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Falecimento de árbitro em estádio boliviano reabre debate sobre altitude

21/05/2019 13h16

La Paz, 21 Mai 2019 (AFP) - A repentina morte do árbitro Víctor Hugo Hurtado no estádio El Alta, na Bolívia, a 4.090 metros do nível do mar, reabriu o debate sobre disputar jogos em grandes altitudes, um tema que gera defensores e críticos no país.

O árbitro, que tinha 32 anos, desmaiou no domingo em campo nos acréscimos da partida da primeira divisão boliviana entre o anfitrião Always Ready e o Oriente Petrolero devido a uma parada cardíaca. Após ser reanimado, Hurtado foi levado a um hospital próximo, onde acabou falecendo de uma segunda parada cardíaca.

Essa morte motivou uma imediata pergunta dos torcedores e da imprensa especializada: Hurtado teria morrido dos efeitos da altura?

O presidente da Federação Boliviana de Futebol (FBF), César Salinas, rapidamente se posicionou sobre o caso, negando que a altitude tenha matado Hurtado, como informaram alguns veículos da imprensa internacional.

"Pessoas que não gostam de nós vão tentar usar este tema para prejudicar o futebol boliviano, quando já foi provado que o jogo na altitude não tem efeito" negativo, reagiu o chefe do futebol boliviano e ex-presidente do The Strongest, popular clube de La Paz, que sedia seus jogos a 3.600 metros do nível do mar.

"O relatório preliminar que eu tenho é que seria uma morte súbita. A morte súbita, segundo o médico da seleção (boliviana), pode acontecer em qualquer lugar e sob qualquer circunstância, com uma pessoa jovem ou uma pessoa mais idosa", justificou Salinas à emissora ATB.

O médico Erick Koziner, do clube Always Ready, um dos responsáveis pelos primeiros socorros ao árbitro dentro de campo, afirmou que a autópsia não apontou "um edema pulmonar, que nas enfermidades de altitude é a primeira coisa que se observa antes de chegar ao sistema cardíaco".

O presidente do Colégio Médico de La Paz, Luis Larrea, respaldou o relatório que nega a hipótese que Hurtado tenha morrido devido aos efeitos da altitude. "Ele pode ter tido uma doença anterior ou colesterol alto", declarou, baseando seu relato no fato do árbitro não ter apresentado um edema pulmonar.

Para reforçar o argumento de que a altitude não tem efeitos perigosos para a saúde, Salinas declarou que a FBF "já tomou a iniciativa de convidar quatro profissionais especialistas no tema para que emitam um relatório muito clínico, muito médico sobre o falecimento do professor Hurtado", que deve ficar prontos em 10 dias.

- Derrotas brasileiras e argentinas -O debate sobre os efeitos da altitude no futebol ganhou força em 25 de julho de 1993, quando a Bolívia derrotou por 2 a 0 em La Paz a seleção brasileira de Taffarel, Cafu e Bebeto. Foi a primeira vez que o Brasil perdeu para a Bolívia nas eliminatórias para a Copa do Mundo.

Na época, a Fifa era presidida pelo brasileiro João Havelange, acusado pelos bolivianos de ter influenciado na decisão de vetar o estádio Hernando Siles, em La Paz, de jogos internacionais.

O atual candidato à presidência da Bolívia Carlos Mesa, um famoso jornalista local, comandou então uma campanha que conseguiu evitar o veto ao estádio, usando argumentos médicos e científicos.

Em 2006, quando o suíço Joseph Blatter já havia substituído Havelange na presidência da Fifa, o fantasma do veto reapareceu e cidades como Quito e La Paz foram proibidas de receber jogos internacionais, obrigando o presidente boliviano Evo Morales a iniciar uma campanha para reverter a decisão.

Nas eliminatórias para a Copa da África do Sul-2010, outro resultado favorável à Bolívia reaqueceu o tema: uma histórica goleada por 6 a 1, em 1 de abril de 2009, sobre a Argentina de Lionel Messi, treinada por Diego Armando Maradona.

- As queixas locais -As equipes bolivianas também se queixam dos efeitos de jogar em estádios de La Paz, Oruro (3.700 metros) ou Potosí (4.070 metros).

O argentino Néstor Clausen, ex-técnico do Oriente Petrolero, já afirmou que equipes como The Strongest e Bolívar só se classificam para as competições internacionais graças à altitude.

Mas o presidente da empresa BAISA, que administra o Bolívar, Marcelo Claure, fez questão de lembrar a Clausen que, quando o argentino era o técnico do clube, não ganhava nem com a altitude a seu favor.

jac/rb/ma