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Jogos Olímpicos e geopolítica se misturam durante a história

19/01/2018 14h47

Paris, 19 Jan 2018 (AFP) - Antes mesmo de começarem, os Jogos Olímpicos de inverno de Pyeongchang, disputado entre os dias 9 e 25 de fevereiro, são a ocasião para as coreias iniciarem uma trégua em suas relações. As Olimpíadas já se cruzaram com a diplomacia muitas vezes.

- Berlim-1936: propaganda nazistaAs Olimpíadas de Berlim-1936 continuam sendo um forte símbolo da utilização do esporte por um regime. A capital alemã foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1931, dois anos antes de Adolf Hitler chegar ao poder.

Quando a Alemanha assume as primeiras medidas anti-semitas, vozes surgem para tirar a competição de Berlim. Mas os Estados Unidos não boicotaram o torneio e a maioria dos países europeus participaram.

Hitler queria que os Jogos fossem o símbolo da potência da Alemanha e da "raça ariana". Na cerimônia oficial, 100.000 braços realizaram a saudação nazista. Mas a Olimpíada ficou marcada pelas quatro medalhas de ouro do afro-americano Jesse Owens, entre elas nos 100 e 200 metros rasos.

Após pausa forçada de 12 anos por conta da Segunda Guerra Mundial, as Olimpíadas voltam a ser organizadas em 1948, em Londres. Mas o COI não convidou a Alemanha nem a União Soviética, ausente das competições desde a revolução socialista de 1917.

- Munique-1972: Setembro NegroA Alemanha ocidental organiza os Jogos de Verão, 36 anos após os jogos de Berlim e 27 anos após a queda do regime nazista. O evento é lembrado pelo pior drama das competições, marcado pelo conflito Israel-Palestina.

Dia 5 de setembro, oito membros da organização palestina Setembro Negro invadiram a vila olímpica, matando dois atletas israelenses e fazendo outros nove como reféns. A intervenção dos serviços de segurança alemães termina com a morte dos nove atletas, um policial alemão e cinco sequestradores.

Os jogos são interrompidos quando os atletas são feitos reféns e retorna um dia após o fim da tragédia.

- Montreal-1976, Moscou-1980, Los Angeles-1984: era do boicoteOs jogos de verão de Montreal foram boicotados por 22 países africanos, que protestaram contra a presença da Nova Zelândia nas Olimpíadas. A seleção de rúgbi do país da Oceania tinha feito uma turnê pela África do Sul, onde vingava o apartheid. Os sul-africanos não foram convidados para participarem dos jogos desde 1960 e os atletas do país só voltaram a competir após o fim do regime, em 1990.

Quatro anos depois de Montreal, os Estados Unidos boicotam os jogos de verão de Moscou, em reação à invasão soviética ao Afeganistão no ano anterior. Uma dezena de países aliados de Washington se juntam ao boicote, que pretendia isolar a União Soviética. No total 65 países recusam o convite da URSS, alguns por motivos econômicos.

Em 1984, os países do bloco soviético, com exceção da Romênia, decidem boicotar os jogos de Los Angeles em resposta ao boicote de 1980.

- Seul-1988A Coreia do Norte boicotou os jogos de verão organizados pelo vizinho do Sul, após pedir em vão para sediar a competição de maneira conjunta.

As relações entre os dois países, separados desde 1945 e em guerra entre 1950 e 1953, tiveram repercussões no plano esportivo. Nas Olimpíadas de verão de Sidney-2000 e Atlanta-2004, assim como os jogos de inverno de Salt Lake City-2004 e Turim-2006, os dois países desfilaram juntos na cerimônia de abertura em momentos em que as relações não atravessavam um bom momento.

Os atletas tinham o mesmo uniforme e desfilaram atrás de uma bandeira que representava a península coreana em azul, com o fundo branco. Mas o caso não se repetiu desde os Jogos de Pequim-2008.

- Pyeongchang-2018Neste sábado, o COI vai se reunir com representantes das duas coreias e com o Comitê organizador dos Jogos de Pyeongchang para decidir os termos da presença do Norte no torneio. Quantos aletas do país, participação em quantos esportes, o protocolo e se os esportistas se alojarão na Vila Olímpica serão alguns dos temas do encontro.

Em contexto de fortes tensões na península coreana, exacerbadas pelos vários lançamentos de mísseis e testes nucleares realizados pelo Norte, a presença dos atletas do país no vizinho do Sul marca um momento raro de publicidade diplomática positiva para o movimento olímpico e cria esperanças no apaziguamento de conflitos.

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