dúvida, o Brasil tem condições de se tornar relevante e virar uma potência", apostou Danza em entrevista ao UOL Esporte. "O imediatismo é um problema no esporte e no mundo. O trabalho precisa ser no longo prazo. Os resultados atuais têm sido uma consequência dos indicadores que o rúgbi brasileiro nos fornece com muito trabalho", completou.

Mais do que planejamento, todo projeto de evolução precisa de investimento. Em 2010, a CBRu contava com menos de R$ 1 milhão por ano no caixa, mas a captação de apoio tem sido progressiva desde então. Para 2018, a entidade esbanja orçamento de R$ 12 milhões/ano apenas para o Alto Rendimento, com 12 patrocinadores oficiais, além das verbas provenientes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Ministério do Esporte. A World Rugby, entidade máxima do rúgbi, escolheu o Brasil como território-chave para a expansão mundial da modalidade e ajuda a bancar projetos de desenvolvimento na base.

"O crescimento do rúgbi é paulatino e sustentável em três frentes: gestão, performance esportiva e comercial. O número de patrocinadores, de eventos e de entregas da CBRu cresceu mesmo em anos de crise e após os Jogos Olímpicos", reforçou Mauro Corrêa, sócio-diretor da CSM Golden  Goal, agência responsável pela gestão de ativações de patrocínios da entidade.

Dentro de campo, no caso da seleção masculina, a evolução nos resultados atribui-se à chegada de outro argentino: o técnico Rodolfo Ambrósio. Ex-jogador de rúgbi, ele foi o responsável por implantar a filosofia de trabalho que tirou Argentina e Itália da irrelevância e as alçou para a elite mundial. "Antes, o Brasil fazia três jogos por ano, no máximo. Hoje, são cerca de 20 partidas. Só jogamos contra países que estão acima de nós no ranking, e assim medimos nossas perspectivas de evolução. Para não cair no imediatismo, a gente foca nas probabilidades", completou Danza.

Neste início de temporada, os Tupis estão disputando o Americas Rugby Championship e ocupam a quarta colocação no torneio, com quatro pontos em duas rodadas (vitória sobre o Chile e derrota para o Uruguai). Neste sábado (17), o Brasil enfrentará o Canadá, fora de casa.

Segundo pesquisa realizada pelo Ibope Repucom, o rúgbi teve nos últimos três anos um crescimento de interesse de 15% entre os internautas no Brasil. De 2015 a 2017, a exposição da modalidade na TV saltou 38%. No país, são cerca de 3,2 milhões de fãs, de acordo com o instituto, mais de 300 agremiações e 60 mil atletas e praticantes. A seleção masculina adotou o Pacaembu, em São Paulo, como "casa" do rúgbi nacional, com públicos que variam entre 3 e 7 mil pessoas.