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Zé Roberto Guimarães relembra ouro histórico conquistado em Barcelona

13/07/2017 13h49

Carlos Meneses Sánchez.

São Paulo, 13 jul (EFE).- José Roberto Guimarães, técnico campeão olímpico com a seleção masculina de vôlei, em 1992, admitiu, em entrevista à Agencia Efe, que ainda se emociona com as lembranças da então inédita medalha de ouro da modalidade.

"Barcelona foi uma coisa que é muito difícil de se contar em verso e prosa. Emocionalmente, mexeu com as nossas vidas, transformou nossas vidas", disse o atual comandante da equipe nacional feminina da modalidade.

Na conversa, Zé Roberto demonstra uma total clareza ao lembrar cada detalhe da histórica campanha, de um time que tinha ídolos como Marcelo Negrão, Maurício, Tande, Carlão, Paulão, Giovane, entre outros, que completa 25 anos em 2017.

O treinador campeão lembra que só assumiu a seleção seis meses antes dos Jogos Olímpicos, substituindo Bebeto de Freitas, o que aponta ter sido "uma surpresa muito grande", já que duvidava se conseguiria "realizar o trabalho".

Segundo Zé Roberto, ele sentiu "nitidamente" que o elenco não confiou nele durante os primeiros treinos e jogos, principalmente, devido aos 38 anos de idade, que tinha na época, situação que mudou em algumas semanas.

Após curto período de preparação na Alemanha, a delegação brasileira embarcou para a Espanha. Quando o avião se preparava para o pouco, o técnico admite ter sentido uma forte sensação.

"Não sei o que me deu. Comecei a me emocionar e comecei a chorar. Eu estava muito emocionado, porque era minha primeira Olimpíada como técnico, pela responsabilidade", revela Zé Roberto, que também conta ter ficado frustrado por não participar da Cerimônia de Abertura.

Dos quartos do alojamento, a comissão técnica e os jogadores viram a festa, já que no outro dia encarariam a estreia contra a Coreia do Sul, que acabou vencida por 3 sets a 0, com 15-13, 16-14 e 15-7, com um sistema de jogo diferente.

"Acabou o jogo e fui correndo abraçar minha mulher, que chorava muito. Ali, colocavam nos meus ombros a possibilidade de não nos classificarmos para a segunda fase. Era a minha preocupação", confessa.

Depois disso, vieram vitórias contra CEI (conjunto de países que compunham a extinta União Soviética), Holanda, Cuba e Argélia, sendo a única seleção invicta na fase de grupos.

Nas quartas, o Brasil passou pelo Japão por 3 sets a 0, se classificando para enfrentar, segundo Zé Roberto, "a equipe mais difícil do torneio", a dos Estados Unidos, em meio a "rebelião dos carecas".

Como forma de protestar por um marcação de árbitro na derrota para os japoneses, logo na estreia, todos os jogadores americanos rasparam a cabeça. E, assim, acabaram derrotados de virada pelos comandados por Zé Roberto por 3 sets a 1, com 12-15, 15-8, 15-9 e 15-12.

Antes da final, contra a Holanda, o treinador pediu para os voluntários dos Jogos que dessem o vestiário utilizado pela seleção que havia vencido a disputa do terceiro lugar - os EUA, que bateram Cuba -, em busca de melhores "energias".

No duelo final, os holandeses resistiram bem no primeiro set, perdendo por 15-12, deixaram a intensidade cair no segundo, sucumbindo por 15-8, e foram atropelados no terceiro, por 15-5, deixando Zé Roberto quase fora de si.

"No último set, quando chegamos ao ponto 13, eu já não estava mais ali no banco. Estava imaginando, sonhando. Mas cada jogador que passava pelo saque tentava fazer o ponto para fechar e não fechava. E eu desesperado Até que Marcelo Negrão foi ao saque e fez o ponto final", relembra.

Na cerimônia de entrega de medalhas, Zé Roberto se enrolou na bandeira brasileira e diz que ficado observando o elenco, "muito jovem, apaixonado, extremamente versátil e com muita química".

Embora tenha voltando a arrebatar o ouro nos Jogos de Pequim, em 2008, e Londres, em 2012, com a seleção feminina, o paulista admite que aquele foi o maior da carreira.

"A bandeira sendo hasteada no lugar mais alto, e o hino nacional tocando. Essa é medalha mais importante que ganhei. Uma conquista inesquecível, que vai ficar para o resto das nossas vidas", afirmou.

Entre muitas lembranças e revelações, Zé Roberto ainda contou que faz o máximo para não voltar a Barcelona.

"Há um provérbio chinês que diz: nunca se deve voltar a um lugar em que você foi muito feliz", concluiu o treinador.