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Olheiros no futebol: com 9 anos e perseguido por todos

16/11/2017 15h07

Paris, 16 Nov 2017 (AFP) - Para o pequeno parisiense Hannibal Mejbri tudo começou aos nove anos. "Muito cedo", lamenta o pai. Ligações telefônicas à noite, "conselheiros" à beira dos gramados e atraídos por uma jovem promessa, que foi contratado em agosto pelo atual campeão francês, Monaco.

"A princípio, você fica orgulhoso, mas felizmente fomos prudentes. É um ambiente muito complicado. O que me chocou foi o fenômeno de pessoas mal-intencionadas que estão ao redor do futebol. Muitos pais acreditam em suas promessas", afirmou o pai, Lotfi Mejbri, à AFP.

Ele relata um caso ocorrido durante um torneio na Bretanha. "Era muito pequeno e jogava com (crianças) maiores. Me pegaram, alguém se aproximou e disse: 'Sim, estou interessado em seu filho'. Tive que tranquilizá-lo: 'Calma senhor, ainda é muito cedo'".

Para evitar problemas, os Mejbri se organizaram e receberam a assessoria de um advogado. Mas, sobretudo, os pais decidiram proteger o filho e priorizar a coesão familiar.

Todos se envolveram no apoio ao integrante mais novo da família: os pais, a irmã e os dois irmãos.

"Meu filho mais velho está sempre presente nas reuniões com os agentes, com os dirigentes, é muito importante. Uma opinião apenas não é suficiente. Temos que confrontar ideias" afirma o pai.

- Sem legislação -Os jovens franceses são muito procurados, assim como os brasileiros. Foram respectivamente o primeiro e o terceiro países com mais jogadores na última edição da Liga dos Campeões.

A proteção da família também é considerada a única solução no Brasil, como relata à AFP Caio Lopes, de 17 anos, jogador das divisões de base do Vasco da Gama.

"Muitas pessoas entram em contato pelas redes sociais e me perguntam se tenho agente, se está tudo bem no clube. Acontece muito, mas eu prefiro me concentrar no Vasco e deixar para meu avô e meu agente este tipo de coisa", explica.

Hannibal Mejbri, atualmente com 14 anos, integra o grupo de promessas do centro de treinamentos da seleção francesa em Clairefontaine, um claro trampolim para o profissionalismo. Em poucos anos passará a treinar no Monaco, um dos principais clubes do país.

A família teria recebido um pagamento de um milhão de euros, segundo o jornal Parisien, mas os Mejbri não confirmam a informação.

Pessoas 'mal-intencionadas' à beira dos gramados são vistas com frequência por Fabien Caballero, técnico da equipe Sub-15 de Boulogne-Billancourt, na região de Paris.

"A cada fim de semana há cinco ou seus olheiros por partido neste campo. Alguns trabalham bem, sempre existem exceções", afirma.

Ele demonstra preocupação com o que chama de "pseudo-conselheiros".

"Virou algo comum. Pode ser qualquer um: o vizinho, o padeiro, alguém do entorno, não sei. Não existe uma legislação na França", denuncia.

- Tabu -As questões relacionadas ao dinheiro "perturbam todos porque estamos em um ambiente onde, na melhor das hipóteses, (os meninos) procedem da classe média. Isto pode mudar a vida, paralisa os jovens, isto perturba. Vemos meninos com seus pais um pouco perdidos, que buscam por todos os meios agradar, ao invés de desfrutar o futebol", lamenta o treinador.

A partir dos 13 anos na França, a família pode assinar um primeiro contrato, um tipo de acordo que garante ao menino uma vaga no centro de formação de um clube dois anos depois e que impede uma mudança.

Os valores pela assinatura do contrato representam um tabu, mas Matthieu Bideau, diretor de contratações para as categorias de base do Nantes, afirma que os grandes clubes franceses podem pagar milhares de euros, em alguns casos até EUR 50.000.

Autor do livro "Quero ser jogador de futebol profissional", Bideau garante que o Nantes nunca pagou mais de 9.000 euros.

Na Federação, "tentamos a pedagogia, mas estamos um pouco desamparados", admite o diretor técnico nacional Hubert Fournier.

"São pessoas que trabalham nas sombras. Muitos não têm licença como agentes. Estão fora dos radares. Geralmente são pessoas de fora da órbita dos clubes, negociam na esfera familiar e não podemos controlar", explica.

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