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UFC 25 anos: O dia em que Royce Gracie entrou para a história

Getty Images
Imagem: Getty Images

Diego Ribas, em Las Vegas (EUA)

Ag. Fight

12/11/2018 06h00

"Queria mostrar para o mundo que quando o Bruce Lee entra sozinho em uma sala e bate em 25 pessoas sozinho, isso é cinema, não é realidade", descreve de forma direta Rorion Gracie, criador do UFC, ao se referir à primeira edição do show, realizada há exatos 25 anos, no dia 12 de novembro de 1993. Naquela noite, seu irmão Royce finalizou três adversários para se sagrar campeão do torneio e dar início à uma verdadeira revolução nas artes marciais.

Mas para que o campeonato no formato 'mata-mata' entre oito atletas fosse realizado, era preciso antes de mais nada encontrar representantes de diferentes modalidades dispostos a duelarem em condições até então inéditas: sem limite de tempo, categorias de peso ou luvas. E foi a partir daí que Rorion Gracie viu a base do show se construir na sua frente a cada resposta que recebia dos lutadores procurados.

"Eu convidava e a maioria ficava desconfiada: 'Mas vale tudo?'. 'Sim, vale' . Então a gente ia do início do ranking de cada modalidade e descia até achar alguém que aceitasse. Botamos anúncios em revistas. 'Se você é bom lutador, venha ganhar dinheiro. 50 mil dólares para o primeiro lugar'. Procurei os mais pesados, fortes e qualificados e coloquei na arena para brigar. E botei o Royce para dar o show dele", relembra, orgulhoso, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight.

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Durante os meses de preparação que antecederam o card do UFC, nomes de peso foram selecionados e representantes qualificados de variadas artes marciais confirmaram presença na arena montada na cidade de Denver (EUA). No entanto, imprevistos durante a competição poderiam atrapalhar o andamento do torneio, principalmente pela incerteza se, de fato, todas as regras (ou a ausência delas) seriam de fato executadas.

"Estávamos preocupados se o formato de torneio, a ideia de vencer três lutas na mesma noite, era possível", narrou Art Davie, cocriador do evento, também em entrevista à reportagem da Ag. Fight. "Até o último momento, o Ken Shamrock não tinha certeza se era uma luta sem regras de fato. Estamos falando sobre isso por semanas. Ele me disse: 'Tem um cara sem experiência nesse torneio, um garoto vestindo pijamas de karatê'. E eu lhe disse: 'Você vai ver que é real'", brincou.

De acordo com o empresário americano, a confirmação da realidade do torneio, não apenas para Ken mas também para quem assistia ao evento, foi dada em grande estilo. Logo na primeira luta, o kickboxer holandês Gerard Gordeau nocauteou o gigante do sumô Teila Tuli, que, ao receber um chute no rosto enquanto se escorava nas grades do octógono, viu um de seus dentes voar para fora do cage. A partir daí, um jovem franzino chamado Royce Gracie ditou o ritmo das ações naquela noite, diante de oponentes bem maiores.

"Eu estava tranquilo, a minha família sempre me deu confiança. Não tinha preocupação. Sempre me senti confiante de que iria funcionar. 'Faz o que tem que fazer que funciona, acredita'. Preocupação de lesão era não dar soco. Meu pai falava para dar tapa para não quebrar a mão na primeira luta", relembrou à Ag Fight Royce, campeão de três das quatro primeiras edições do evento.

"Só fiz o que aprendi com meu pai e minha família. Já tinha sido construído com meu tio, pai, primos, irmãos... todos já vinham brigando fazia anos. Eu fui uma continuação do que a família criou. Eles me fizeram me sentir seguro. Eles já tinham provado que funciona. nunca pensei no que aconteceria caso eu perdesse. Mas se eu tivesse perdido, não teria sido a arte, eu é que teria errado em algo", resumiu, com a confiança de sempre.

Naquela noite, Royce precisou de exatos 4min59s para dar cabo de seus três oponentes. O primeiro deles, o boxeador Art Jimmerson, tornou-se um clássico exemplo do que a falta de conhecimento sobre jiu-jitsu pode acarretar no octógono. Com uma luva de boxe em apenas uma das mãos, o atleta rapidamente demonstrou sua falta de intimidade com os moldes do combate e, derrubado, desistiu ao ver que o brasileiro se preparava para atacá-lo da montada. O desespero foi tão surpreendente que até o próprio Royce demorou para entender que o rival desistia sem nem sofrer um castigo.

Na sequência, o americano Ken Shamrock trazia, em tese, o maior desafio para o membro da família Gracie. Mais forte e pesado, ele carregava a experiência de duelos no evento japonês Pancrase, que previa em suas regras que os combates transcorressem tanto em pé quanto no chão, dinâmica inédita para os demais atletas.

"O Ken talvez fosse o mais preparado porque fazia o Pancrase, fazia parte em pé e no chão. Mas todos tinham um estilo e acreditavam nele", minimizou, antes de relatar a tentativa do rival de retornar ao combate, que acabou com menos de um minuto de duração após um estrangulamento. "Quando finalizei o Ken, quando ele bateu, eu larguei e ele quis continuar. Aí eu agarrei ele e falei que ele tinha batido. 'Se quiser, a gente continua. Deixa!', falei para o juiz e mandei continuar. A mão já estava pronta para ir no pescoço e eu ia fazer ele dormir. Aí ele reconheceu e pediu para parar ", divertiu-se.

Para levar o cheque de 50 mil dólares para casa, Royce finalizou Gerard Gordeau com um mata-leão, na disputa que, de acordo com Art Davie, foi a mais emblemática da noite. "Royce vs Gordeau foi a minha favorita. Sabia o que aconteceria e que teríamos o melhor grappler e melhor striker na final. Royce venceu um rival bem mais alto e pesado. Foi incrível", falou à Ag. Fight.

"Essa noite foi um choque. O maior lutador foi batido em 26 segundos, o boxe se mostrou ineficaz e o menor cara bateu em todo mundo. Foi um choque para lutadores, fãs e audiência. E para quem estava em casa. Ninguém esperava por isso. Foi fantástico", finalizou.