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Yoann Lemaire, o jogador gay que ataca a homofobia

04/01/2018 17h38

Vireux-Wallerand, França, 4 Jan 2018 (AFP) - "É a ignorância que gera intolerância": com esta convicção em mente, Yoann Lemaire, jogador amador assumidamente homossexual, quer fazer evoluir com um documentário a causa gay ainda tabu no mundo do futebol, onde a homofobia nunca está longe de campo.

"Eu sou um jogador amador de nível ruim, demitido por ser gay por pessoas pouco esclarecidas", se apresenta ironicamente Yoann Lemaire, 35 anos, em sua casa na cidade natal de Vireux-Wallerand, no norte da França.

Mas o preconceito ferrenho não desencorajou esse homem robusto de 1,89 m de assumir sua sexualidade aos 22 anos, em meio às brincadeiras de vestiário com os colegas.

No início, "os caras não acreditavam em mim, porque eu era o jogador mais viril, o que mais recebia cartões, um grosso mesmo", lembra o zagueiro do FC Chooz, que começou a jogar bola aos 6 anos de idade.

Em 2010, a imprensa ajudou a divulgar o caso Lemaire, vítima de insultos e de comportamentos homofóbicos por parte de alguns companheiros, e afastado do elenco pela direção, última repercussão de uma crise que o jogador contou em seu livro, "Je suis le seul joueur de foot homo...enfin j'étais" ('Eu sou o único jogador de futebol gay... enfim, eu era', em tradução livre).

- "Busca" -No documentário, "trabalhamos para classificar isso, do folclore à homofobia crescente, e depois à homofobia violenta", resumiu Lemaire ao falar do filme dirigido por Michel Royer e que conta com ajuda de um financiamento coletivo.

Esse zagueiro, que faz parte de um punhado de jogadores a assumir sua homossexualidade em meio a milhões de praticantes, partiu para o ataque, apoiado por personalidades do esporte, como o atual técnico da França, Didier Deschamps.

"Todo mundo virou amigo dele, é um cara brincalhão, feliz, e que fala de sua história com humor", revelou à AFP Jacques Vendroux, diretor do Variétés Club de France, um clube que reúne celebridades e ex-jogadores para jogos beneficentes.

O documentário não tem como objetivo "um acerto de contas, mas sim tentar encontrar um entendimento, passar da raiva à paz: é uma busca", acredita Lemaire, que quer "dar o exemplo", "entender os torcedores" e "encontrar um meio de sensibilizar" as pessoas, além de "ver nos outros esportes como as coisas acontecem, como no basquete feminino".

Apoiado pela Federação Francesa de Futebol (FFF), a Liga Profissional de Futebol (LFP) e o Ministério dos Esportes, Lemaire acumula reuniões em Paris para seu projeto, encorajado por sentir que "a causa está evoluindo", quando "há 10 anos era um grande tabu".

"No início, sem dinheiro, conseguimos cinco campeões do mundo que aceitaram dar seus testemunhos: (Laurent) Blanc, (Didier) Deschamps, (Fabien) Barthez, (Christian) Karembeu e (Liliam) Thuram", revela.

Uma primeira versão do documentário está prevista para ser exibida em 17 de maio, durante a Jornada Mundial de Luta Contra a Homofobia e Transfobia, com lançamento oficial marcado para a Copa do Mundo da Rússia (14 de junho-15 de julho).

A motivação sem trégua de Yoann Lemaire, porém, não consegue mascarar algumas amarguras: "Quando volto a meu clube, eu reencontro o mesmo técnico, os mesmos dirigentes, e não evoluiu, eles não querem falar sobre isso: é um saco para eles".