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Pan 2019

Pan defende esportes alternativos e não quer ser uma 'mini-Olimpíada'

Esqui aquático, com o veterano Marreco, tem espaço generoso no Pan - Jonne Roriz/COB
Esqui aquático, com o veterano Marreco, tem espaço generoso no Pan Imagem: Jonne Roriz/COB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

05/08/2019 04h00

Sozinha, a norte-americana Regina Jaquess já ganhou mais medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Lima do que 30 dos 41 países que disputam a competição em Lima. Ela, porém, não estará na Olimpíada do ano que vem. Jaquess é atleta de um dos 11 esportes que são disputados no Pan, mas não fazem parte dos Jogos Olímpicos, o esqui aquático.

Apesar da pouca atratividade para público e mídia, o esqui aquático é uma das modalidades que foi premiada com mais provas no Pan de Lima. Eram nove em 2015 e agora são dez. Em quatro anos, o Pan ficou mais gordo. Serão 419 provas em Lima, contra 364 disputadas em Toronto.

Um aumento de 15% não tem relação com a ampliação do programa olímpico - skate e escalada esportiva, por exemplo, não são disputados em Lima. "Os Jogos Olímpicos são os Jogos Olímpicos. Não somos do mesmo movimento, mas eles têm sua própria dinâmica. Os Jogos Pan-Americanos são a possibilidade de incluir mais esportes que não estão no programa olímpico, permiti-los fazer parte disso", argumenta Gustavo San Martín, diretor de esporte do Comitê Organizador Lima-2019, o chamado COPAL.

San Martín rejeita qualquer comparação entre o Pan e a Olimpíada para explicar por que Lima-2019 tem não só um número grande de modalidades não-olímpicas como também uma variedade ampla de provas que não estão no programa olímpico, ainda que de modalidades olímpicas.

"Não queremos replicar os Jogos Olímpicos. O Pan é um evento diferente, um evento regional. Não somos uma cópia dos Jogos Olímpicos na América, mas os Jogos Olímpicos da América, o que é diferente", afirma. "Todos os esportes incorporados são um ponto de inflexão no crescimento do esporte. Queremos que Lima seja uma festa da maior quantidade possível de atletas", continua.

A expansão do número de provas dos Jogos Pan-Americanos, porém, não encontra reflexo no número de atletas, que cresceu menos de 8% de 2015 para cá. O que acontece é que os mesmos esportistas passaram a disputar mais medalhas entre si. O próprio San Martín dá o exemplo: o pentatlo moderno tem as provas individuais masculina e feminina na Olimpíada. Em Lima, teve também revezamentos masculino, feminino e misto.

Esse tipo de prática é usual nos Mundiais das modalidades. Ter cinco provas no Mundial é interessante para a Federação Internacional de Pentatlo Moderno vender mais ingressos e entregar mais visibilidade aos patrocinadores sem aumentar expressivamente o custo do torneio, uma vez que as instalações já estão montadas e os atletas já estão na cidade-sede.

Mas só algumas modalidades tiveram direito de inflar o programa do Pan. O nado artístico, que teve dez provas no Mundial de Esportes Aquáticos, aqui tem quatro, como na Olimpíada. O levantamento de pesos só dá medalhas no total (soma de arremesso e arranco), como na Olimpíada. Mas a ginástica rítmica faz final para cada um dos aparelhos, o que fez a norte-americana Laura Zeng ganhar cinco ouros em Toronto.

"Se as particularidades de um esporte permitem um número grande de medalhas, como a natação ou o atletismo, não entendemos por que deveria ser diferente nos Jogos Pan-Americanos. É mais inclusivo, mais participativos", argumenta San Martín.

Ainda que o Pan tente se desvincular do movimento olímpico, porém, as equipes são sustentadas e convocadas por comitês olímpicos, que concentram seus recursos nas modalidades que façam parte da competição intercontinental. O Comitê Olímpico do Brasil (COB), por exemplo, não dá nenhum apoio para atletas buscarem classificação para o Pan. Mas quem consegue a vaga por conta própria é inscrito no evento regional.