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Com história digna de Hollywood, 'Moçambique' coloca seu cinturão em jogo no Brave

Fábio Oberlaender, no Rio de Janeiro (RJ)

Ag. Fight

20/09/2018 08h00

A história de vida de Carlston Harris seria digna até mesmo de se tornar uma produção de Hollywood. Fã do ex-UFC BJ Penn, o lutador é o atual campeão meio-médio (77 kg) do Brave ? maior liga de MMA do Oriente Médio ? e colocará seu título em jogo na próxima sexta-feira (21), em Abu Dhabi. 'Moçambique', como é conhecido, nasceu e cresceu na Guiana antes de se mudar para o Brasil, há mais de dez anos. Em busca de novas oportunidades, ele trabalhou como mecânico em Manaus e, no período em que não consertava carros, treinava boxe. Na academia, conheceu a luta livre e, posteriormente, a modalidade que daria um novo rumo para a sua vida.

Carlston teve seu primeiro contato com as artes marciais mistas quando assistiu um dos combates do ex-campeão do UFC BJ Penn. Após ficar "encantado" com a exibição do americano, o guianês teve certeza do que queria para a sua vida: ser lutador de MMA. Seu treinador, então, entrou em contato com um amigo que trabalhava com a modalidade no Rio de Janeiro e, deste modo, 'Moçambique' foi parar na capital fluminense, onde vive até hoje.

"Foi BJ Penn quem me inspirou a começar a lutar MMA. Antigamente eu comprava DVDs na feira para assistir em casa. Determinado dia, comprei um DVD do Diego Sanchez contra o BJ Penn e fiquei encantado. Então falei com o meu professor em Manaus se ele conhecia alguma academia de MMA que treinasse atletas. Ele falou que tinha um amigo no Rio de Janeiro que fazia esse trabalho, então ele fez o contato, e eu acabei indo", contou o atleta da academia Renovação Fight Team (RFT), em entrevista à reportagem da Ag. Fight.

Já em terras cariocas, ao se destacar pela velocidade nos treinos de corrida, passou a ser chamado de 'Moçambique', apelido que mantém até hoje. No entanto, nem tudo foram flores na carreira do lutador. A mudança para uma cidade turística como o Rio de Janeiro trouxe também o aumento das despesas cotidianas. Para ajudar a se manter, Carlston trabalhou como segurança de boates aos finais de semana, emprego com o qual ainda divide os treinamentos e onde, vez ou outra, aplica algumas de suas técnicas de MMA.

"No primeiro instante que cheguei no Rio senti a diferença. Cidade maior, as coisas acontecem mais rápido, é tudo mais caro, o dobro do valor que eu estava acostumado em Manaus, mas com o tempo acabei acostumando e já estou lá há oito anos. Minha vontade inicial foi voltar para a Manaus, mas insisti em ficar porque sabia que teria que ficar aqui para alcançar meu objetivo, que era treinar MMA", relatou.

"Eu trabalho como segurança nos finais de semana. Faço como um extra para poder complementar a minha renda, mas é muito raro eu precisar usar o MMA nesse trabalho. Até já utilizei dentro das boates, mas nada de violência. Só imobilizei os caras que estavam alterados dentro da boate só para manter a calma, mas nunca cheguei a bater em ninguém. Só imobilizei alguns caras bêbados umas duas ou três vezes", completou.

Harris lutará com Jarrah Al-Silawi em seu próximo combate no Brave Combat Federation. O lutador da Guiana defenderá o seu cinturão contra o jordaniano que, com cinco vitórias, é o atleta com o maior número de triunfos na organização de MMA. Mas isso, nas palavras dele, "não significa nada". 'Moçambique' parece disposto a dar o seu máximo para manter o título que ganhou após ser escalado de última hora para a disputa, em seu combate anterior, graças a uma lesão do antigo desafiante. De acordo com o atleta, sua dedicação possui um propósito maior: ajudar a sua família.

"Eu venho da Guiana, de uma família pobre. Se estivesse na Guiana até hoje, eu não conseguiria nem pagar uma passagem para ir até Abu Dhabi. A luta que me proporcionou muita coisa boa, muita experiência e essa oportunidade de estar em Abu Dhabi defendendo esse cinturão. É tudo graças à luta. Quero uma carreira no MMA, mas não estou lutando por mim e sim pela minha família. Quero mudar a vida da minha família. No momento não dá mas sei que um dia ainda vou conseguir", encerrou.

Aos 31 anos, Carlston Harris já realizou 15 combates de MMA. Em seu cartel profissional, o lutador da academia RFT somou, até então, 12 vitórias e apenas três derrotas.