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Blatter diz se sentir traído por ex-companheiros e denuncia complô

13/08/2017 13h29

Genebra, 13 ago (EFE).- O ex-presidente da FIFA Joseph Blatter revelou em entrevista publicada neste domingo pelo jornal suíço "SonntagsBlick" se sentir traído pelos próprios ex-empregados e ex-companheiros na entidade e acredita que o escândalo de corrupção que culminou com o fim de sua carreira como dirigente foi armado.

Blatter deu essas declarações depois que a revista alemã "Spiegel" publicou na sua última edição que o principal advogado da Fifa Marco Villiger contratou o escritório americano Quinn Emanuel em dezembro de 2014 para que defendesse os interesses da instituição frente às autoridades dos Estados Unidos.

Nesse momento, ainda não se sabia que o Departamento de Justiça dos EUA ordenaria em maio de 2015 uma prisão em massa de funcionários da federação internacional por um grande caso de corrupção, mas o contrato levanta a suspeita de que alguns na organização já pressentiam que algo estava para acontecer.

Em janeiro, 142 dias antes das detenções no hotel Baur au Lac, em Zurique, o ex-chefe financeiro da Fifa Markus Kattner e o ex-secretário geral Jérôme Valcke assinaram o contrato, sem informar a Blatter. Por isso, o dirigente suíço considera ter havido um complô e se diz "profundamente consternado" pelo que, segundo ele, parece ter sido uma traição interna.

"São palavras duras, mas, sim, me sinto traído e enganado. Alguém se informa que na Fifa se sabia que algo ruim viria de parte dos EUA e não informou ao chefe. Vejo isso como um jogo que eles jogaram de maneira trapaceira e má", criticou Blatter ao jornal.

O ex-presidente da federação internacional explicou que não tinha conhecimento algum do que estava por vir, mas disse que agora tem documentos da América do Sul que provam que a justiça suíça já recebeu, em março de 2015, uma lista de pessoas do Departamento de Justiça que queria deter.

"Se eu tivesse sido informado do perigo que se nos cercava, poderíamos ter nos preparado, defendido melhor e fazer algo contra os casos de corrupção na América do Norte e na América do Sul", argumentou.

Ainda de acordo com ele, a então ministra da Justiça da Suíça, Simonetta Sommaruga, sabia da lista, mas não teria informado aos outros seis integrantes do Conselho Federal.

"Hoje sê que a Fifa foi advertida, somente eu não fui. Por isso, o comportamento dos meus empregados me parece ainda pior", reclamou Blatter, que admitiu que não teve bons olhos no momento de escolher os secretários gerais nem tampouco Villiger, que ainda trabalha na Fifa e foi o seu "homem de confiança".

"Ele (Villiger) aparentemente se aproveitou dessa confiança, já que é quem esteve por trás do contrato com os advogados e quem pode ter denunciado e proporcionado informações ao Ministério Público pelo pagamento de 2 milhões (de francos suíços) a Platini". Se foi assim, é uma enorme decepção", lamentou.

Os 2 milhões de francos suíços mencionados são o valor pago a Michel Platini em 2011 por serviços prestados entre 1999 e 2002, o que deu início a investigações contra os dois.

"Fui imprudente, mas jamais corrupto", garantiu o ex-presidente da Fifa, que reconheceu que recebeu 10 milhões de francos suíços em bônus por ter levado a Copa do Mundo para a África do Sul, mas destacou que declarou essa quantia devidamente e pagou os impostos correspondentes.