Paratleta tem equipamentos quebrados em voos e prejuízo de até R$ 85 mil
Jéssica Messali embarcou no dia 7 de setembro no Aeroporto de Guarulhos com destino à Austrália, onde disputou a ITU World Triathlon Grand Final Gold Coast na categoria feminina PTWC, voltada para usuários de cadeiras de roda. A viagem, porém, ficou marcada por uma série de problemas. Afinal, a paratleta brasileira teve equipamentos quebrados na ida e na volta que, juntos, custam R$ 85 mil.
Tudo começou após o primeiro voo. Jéssica foi de Guarulhos a Buenos Aires pela Aerolíneas Argentinas. Chegando na Argentina, recebeu a informação de que a cadeira de rodas dela iria direto para o destino final, na Austrália. A paratleta solicitou ainda no check-in que a cadeira viajasse na porta do avião para facilitar a saída dela no desembarque. Quando descobriu que a cadeira não estava à disposição já em solo argentino, recebeu uma cadeira de rodas emprestada.
"Parecia um carrinho de bebê, que alguém tem que empurrar, e não tinha como eu me movimentar. Na hora eu chorava, ligava para o meu marido e estava sem internet. Eu não saia do lugar, tenho uma lesão medular, preciso ir no banheiro por hora, e minha sorte era que estava usando fralda, porque eu não tinha condição de ir no banheiro, ia me molhar toda, ia ser o maior constrangimento", contou.
“Eles falaram que iam localizar as peças que faltavam e que me enviariam no dia seguinte. Cheguei no alojamento com a cadeira ‘trambolho’, vimos que não tinha mobilidade nenhuma, e eu não conseguia andar sozinha com aquela cadeira. Tentamos improvisar, mas a cadeira era frouxa, fazia barulho e tinha o freio estourado. Eu usei durante toda a semana. Fiz a prova, mas acabei prejudicada no tempo de transição”, disse Jéssica, que terminou na nona colocação em sua categoria.

Novo problema na volta ao Brasil
Depois de competir, a brasileira retornou ao Brasil em 16 de setembro e deu início ao mesmo trajeto da ida. Desta vez, ela não teve surpresas durante as escalas em Auckland e Buenos Aires, mas utilizou a própria cadeira de rodas, mesmo quebrada. O novo problema surgiu na chegada a Guarulhos, desta vez após um voo de Buenos Aires operado pela Ethiopian Airlines.
“Um funcionário do aeroporto estava carregando a minha handbike, utilizada no ciclismo, e pedi para ele parar. Quando olhei, o carbono da parte traseira estava aberto, destruído. Levei para fazer um laudo e acho que colocaram algo de uma tonelada forçando o para-choque traseiro, o que fez quebrar. Na hora, mostrei para a funcionária da Ethiopian Airlines, que falou que a responsabilidade era da Air New Zealand. Ela não queria fazer o formulário de reclamação, depois disse que ia fazer, mas colocou que eu era responsável por qualquer coisa que acontecesse com os equipamentos”, recordou.
Segundo a paratleta, a cadeira de rodas é sob medida, importada e custa R$ 35 mil, enquanto o preço da handbike é de R$ 50 mil. Jéssica afirma que emitiu um laudo do primeiro equipamento, onde está escrito que o uso não é aconselhável pelo risco de lesão na coluna, enquanto a handbike está passando por avaliação.
“Eles estão avaliando a handbike, mas, se der reparo, ela vai ficar mais pesada e menos ágil em curva. Ela não vai voltar ao estado original de alta performance”, explicou.
O que dizem as companhias aéreas
Procurada pela reportagem, a Ethiopian Airlines afirmou que "esta passageira reportou uma avaria em sua bicicleta, mas, ao apresentar o documento de despacho da mesma, efetuado pela empresa Air New Zeleand, foi verificado que era uma etiqueta limited release. Esta etiqueta está assinada atrás pela passageira, que assume qualquer tipo de dano que possa ser verificado no equipament". Ainda de acordo com a companhia, "a funcionária informou a Jéssica sobre a etiqueta limited release, que indica que o passageiro aceitou o transporte e não responsabiliza a companhia aérea por qualquer dano que ocorra".
A Air New Zealand explicou que está “lidando com a reclamação diretamente com a passageira de acordo com as políticas da empresa e de acordo com a legislação”. Já a Aerolíneas Argentinas disse que a responsabilidade é da Air New Zealand, já que foi ela quem fez o primeiro formulário de reclamação, e afirmou: "não podemos saber o que aconteceu em todas as conexões".
Futuro incerto e foco em Tóquio

“Não dá para treinar ciclismo sem a handbike e estamos avaliando se compensa ir e ficar muito mal na prova, porque eu vou ficar praticamente muito tempo sem treinar ciclismo. Eu sou uma pessoa muito positiva, muito alegre, mas estou bem triste. Só de falar me dá vontade de chorar. As situações que ocorrem estão testando minha força. É o meu trabalho. Hoje, eu vivo profissionalmente como atleta. É como se tivesse prejudicado tudo. Estou muito decepcionada, triste e indignada. Digamos que em um estado de choque”, declarou.
Jéssica atualmente está em período de treinamento no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Ela se prepara para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2020, quando a categoria dela (PTWU) será disputada pela primeira vez no feminino em uma Paralimpíada. A paratleta é a atual campeã brasileira e 13ª do ranking mundial, mas terá que disputar outros torneios internacionais para conseguir uma vaga em Tóquio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.