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Refugiado no Líbano, sírio descobre o mar e se aventura no surfe

13/06/2017 15h32

Jiyeh, Líbano, 13 Jun 2017 (AFP) - Ali Qasem nunca tinha visto o mar. Forçado ao exílio por conta da guerra, o jovem refugiado sírio conheceu suas belezas pela primeira vez no Líbano, onde descobriu a paixão pelo surfe e agora pretende levar o esporte ao seu país.

Vestindo 'long john' de neoprene, Ali passa parafina em sua prancha e aplica protetor solar no rosto, antes de ir para a água a passos largos. Uma onda após a outra, o surfista se mistura às águas de cor turquesa do Mediterrâneo, como se perseguisse o horizonte sem descanso.

"Quando estou na minha prancha, me sinto livre. Tenho a impressão de que estou em outra vida", revelou, confiante, o adolescente de 17 anos, em uma praia de Jiyeh, 30 quilômetros ao sul de Beirute.

Seu pai trabalha como mestre de obras em Jiyeh há 25 anos. Finalmente conseguiu trazer a família desde Aleppo, pouco tempo depois do início do conflito que matou mais de 320.000 pessoas e expulsou outros milhões de suas casas.

Ali, que tem dois irmão e três irmãs, garantiu que não guarda muitas lembranças de sua infância na Síria.

Lembrou, no entanto, da morte de seu terceiro irmão "abatido em Alepo no início da guerra", em julho de 2012, apesar de mencionar o fato brevemente.

"Surfar é como uma arte. Permite que eu expresse minha personalidade", explicou o sírio. "Eu me transformo em outra pessoa e tenho muito mais confiança em mim", afirmou.

'Surfe Síria'Ali Al Amin, surfista experiente, viu o jovem no mar em 2015 e desde então se transformou em seu mentor.

"Ele tentava surfar com um pedaço de poliestireno que tinha cortado em formato de prancha", lembrou o libanês de 34 anos, dono de uma escola de surfe na cidade. "Estava muito magro e tinha apenas uma bermuda curta. Fiquei com medo que ele se afogasse", contou Amin.

Depois de alguns minutos observando, o surfista se tranquilizou. "Sabia exatamente o que estava fazendo", lembrou o professor, apesar do jovem reconhecer que nem sabia que o esporte existia.

Ali Al Amin tomou o jovem como um filho e decidiu abrir as portas de sua escola, oferecer pranchas e roupas de neoprene. Já o jovem se entregou ao surfe, convencido que o esporte pode ajudá-lo a "construir uma vida melhor".

No verão, ele trabalha no clube de Ali Al Amin. Conserta as pranchas, recebe os cliente e ajuda o professor durante as aulas. Assim, pode ajudar sua família, que vive do trabalho do pai e da ajuda da Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR).

Sua ideia de longo prazo é levar o esporte para seu país, "se transformar no primeiro surfista profissional da Síria e abrir uma escola de surf em Latakia quando a guerra terminar".

A Federação Internacional de Surf (ISA) não conta com nenhuma escola de surf da Síria entre seus membros.

Para ajudar Ali a focar no esporte, seu mentor lançou uma campanha de financiamento coletivo.

O projeto da escola de surf de Ali ainda está distante, mas o jovem já escolheu o nome: "Surfe Síria".