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Pan 2019

Boliche é quem mais treina para o Pan; UOL foi descobrir o porquê

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

23/07/2019 17h00

Na véspera dos primeiros eventos e a três dias da Cerimônia de Abertura, mais de 100 atletas brasileiros já aproveitaram para conhecer as instalações para os Jogos Pan-Americanos em Lima. De todas as equipes, nenhuma está treinando tanto quanto a de boliche. Só ontem foram seis horas. Hoje, mais três.

Mas por que tanto treino? Foi essa a pergunta que a reportagem do UOL Esporte se fez. A resposta chega a ser simples: todos os menores detalhes importam.

A começar pela imagem abaixo. Ela é parte de um mapa de altimetria de um par de pistas de boliche. Funciona assim: o vermelho forte indica onde a pista é mais afundada. O verde indica onde a pista é no nível esperado e o preto onde ela é mais alta. Dados surpreendentes para quem nunca esteve em uma pista oficial de boliche antes.

Mapa de altimetria de uma pista de boliche do Pan - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Quem lê o mapa é o técnico da equipe, Márcio Vieira. Ele é duplamente capacitado para isso. Jogador em quatro edições dos Jogos Pan-Americanos e técnico brasileiro em Olimpíadas, Márcio é também cartográfico. E físico. E engenheiro. Entende como poucos os movimentos que uma bola de boliche faz até acertar - ou não - os dez pinos colocados na outra ponta.

Uma partida é disputada em duas pistas, com os arremessos pares em uma e os ímpares na outra. Depois, a partida seguinte é na pista ao lado, até que todas as 24 pistas sejam utilizadas. Entender os detalhes que parecem mínimos a um leigo faz toda a diferença na hora da competição. E por isso o mapa é tão importante, ajuda a entender cada par de pistas.

"Eu que sou canhoto, por exemplo, nessa pista não posso jogar a bola para ela fazer a curva lá na frente, porque se você olhar no mapa, é vermelho mais para a esquerda lá para frente, então ela não vai entrar para dentro", explica Bruno Soares Costa, que compete no individual e em duplas.

Ele é filho de Walter Costa, único brasileiro a disputar os Jogos Olímpicos no boliche. Foi em 1988, em Seul, como esporte demonstração. O "tio" Márcio, como Bruno chama o técnico-cartógrafo, não teve a oportunidade de ir à Coreia do Sul. "Na hora do bem bom, o COB mandou o técnico do tiro com arco para ser o técnico do boliche também", conta o treinador, resignado, mas de ótimo humor.

Estratégias

São incontáveis variáveis que determinam quem ganha e quem perde uma partida de boliche, e que precisam ser levadas em consideração nessas mais de três horas de treino. Cada jogador trouxe suas 12 bolas a Lima, cada uma delas projetada especialmente para seus dedos. Eles também contam com lixas de diversas espessuras que deixam as bolas mais rápidas ou mais lentas, de acordo com a estratégia do jogo.

Uma máquina, que parece um desses robôs que limpam o chão, joga um óleo especial sobre a pista. Existem 12 tipos diferentes desse óleo, me explica Bruno, e um deles é escolhido para a competição. Dependendo da umidade e da temperatura, esse óleo fica mais fino ou mais grosso, deixando a pista mais rápida ou mais lenta.

"Tudo isso está na minha cabeça", garante Márcio, que conversou com a reportagem do UOL Esporte entre uma orientação e outra a Bruno, ao favorito Marcelo Suartz, a Stephanie Martins e Roberta Rodrigues. O treino é sério, com tática e técnica sendo discutidas a todo momento, mas quando Marcelo e Bruno jogaram uma partida valendo um café, Marcelo escreveu assim seu nome no placar eletrônico: "Marcelo Boludo".

Levou uma bronca e tanto da chefe de equipe, Karla Redig, que é diretora das Faculdades Integradas Hélio Alonso, a Facha, e que tirou férias para servir de "babá" da delegação do boliche, como faz desde 2011. O "Boludo" virou "Marcelo Lindo" e ficou tudo bem. Inclusive, ganhou a partida e um café.