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Vinicius Jr. valoriza origem e é espelho para jovens, diz primeiro técnico

Pilar Olivares/Reuters
Imagem: Pilar Olivares/Reuters

28/05/2017 06h17

Entre ruas sem asfalto e emaranhados de cabos da rede elétrica, um pequeno campo de grama artificial na região metropolitana do Rio de Janeiro tornou-se o centro do mundo para dezenas de crianças e jovens que sonham seguir os passos de um ídolo local, Vinicius Junior, e um dia chegar ao Real Madrid.

Apenas 30 metros de comprimento e 20 metros de largura formam o oásis em que os pequenos jogadores treinam vislumbrando um dia ser o novo Neymar ou, agora, o novo Vinicius Junior, o jovem que trocará o Flamengo pelo Real em julho de 2019 por 45 milhões de euros.

Na cidade de São Gonçalo, a 30 quilômetros da capital fluminense, os meninos de uma escolinha do Flamengo são apaixonados pelo Barcelona e idolatram Neymar, mas desde a última terça muitos pensam em começar a torcer pelo eterno rival madrilenho.

Um cartaz da nova contratação do Real Madrid "vigia" o campo ao qual chegou com cinco anos, quando "já era um jogador diferente dos outros meninos", segundo o primeiro treinador de Vinicius Junior, Carlos Eduardo Abrantes Beraldini, o Cacau.

"O nível técnico dele sempre foi superior, por isso começamos a fazer com que treinasse com garotos maiores, para criar mais dificuldade. Com os da sua idade, ele não tinha dificuldade alguma", contou Cacau em entrevista à Agência Efe, na qual destacou que o agora badalado jogador não se deixou deslumbrar pelo sucesso.

"Vinicius continua sendo o menino que veio para cá com cinco anos", contou o treinador, sorrindo. "É um garoto genial, sempre nos recebe de braços abertos. Muitos alunos da escola já o têm como ídolo, pois sempre que vem aqui, assina autógrafos um a um, tira fotos, ri com os meninos e conversa com os pais. É um menino muito bom, muito tranquilo", completou.

Cacau lembrou que a promessa do Flamengo se diferenciava das outras crianças não apenas pelo talento, mas também pela paixão pelo futebol.

"A vida de Vinicius era a bola, enquanto o restante tinha outras distrações, como a pipa, e alguns inclusive deixavam de treinar. Ele não, nunca faltava, queria treinar a todo momento. Se deixassem, ele ficava aqui até a escola fechar, à noite", disse.

Quando foi selecionado pelo Flamengo, Vinicius Junior deixou de apenas caminhar 20 minutos até a escolinha e passou a ter de atravessar a ponte Rio-Niterói. O ponto de partida, porém, continuou a ser sua casa no bairro Porto do Rosa, onde agora a família tenta se manter isolada da imprensa e da badalação.

Os vizinhos, inclusive, têm instruções para despistar os jornalistas e, mesmo a 100 metros da casa do atleta, garantiram não conhecê-lo. "Não sei onde fica esse número aqui na rua", afirmou um dos moradores.

"É uma família humilde, de guerreiros, todos muito bons. São pessoas que se uniram nessa batalha para ajudar Vinicius a realizar seu sonho", descreveu Cacau.

"O começo foi duro, e os pais fizeram sacrifícios muito grandes. O pai foi trabalhar em São Paulo para manter a família, e a mãe o acompanhava durante uma hora e meia, até uma parte do caminho, e depois esperava quatro horas até que Vinicius voltasse do treino", acrescentou.

Cacau detalhou que o futuro jogador do Real teve de sair de casa aos 14 anos, quando decidiu ir morar com o tio na capital fluminense para ficar mais perto do local de treino e diminuir o percurso diário pela metade. Desde então, teve uma ascensão meteórica que o levou a ser o melhor jogador e artilheiro do último Sul-Americano SUb-17, em que liderou o Brasil rumo ao título.

Mas, segundo Cacau, Vinicius Junior mantém os pés no chão desde que entrou no Flamengo. "Depois de todos os campeonatos que disputava e ganhava um troféu, vinha aqui e trazia o troféu, e continua fazendo isso. Sempre que conquista um título, nos visita", relatou.

"Chegou do Sul-Americano sub-17 em uma segunda-feira, e na quarta já estava aqui com a medalha, o troféu de melhor jogador e uma camisa da seleção para nos dar de presente", lembrou o treinador, apontando para a camisa emoldurada e assinada pelo atacante.

A respeito do futuro no Real, Cacau sabe que será "a etapa mais difícil", mas se atreve a apostar que seu antigo pupilo conseguirá lutar para conquistar a Bola de Ouro.

"Ele é muito focado e vai ter em Cristiano Ronaldo um atleta profissional que vai ajudá-lo como exemplo. Se ele seguir esse exemplo, tudo vai dar certo", considerou o primeiro treinador de Vinicius, que encerrou a entrevista fazendo um misto de revelação com previsão.

"Seu primeiro ídolo foi Robinho e agora é Neymar. Mas acredito que passará a ser Cristiano Ronaldo", afirmou.