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Promessa brasileira revela como abriu mão do convívio familiar por sonho no UFC

Ag. Fight

08/09/2017 06h00

A lutadora brasileira de MMA Ketlen Vieira fará sua terceira participação no UFC, em Edmonton (Canadá), no próximo sábado (9), em duelo contra a americana Sara McMann que marcará sua estreia em edições numeradas no show. Atraída desde sempre pelo esporte, como ela mesma faz questão de ressaltar, a atleta precisou abrir mão do convívio com a família e aprender a viver com restrições para se tornar uma atleta de alto rendimento. E após dar esse grande passo, nada parece capaz de fazê-la voltar atrás.

Nascida e criada em Manaus, Ketlen precisou se despedir dos três irmãos ainda no início deste ano quando se mudou para a cidade do Rio de Janeiro para dar continuidade ao seu sonho de ser uma atleta de MMA profissional. A ideia era simples: sem apoio de patrocinadores em sua cidade natal, a migração para um grande polo do esporte a tornaria mais "visível" ao mesmo em que seus treinos diários ganhariam o reforço de atletas do calibre de José Aldo e Leonardo Santos, nomes conhecidos no UFC.

"Em Manaus, eu não tinha apoio de ninguém. Nem da prefeitura, nem das pessoas. Conversei com a Nova União, e falaram que eu tinha muito que melhorar e evoluir, mas que eu tinha que morar no Rio para ter essa evolução. Então, decidi mudar para o Rio, para melhorar ainda mais o meu treinamento", contou a brasileira em conversa com a reportagem da Ag. Fight.

Na transição da fase amadora para a profissional em sua carreira, a atleta apelidada de 'Fenômeno' precisou reestruturar toda a sua vida. Não apenas a mudança de cidade propriamente dita, mas também à adequação aos parâmetros de uma rotina profissional: cuidado com o corpo, alimentação, vida regrada e muito foco.

"A gente tem que viver para a luta, não pode perder o foco. Então, quem é atleta tem que ter uma vida diferenciada. A gente vive disso, é o nosso trabalho, o nosso corpo também é levado ao extremo todo dia por causa dos treinos. O atleta tem prazo de validade, ele não compete por muitos e muitos anos, então a nossa vida muda, fica em função da luta", explicou, demonstrando maturidade de sobra para seus 26 anos.

Curiosamente, apesar de ser o orgulho da família hoje em dia, o início da carreira da manauara foi marcado por dificuldades em convencer os pais a deixá-la se dedicar às competições. Mesmo com o amor pelo esporte desde jovem apontado por Ketlen, ela só foi conseguir o aval para treinar aos 12 anos, quando mergulhou de cabeça no mundo das lutas de uma vez por todas. Caminho que aparentemente não tem mais volta.

"Isso já nasceu comigo, desde pequenininha. A minha mãe era do interior, ela é ribeirinha, então ela não tinha contato nenhum com luta, ela nem sabia o que era uma academia, nem nada. E desde que eu me entendo por gente, eu sempre pedia para ela, porque eu assistia na televisão, e eu achava legal. Então eu dizia: 'Mãe, eu quero treinar', 'Mãe, me leva na academia'. Só que os meus pais não sabiam nem o que era, então não me levavam para treinar. Mas quando eu tinha 12 anos, eles me levaram numa academia de judô e jiu-jitsu, e foi onde eu comecei. Inicialmente no jiu-jitsu, e depois já migrei para o judô, treinei também por bastante tempo luta olímpica, e no final de 2014, eu entrei no MMA", relembrou a lutadora.

Mesmo com esse começo turbulento, ao se tornar profissional Ketlen já contava com o apoio da família. A luta agora, porém, é para administrar a saudade diária. E para diminuir a distância, a atleta garante que sempre retorna para casa depois de suas lutas para aproveitar o máximo de tempo possível com seus parentes, a quem promete encher de orgulho.

"É um pouco ruim, porque tenho três irmãos e eu era acostumada a ficar com eles, a ter a família perto. Eu sempre sigo o meu sonho e minha família toda me apoia, então, isso é o que me conforta, saber que eles se sentem orgulhosos de mim. E toda vez que eu acabo uma luta, eu vou para Manaus, passo umas duas 'semaninhas' lá e aí eu volto para continuar o treinamento", revelou a brasileira.

Com a cabeça no seu próximo desafio e disposta a manter a invencibilidade de oito lutas nas artes marciais mistas, a atleta da academia Nova União não escondeu durante a entrevista alguns dos pontos-chaves de sua preparação para o duelo. Afinal, do outro lado do cage, estará a dez anos mais velha Sara McMann, vice-campeã de luta olímpica nos Jogos de Atenas, em 2004.

"A gente treinou muito trabalho de queda, a gente fez bastante isso. Mas a gente vai lutar MMA, que é muito diferente de só derrubar. É diferente você lutar um campeonato de luta olímpica e lutar MMA. Porque, no MMA, você tem que se preocupar com várias coisas. Você pode vir na minha perna e eu posso te dar uma joelhada, posso te dar um soco. Se você conseguir me derrubar, eu posso tentar uma finalização, então é totalmente diferente. Mas a gente treinou bastante os pontos fortes dela, treinamos também as minhas fraquezas, porque ela pode se aproveitar desses momentos", finalizou a Fenômeno.