Inflação assusta torcedores que querem assistir Venezuela nas eliminatórias

San Cristóbal, Venezuela, 15 Ago 2017 (AFP) - Gerardo esperava ansioso pela venda de ingressos para a partida das eliminatórias sul-americanas entre Venezuela e Colômbia, mas tomou um susto ao perceber que o preço estava 40 vezes mais caro, devido à incontrolável inflação que assola a vida dos venezuelanos.

Os ingressos para o duelo de 31 de agosto em San Cristóbal, no oeste da Venezuela, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia-2018, custam entre 25.000 e 550.000 bolívares, equivalentes a 2,2 e 50 dólares no mercado negro.

Não parece um valor tão absurdo, se comparado ao preço dos ingressos para jogos de seleções em outros países da região, mas a realidade é que o salário mínimo mensal dos venezuelanos é de 97.531 bolívares (8,8 dólares).

O salário é completado com um vale-alimentação equivalente a 14 dólares no mercado negro, referência diante da seca de produtos, que o governo monopoliza com um controle do câmbio.

O aumento no preço dos ingressos representa um salto enorme em relação à partida anterior, em 23 de março contra o Peru, em Maturín (leste), quando os bilhetes foram vendidos por entre 7.000 e 14.000 bolívares (0,60 e 1,30 dólar). O jogo contou com 35.000 espectadores.

Gerardo Candiales, sua mulher e os três filhos precisariam ganhar mais de um salário mínimo para assistir do estádio ao duelo entre Venezuela e Colômbia, sem incluir o lanche.

"Não, por favor! Como vou pagar isso se com o que eu ganho mal consigo sustentar minha família?", declarou à AFP este comerciante de 52 anos.

Ele terá de se contentar com assistir de casa à seleção do técnico Rafael Dudamel, que em junho comandou a equipe sub-20 da Venezuela rumo ao vice-campeonato mundial - a maior conquista da história do futebol do país.

"São jogos para se aproveitar em família, mas até isso permitimos que tirassem de nós", lamenta Gerardo.

- Preço definido - A Venezuela vive uma crise econômica agravada pela queda dos preços do petróleo, o que se reflete na escassez de alimentos e de remédios e na inflação mais alta do mundo, projetada em 720% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano.

Os produtos encarecem cada mais rápido, diluindo o aumento de 50% para o salário mínimo decretado pelo presidente Nicolás Maduro, em 2 de julho passado.

A alta no preço dos ingressos tem outros motivos: para a partida contra o Peru, o governo chavista do estado de Monagas subsidiou a organização. Em Táchira, o duelo será de responsabilidade de uma empresa privada.

Com isso, o jogo contra a Colômbia oferecerá ingressos de categoria VIP, bem mais caros, apesar de não haver grandes diferenças entre os dois estádios.

Jorge Silva, presidente do grupo empresarial JHS, proprietário do clube Deportivo Táchira e organizador da partida, justifica o reajuste.

"Estabelecemos preços em concordância com a situação e com a disponibilidade da torcida. O ingresso mais barato é de dois dólares", garante Silva em entrevista à rádio local, afirmando ter buscado "um equilíbrio", devido aos custos em dólares para a organização.

Cerca de 15% das entradas foram colocadas à venda na Colômbia, onde um ingresso pode chegar a custar 112 dólares, explica o empresário.

- 'Impossível' -A partida será crucial para a seleção colombiana, que com uma vitória poderá dar um passo definitivo rumo à classificação para a Copa do Mundo da Rússia. A quatro rodadas do fim das eliminatórias, os "Cafeteros" estão na 2ª colocação com 24 pontos, atrás apenas do já classificado Brasil (1º, com 33 pts).

Eliminada, a Venezuela é a lanterninha da competição, com apenas seis pontos somados.

Andrea Giraldo, uma jovem colombiana residente de San Cristóbal, tinha "muita vontade" de assistir a sua seleção, mas isso ficou "impossível" devido aos preços.

"Eu ganho um salário mínimo e não posso pagar esses ingressos. Me parece absurdo que seja tão caro", desabafou.

Apesar das críticas aos preços e do fato de a Venezuela já estar eliminada, o empresário Jorge Silva espera vender os 38.000 ingressos, confiando na fama de Táchira de ser o estado que mais gosta de futebol do país. Gerardo e Andrea terão de se conformar em assistir pela TV.

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