Topo

Di Francesco e a chance de acabar com histórico derrotismo da Roma

23/04/2018 15h34

Roma, 23 Abr 2018 (AFP) - De pilotar um trator na praia da Pescara a comandar a Roma na histórica virada diante do Barcelona: o técnico Eusebio Di Francesco não se contenta e sabe que sua equipe tem uma chance histórica de encerrar seu lendário derrotismo.

Di Francesco ama falar, muito e rapidamente. Adora explicar suas decisões táticas, sua preferência pelo 4-3-3 ou porque optou por um 3-4-3 que serviu para derrotar o Barcelona numa improvável virada que levou a Roma para as semifinais.

Mas após cada importante vitória, diz que seu objetivo e seu orgulho foi ter sido capaz de transmitir uma mentalidade vencedora a um clube acostumado a viver longe dos troféus.

Em quase 100 anos de vida, a Roma venceu apenas três títulos do Campeonato Italiano, 9 Copas da Itália e uma Copa de Ferias.

O orgulho romanista muitas vezes passa pelos meritosos vice-campeonatos, espetaculares triunfos sem continuidade ou de ter tido Francesco Totti, símbolo da grandeza da capital italiana.

Di Francesco, de 48 anos e proveniente do Sassuolo, conhece perfeitamente seu clube por tê-lo defendido quando jogador, manager e agora técnico. É capaz de encontrar os erros e veio para resolvê-los.

- Ascensão com Sassuolo -Seu destino como treinador não era evidente: "era a última coisa que eu pensava em fazer", contou o técnico ao jornal La Repubblica quando ainda comandava o Sassuolo.

"Era manager da Roma, após um pedido de Rosella Sensi (então presidente) e Totti. Mas não era para mim. Então saí para administrar um clube local na beira do mar, o Etoile d'Or, em Pescara. Ao amanhecer, limpava a piscina com meu pequeno caminhão e estava em paz com o mundo", explicou.

Antes do trator na cidade banhada pelo Mar Adriático, Di Francesco foi um meia de qualidade e convocado 12 vezes para a seleção da Itália. O agora técnico foi companheiro de Totti quando a Roma venceu o terceiro e último Scudetto, em 2001.

Batizado de Eusebio em homenagem ao Bola de Ouro português, cresceu em uma família de hoteleiros em Los Abruzos, ajudando seus pais como garçom até os 15 anos.

Suas qualidades como técnico ficaram evidentes no Sassuolo, clube que conduziu da segunda divisão até a Liga Europa em quatro anos, com uma pausa de algumas semanas em 2014. A direção o despediu por alguns maus resultados, antes de entender que seria pior sem ele.

- 'Um pouco masoquistas' -Na Roma, foi capaz de estabelecer uma solidez e tranquilidade que não parecem próprias ao clube, tradicionalmente frágil e explosivo. Na Liga dos Campeões, o time não sofreu gols em casa.

"Somos um pouco masoquistas", reconheceu Di Francesco sobre um sentimento talvez tenha nascido na famosa final da Copa da Europa de 1984 contra o Liverpool.

"Foi esse 30 de maio de 1984 que abriu o mundo paralelo onde vivem os torcedores da Roma", escreveu recentemente o jornal La Gazzetta dello Sport. Uma derrota em casa, nos pênaltis, sintetizou a incapacidade do time em aproveitar suas chances.

Para Di Francesco, esse é o momento de romper com essa realidade paralela. "Devemos sonhar com Kiev (final). Por que não acreditar em algo mais depois de um jogo assim?", disse o técnico Eusebio Di Francesco após eliminar o Barça. A resposta foi recebida com aplausos pelos jornalistas italianos na coletiva de imprensa.

"Hoje é um grande dia, mas não devemos nos contentar", advertiu.