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Homossexualidade segue tabu no futebol britânico

11/10/2017 09h26

Londres, 11 Out 2017 (AFP) - Apesar das campanhas de sensibilização, a homossexualidade continua sendo um tabu no futebol britânico e faz com que os torcedores gays procurem apoio dos clubes que amam.

"Não vejo um jogador de futebol sair do armário" declarou o comediante Matt Lucas, que lidera os "Gay Gooners", uma torcida de homossexuais do Arsenal. "Se assumissem, seriam interpretados como um símbolo de fraqueza", acrescentou.

Em agosto, Ryan Atkin se tornou o primeiro árbitro profissional do futebol inglês a reconhecer publicamente a homossexualidade. Sua esperança era ajudar a combater a homofobia no esporte.

Entre os jogadores, o inglês Justin Fashanu foi o primeiro atleta a revelar sua preferência sexual, em 1990. Atacado por todos os lados, o jogador foi acusado de agressão sexual em 1998, nos Estados Unidos, e se suicidou pouco depois. O processo não avançou por falta de provas.

O alemão Thomas Hitzlsperger esperou até 2014, depois de pendurar as chuteiras, para reconhecer publicamente que era homossexual.

- 'Tsunami de homofobia' -Autores de um relatório sobre discriminações no esporte, publicado em 2013, explicaram que os jogadores temem "colocar suas carreiras em perigo". O informe citou o exemplo de um patrocinador que obrigou "um jogador profissional de alto nível a ficar nos braços de uma mulher para silenciar os boatos" de sua sexualidade.

"É algo que nunca vi (um jogador sair do armário). Mas por que não? É um ser humano e o que sente na sua vida privada não tem nada a ver com sua condição de jogador de futebol. Devemos simplesmente respeitar", lamentou o francês Paul Pogba, meia do Manchester United, durante lançamento da nova campanha da Uefa em favor da diversidade do futebol.

Até o momento, os atletas homossexuais continuam enfrentando ambiente hostil.

"Um tsunami de homofobia invadiria os clubes se um jogador saísse do armário", avaliou Jonathan Green, membro dos "Gay Gooners".

"Os jogadores homossexuais têm muito medo da ideia de sair do armário. Muitos jogadores são gays, inclusive na Premier League, mas não contam com apoio dos clubes que o empregam", lamentou. A situação poderia mudar se tivessem o apoio, avaliou Green.

- Falta de representatividade -Apenas um terço dos 92 clubes de futebol da Inglaterra tem torcidas organizadas LGBT.

"O que fazem? Não fazem grande coisa até agora", avaliou Green, em alusão aos clubes da Premier League e à Federação Inglesa de Futebol (FA).

A associação de defesa da comunidade LGBT Stonewall lançou campanha "cadarços arco-íris", apoiada pela FA.

O Arsenal tenta mobilizar um pouco. No último jogo da equipe londrina contra o Brighton, os Gunners utilizaram o slogan "Arsenal para todos". A ocasião era "criar um ambiente em que todos que se sentem identificados com o clube se sintam respeitados e bem-vindos", segundo o site oficial.

Antes do início da partida os torcedores gays de Arsenal e Brighton se enfrentaram dentro das quatro linhas.

Técnico do Arsenal, o francês Arsène Wenger insistiu sobre a importância de ter espírito aberto. "É crucial e uma das responsabilidades do esporte", declarou o comandante do time.

"Não se trata de apenas ganhar. Um clube de futebol está ligado aos valores. Se estou aqui há 21 anos é porque temos estes valores", acrescentou.

O Brighton, por outro lado, prefere se esconder, segundo o fundador da torcida gay "Proud Seagulls", Stuart Matthews: "Não acham que é um problema do clube. Pensam que é problema de outros clubes", lamentou.

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