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Sambo, a luta russa que forjou Vladimir Putin

Alexey Nikolsky
Imagem: Alexey Nikolsky

Da EFE

26/03/2017 06h00

Ao completar 11 anos, quando seus companheiros de classe começaram a superá-lo em altura e corpulência, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que sempre quis ser um líder em todos os sentidos, se matriculou em aulas de sambo, arte marcial inventada na Rússia e transformada em um esporte internacional.

"Quando todos éramos iguais fisicamente, ter personalidade era suficiente para impor autoridade. Mas depois, a partir do quinto grau, começamos a crescer e alguns ficaram mais altos, mais fortes. Ficou claro que com personalidade e falta de maneiras não bastava", lembrou Putin certa vez sobre os motivos que lhe levaram à luta.

Corria o ano de 1963 e seu treinador, um dos melhores da então União Soviética, não viu grande coisa no futuro presidente russo, mas, mais tarde, à luz de suas conquistas, primeiro no esporte e depois em sua vida profissional, teve que mudar de opinião.

"Quando chegou à equipe, no plano esportivo não se destacava em nada. Mas com o passar do tempo foi possível ver os primeiros resultados. Em combate era um leopardo que luta até o final", disse sobre Putin seu primeiro mestre, Anatoli Rajlin.

Embora não tenha demorado muito tempo em optar pelo judô, Putin nunca abandonou essa arte marcial russa chamada pelo acrônimo de Autodefesa sem Armas (SAMoborona Bez Oruzhiya, em russo).

"O sambo é um esporte que como seu próprio nome indica está destinado à defesa de si próprio, dos entes queridos e das pessoas que não podem se defender sozinhas", disse à Agência Efe Vasyl Shestakov, presidente da Federação Internacional de Sambo (FIAS, em sua sigla em inglês).

Cerca de 300 lutadores de 30 países competem neste fim de semana em Moscou na Copa do Mundo Memorial Anatoli Jarlampiev, única competição internacional de sambo em formato de copa que, além disso, presta homenagem ao fundador da disciplina.

Desde muito jovem, Jarlampiev se dedicou a compilar e sistematizar as melhores técnicas dos diferentes tipos de artes marciais praticadas no extenso território da URSS, mas esculpiu sua criação sobre a base do judô japonês e lhe acrescentou elementos de tradicionais lutas ocidentais.

"Na base do sambo estão vários tipos de luta, em primeiro lugar o judô, mas também artes marciais autóctones que eram praticadas em repúblicas soviéticas" como Azerbaijão, Uzbequistão e Geórgia, e também autonomias russas como Bashkiria e Buriatiya, detalhou Shestakov.

A nova arte marcial, reconhecida como esporte na URSS em 1938, tomou em seguida dois caminhos diferentes: um como modalidade de competição esportiva, com suas regras bem estabelecidas; e outro como técnica de combate corpo a corpo na qual as forças de elite russas foram instruídas desde então.

"No sambo de combate se permitem golpes e chaves que não estão aceitos na variante esportiva. Os 'sambistas' são instruídos em distintas técnicas segundo suas necessidades profissionais. No sambo militar se ensina a atacar; no policial se aprende a imobilizar os criminosos, enquanto as forças especiais desenvolvem suas próprias aptidões", explicou Shestakov.

A ponto de completar 80 anos de existência, o sambo alcançou reconhecimento internacional e é praticado em mais de 80 países de todo o mundo.

O sambo já conseguiu entrar nos programas dos Jogos Europeus e dos Jogos Mundiais Universitários (Universidas), mas, de acordo com seus praticantes, falta a cereja do bolo: que a arte marcial russa se transforme finalmente em esporte olímpico.