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Estreante no UFC, brasileiro concilia treinos com trabalho de madrugada no metrô

Felipe Paranhos, em Salvador (BA)

Ag. Fight

15/11/2018 14h34

Quando se tornou campeão peso-galo (61 kg) do SFT, em julho, Anderson 'Berinja' usou o microfone do evento para pedir uma oportunidade na maior liga de MMA do mundo. "Estou pronto, UFC, me dê uma oportunidade, quero lutar em São Paulo", declarou, ainda no cage. A chance no Ultimate não veio de cara, mas chegou alguns meses depois. Pouco mais de uma semana antes do UFC Buenos Aires, o atleta foi convidado para substituir Sergio Giglio contra Nad Narimani. O brasileiro relatou com exclusividade à Ag Fight a correria desde o dia em que disse 'sim' ao Ultimate.

Formado em tecnologia da informação, 'Berinja' trabalha no metrô de São Paulo. Funcionário de uma empresa terceirizada, o lutador passa as madrugadas operando o sistema de fibra ótica do transporte. E foi em serviço que recebeu a chamada tão aguardada.

"Eu estava no trabalho, porque eu trabalho à noite no metrô de São Paulo, aí recebi uma ligação do meu empresário, que perguntou se eu estava tranquilo e se conseguiria bater 66 kg para a próxima semana. Eu falei que sim, mas até então não sabia qual era o evento. Então ele contou que era uma oportunidade para o Ultimate na Argentina. Fiquei muito feliz, veio aquele turbilhão de emoção na hora, mas, mesmo assim, com os pés no chão, porque não era uma certeza. Ele me disse que estava negociando. Mas deu tudo certo. Uma das coisas que ele deu muita ênfase é se eu estava 'limpo'. Disse que tinha certeza absoluta de que não tinha usado nada, não uso nada. Eu estava com toda a documentação, exames... Como lutei esse ano na Califórnia, então estava com os exames todos em dia. Então, foi mais fácil, viabilizou a contratação. E na sexta-feira de madrugada ele me ligou falando que estava tudo certo", contou.

Anderson trabalha de 22h às 6h no metrô e concilia o cotidiano puxado com a também exigente rotina de atleta de alto nível. O lutador da Babuíno Gold Team, que vai se arriscar no peso de cima no mais importante embate de sua carreira, trata as dificuldades sem muita lamentação.

"A guerra começa no dia-a-dia, no treino, conciliar com trabalho, cuidar da família, da filha, ir para a academia treinar. A guerra é diária. Faz dez anos que eu pratico artes marciais e oito anos que luto profissionalmente, então esse tempo todo a gente tenta conciliar, dar aula, correr atrás de um dinheiro para ir treinar, comprar suplemento... A luta do lutador brasileiro é desse jeito", comentou à Ag Fight.

O convite de última hora também teve consequências em sua jornada no metrô. Apesar de ter conseguido uma licença para viajar à Argentina, por motivos óbvios, não era possível simplesmente ignorar o serviço. Assim, Anderson teve de trabalhar até uma hora e meia antes do voo para Buenos Aires.

"No dia anterior da viagem à Argentina - na verdade, à noite -, eu ainda tive que treinar e fazer um monte de coisa. Mandar para o empresário muita coisa, assinar muita coisa que eles me mandaram. Aí, quando passei na casa da minha mãe para dar tchau para ela, já eram 23h30. Ela já estava quase dormindo e brigou comigo, dizendo que eu tive o dia inteiro para passar lá...", lembrou, bem-humorado.

"Expliquei para ela que não tive tempo para nada, pois tinha acabado de chegar do treino. E detalhe: cheguei do treino, dei um beijo nela e eu tive que ir trabalhar ainda. Já tinha pedido uma semana de licença do trabalho, pois como foi em cima da hora eu optei por pedir a licença, mas quando eu voltar verei o que fazer. Sou encarregado lá, então o pessoal tem um monte de dúvida, um monte de dificuldade sobre o que fazer. Tive que trabalhar ainda na noite em que viajei. Eu trabalhei até às 3h e saí de casa 4h30 para ir ao aeroporto. Cheguei em casa correndo, arrumei a minha mala e saí. Então foi correria para caramba. Aqui no hotel que deu uma sossegada", contou, pelo telefone.

'Berinja' espera usar o efeito surpresa a seu favor no duelo. Isso porque, apesar de Narimani ter se preparado melhor para o combate, teve três adversários diferentes: primeiro Enrique Barzola, depois Sergio Giglio e, por fim, o brasileiro.

"Isso deve dar uma embaralhada na cabeça dele, por não saber o que vem. Talvez ele pense que irá pegar um cara mais fraco, por eu ser da categoria de baixo, mas na hora em que ele sentir ali o corpo a corpo comigo ele vai ver que não é por aí e vai acabar se perdendo. Acho que ele está bem treinado, ainda mais por ser um cara que já está no UFC , imagino que não virá destreinado para uma luta, mas do outro lado ele não sabe o que vem. Eu sou bem mais experiente do que os outros dois caras que ele ia pegar, então eu vou pôr isso em jogo. Vou com a minha experiência, o controle que tenho no cage... Consigo mapear o que o cara está fazendo, o que ele está buscando na luta, usando a minha experiência eu fico bem calmo ali na hora, consigo ver o que o cara está procurando fazer, e isso me dá uma vantagem", analisou.