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Guardiola, das dúvidas ao título inglês sem renunciar filosofia

16/04/2018 16h59

Londres, Reino Unido, 16 Abr 2018 (AFP) - Foi preciso um ano para aprender o idioma que se fala na Premier League: Pep Guardiola, mantendo-se fiel a seus princípios, conquistou no domingo o primeiro título do torneio em sua segunda temporada no comando do Manchester City.

Há pouco menos de um ano, o prestigiado técnico espanhol completava sua primeira temporada na Inglaterra sem nenhuma conquista. Foi o primeiro ano como técnico sem troféus numa temporada.

"Pensei: 'se isso não funciona volto para casa, outro me substituirá e tentará do seu jeito' Tinha preocupação com os resultados, sobre o que podíamos melhorar", admitiu recentemente o técnico.

"Neste momento, pensei que poderia chegar (a demissão). É normal, todos os treinadores pensam nisso quando não vencem", acrescentou.

"Na temporada passada, me perguntaram muitas vezes se minha maneira de jogar podia funcionar. Eu respondia: 'vou insistir'. Nunca duvidei disso", indicou o treinador, cujo trabalho começou a dar frutos quando levantou a Copa da Liga em fevereiro, o primeiro título na Inglaterra.

Os proprietários do City confiaram em uma pessoa cujo futebol ofensivo, filosofia inegociável, tinha triunfado anteriormente nos gigantes Bayern de Munique e Barcelona. Depois de tudo, contrataram o treinador para mudar o patamar equipe.

- Zaga de ouro -O presidente Khaldoon Al Mubarak não apenas fez vista grossa a uma primeira temporada medíocre, mas abriu a carteira para fortalecer o elenco à revelia do treinador espanhol, que buscava rejuvenescer o grupo. Saíram Sagna, Zabaleta, Caballero, Clichy, Kolarov, Nasri, Navas, Fernando e Claudio Bravo.

Para competir com o goleiro chileno, o brasileiro Ederson chegou por 40 milhões de euros para cimentar a defesa de alto investimento: Kyle Walker (57 mi, Tottenham), Benjamin Mendy (58 mi, Monaco), Danilo (30 mi, Real Madrid) e Aymeric Laporte (70 mi, Athletic Bilbao).

Mas Guardiola também gastou para reforçar o ataque, contratando o português Bernardo Silva por 49 milhões, após o jogador ser um dos principais destaques do Monaco campeão da Ligue1.

"Alguns clubes gastam 300 ou 400 milhões de libras por dois jogadores. Nós gastamos em seis", defendeu-se Guardiola após a chegada do francês Laporte e sobre o investimento realizado.

O técnico espanhol cimentou o êxito em uma defesa de ouro, da qual inicia o estilo de jogo dos Citizens com passes curtos e posse de bola, maneira similar da implantada no Barça.

Além da rápida adaptação dos contratados, Guardiola conseguiu progredir jogadores que já estavam no grupo na temporada anterior.

- 'Obsessivo' -O zagueiro John Stones, o lateral Fabian Delph e o atacante Raheem Sterling assimilaram os métodos científicos do treinador. Os três selecionáveis ingleses do grupo também deram razão a Guardiola ao mostrarem o mesmo nível com a seleção.

"Um técnico assim tira o melhor de cada um. Te diz quando você está equivocado", explicou Sterling, antiga promessa que não tinha chegado a explodir até esta temporada, marcando 22 gols até agora.

Serviu também para Kevin De Bruyne e Sergio Agüero. O belga atingiu o melhor nível sob comando de Guardiola, enquanto o argentino se tornou um atacante completo e maior artilheiro da história do clube (199 gols).

Os números do City na Premier League impressionam: 93 gols a favor, 25 gols sofridos e um título conseguido com cinco rodadas de antecedência. Mais importante que tudo, fica a sensação de potência de um time que não se via desde o imbatível grupo do Arsenal, campeão invicto em 2003-2004.

"É um obsessivo", explicou recentemente Xavi Hernández, o maestro em campo quando dividiam o vestiário do Barcelona. "Exige muito de si mesmo. E essa pressão que coloca sobre si contagia, se estende para todo mundo. Quer que tudo seja perfeito", acrescentou.