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"Queriam que fizesse tudo em campo": antecessor de Neymar relembra peso de ser o 'mais caro'

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Imagem: Divulgação

04/08/2017 15h46

Fale em Denílson, e o que vem imediatamente à cabeça são as imagens de jogadas ousadas, como o famoso episódio em que foi perseguido por cinco jogadores turcos em uma partida da Copa do Mundo de 2002.

Quatro anos antes, porém, o jogador fez fama ao protagonizar uma inesperada transferência para o exterior. Tanto pelo destino - o modesto Real Bétis, da Espanha (uma equipe de que muitos brasileiros nem sequer tinham ouvido falar) - quanto pelo fato de que os US$ 32 milhões pagos ao São Paulo marcaram a então mais cara transação da história do futebol.

Na época, o dinheiro ajudou o São Paulo até a reformar o estádio do Morumbi.

Atualmente, esse valor não só foi ultrapassado com folga - basta lembrar que Neymar acaba de sair do Barcelona para o Paris Saint-Germain por mais de R$ 800 milhões - como nem sequer aparece na lista das cem maiores transferências de todos os tempos.

Mas as memórias do que Denílson chama de "turbilhão" permanecem frescas.

"Até porque a mídia não me deixa esquecer", brinca o ex-jogador, em entrevista por telefone à BBC Brasil.

"Todas as vezes em que o recorde é quebrado alguém me procura. Não tenho problemas para falar sobre isso, até porque tenho muito orgulho de ter sido um vencedor na vida. Aprendi muito com tudo e me arrependo de muito pouca coisa. E é bom que lembrem da gente."

Nascido em São Bernardo, no ABC paulista, Denílson tinha 20 anos quando foi negociado pelo São Paulo, na esteira do sucesso que fez com suas participações pela seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998.

"Eu era muito jovem, e a repercussão da transferência foi gigantesca. Cheguei à Espanha como o jogador mais caro do mundo e uma responsabilidade enorme. A cobrança só aumentou por causa do preço que o Bétis pagou por mim, e isso atrapalhou muito. As pessoas queriam que eu simplesmente fizesse tudo em campo", lembra.

Revés

Em menos de dois anos, Denílson estava de volta ao Brasil, emprestado ao Flamengo, em meio a uma crise pessoal: descobriu que o empresário que intermediara sua ida para a Espanha desviara o dinheiro a que tinha direito pela venda milionária, da qual ele diz não ter recebido um tostão.

"Fui enganado, mas até isso foi importante na minha vida. Fez com que eu aprendesse a gerenciar melhor minha vida. E passei a dar muito mais valor às coisas". 

Ficou apenas seis meses no Brasil antes de retornar a Sevilha e jogar pelo Bétis até 2005, quando foi negociado com o Bordeaux, da França. Nesse período, fez parte da seleção brasileira campeã mundial de 2002, ainda que na condição de "super-reserva".

Passou apenas uma temporada em Bordeaux antes de iniciar uma peregrinação que envolveu Arábia Saudita, Estados Unidos e - muito, mas muito brevemente - o futebol do Vietnã, em 2009.

Ele jogou apenas 45 minutos antes de rescindir o contrato com o clube.

"Estava com um problema no joelho e só concordei porque o clube me prometeu condições para eu me preparar. Quando cheguei lá, não tinha nada. Mas joguei um tempo porque o presidente do clube pediu, já que tinha anunciado minha contratação", contou ele na época.

Os problemas no joelho e a falta de oportunidades resultaram em uma aposentadoria precoce, em 2010, quanto tinha apenas 32 anos. No mesmo ano, recebeu um convite para participar como comentarista da Copa do Mundo de 2010 pela Band, que evoluiu para o trabalho de apresentador de um dos programas de esportes da emissora, marcado pelo estilo despojado.

"É algo que não tinha planejado fazer. Minha ideia depois da aposentadoria era estudar administração esportiva, mas minha experiência como jogador funciona na comunicação. Tenho história para contar", brinca.

Ele não vê Neymar passando pelos mesmos problemas que teve, porque a ida do jogador para o Paris Saint-Germain ocorreu depois de quatro anos na Europa.

Mas Denílson vê desafios para o novo "recordista": "No Barcelona, ele tinha o Lionel Messi para dividir as atenções e a responsabilidade. No PSG, ele será a referência, a responsabilidade vai aumentar. As pessoas vão esperar um bocado dele".